O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, reconheceu a necessidade de o país “aumentar maciçamente” o número de testes de diagnóstico à Covid-19, perante críticas de que a capacidade do Reino Unido é inferior à de outros países.
O que precisamos de fazer é aumentar maciçamente (…) os testes para que as pessoas possam saber se já tiveram ou não a doença, o chamado testes aos anticorpos, porque isso vai permitir que regressem ao trabalho confiantes de que não voltarão a ser infetadas ou ser contagiosas”, disse, num vídeo publicado na rede social Twitter na quarta-feira à noite.
Boris Johnson está em isolamento na residência oficial, em Downing Street, depois de ter sido diagnosticado com a Covid-19 na passada sexta-feira, mas continua a trabalhar e a conduzir o trabalho do governo no combate à pandemia.
Here's an update to bring you up to speed on some of the things that we are doing to protect our NHS.
We will beat coronavirus together by staying at home, protecting our NHS and saving lives. #StayHomeSaveLives pic.twitter.com/FOYfvzlQPC
— Boris Johnson #StayHomeSaveLives (@BorisJohnson) April 1, 2020
Nos últimos dias, têm aumentado de tom as críticas à falta de capacidade do governo para realizar mais testes, o que o governo atribuiu à falta de reagentes químicos e equipamento necessários. A maioria dos jornais dá esta quinta-feira destaque à questão na primeira página, com o The Guardian a referir que apenas 2 mil entre 500 mil funcionários do sistema nacional de saúde (NHS) foram testados.
Médicos, enfermeiros e paramédicos estão presos em quarentena porque eles, ou alguém na casa deles, tem sintomas”, lamenta o Daily Mail, que apelidou este problema de “escândalo dos testes”, enquanto o Daily Mirror faz manchete da “balbúrdia” e o The Times do “caos dos testes”.
Até o Daily Telegraph, onde Boris Johnson foi colunista e é normalmente favorável ao governo, resume a polémica com a manchete com “perguntas sem respostas” e acusa o governo de não explicar porque é que o Reino Unido não consegue fazer tantos testes como outros países, porque é que não faz mais testes a profissionais do NHS e quando é que o teste aos anticorpos vai estar pronto.
Embora o governo reivindique capacidade para cerca de 13 mil testes por dia, incluindo 3 mil para trabalhadores do NHS por dia, a diretora clínica da direção geral de saúde de Inglaterra, Yvonne Doyle, reconheceu na quarta-feira que só tinham sido feitos até agora 2 mil no total a profissionais de saúde.
Existem tentativas para acelerar o processo, incluindo a abertura de centros de teste exteriores em sítios como parques de estacionamento, onde podem ser recolhidas amostras sem os profissionais de saúde terem de sair do carro, mas o Daily Telegraph noticia hoje que não estão a ser rápidos o suficiente para responder à procura.
O governo é criticado por, em média, estar a fazer apenas cerca de 8 mil testes diários, enquanto a Alemanha faz 500 mil por semana. De acordo com a atualização diária do Ministério da Saúde britânico, até quarta-feira foram testadas 152.979 pessoas no Reino Unido, das quais 29.474 foram diagnosticadas com Covid-19, tendo 2.352 morrido.
A realidade é que o progresso nos testes tem sido mais lento do que as pessoas esperavam, e os trabalhadores da linha de frente sentem-se desprotegidos, apesar das promessas de ação imediata”, lamenta o The Guardian, em editorial.
As críticas terão forçado o governo a mudar de estratégia e a mobilizar laboratórios privados, em vez de centralizar o processo dos testes apenas em laboratórios do NHS.
Quero que a indústria e o governo se unam para criar uma capacidade de diagnóstico no Reino Unido que nunca foi vista anteriormente. Estou completamente aberto sobre como o podemos fazer, mas estou determinado a que isso aconteça”, prometeu, citado esta quinta-feira pelo Times.