A hipótese começou por ser discutida na América do Norte, com o presidente dos EUA, Donald Trump, a apontar para o período pascal como o momento em que pretendia “reabrir grandes partes do país” — isto é, recuar nas medidas de contenção e paralisação decretadas e retomar alguma normalidade em regiões menos afetadas pelo novo coronavírus. Agora, começa a discutir-se o mesmo entre países europeus que adotaram medidas de contenção para evitar a propagação da pandemia e que aparentam ter tido sucesso. Em dois desses países, Áustria e Dinamarca, algumas restrições serão levantadas já na próxima semana se a evolução da pandemia for a esperada.
A discussão tem-se intensificado nos últimos dias: quando é que as medidas de restrição começarão a ser atenuadas em países europeus? Em alguns territórios essa discussão está mais avançada, como é o caso de Itália, que prepara já medidas como uso de máscara generalizado e intensificação da assistência ao domicílio para um regresso possível, ainda tímido numa primeira fase, à vida diária.
Áustria e Dinamarca são porém os primeiros países europeus que decretaram uma paralisação generalizada dos serviços a anunciar uma data de primeira retoma à vida normal. São, também, dois países menos afetados pelo surto do que países como Portugal — no caso da Áustria a evolução recente é mais positiva, no caso da Dinamarca, que tem aproximadamente metade da população portuguesa, o número de infetados é inferior em quase um terço ao que se regista em solo nacional.
Áustria quer reabrir algumas lojas dia 14 e reabrir centros comerciais em maio
Na Áustria, onde há cerca de três semanas foi imposto o confinamento da população e encerramento de todos os serviços não essenciais e espaços como escolas, cafés, bares, restaurantes e salas de espetáculo, a retoma passará numa primeira fase pela abertura de algumas lojas consideradas “não essenciais”, que estão por ora ainda encerradas.
O plano foi anunciado esta segunda-feira e, de acordo com a agência Reuters, esta reabertura de serviços implicará novas medidas de compensação, como o alargamento da população a quem é exigida utilização de máscaras faciais na rua. Esta é uma medida de precaução que não só está também a ser preparada em Itália e até em territórios de Portugal como a Região Autónoma da Madeira, como foi adotada pelas autoridades chinesas aquando do alívio da obrigação de confinamento em Wuhan, o primeiro epicentro do surto.
O plano passa por haver uma “reabertura” de serviços feita “passo a passo”, explicou o chanceler austríaco Sebastian Kurz, em conferência de imprensa. Kurz defendeu que a Áustria foi mais lesta a tomar medidas de contenção do que outros países e está, por isso, mais preparada para aliviar já a curto prazo algumas das imposições decretadas para travar a propagação da pandemia. Além disso, o crescimento diário de casos confirmados de infeção cifra-se agora em valores de apenas um dígito e o número de pessoas hospitalizadas “estabilizou” nos últimos dias, segundo explicou o chanceler do país.
As alterações às medidas de contenção decretadas dependerão sempre da evolução da pandemia no país ao longo desta semana. Porém, se esta evolução for a estimada pelas autoridades austríacas, lojas com “menos de 400 metros quadrados” e algumas lojas específicas de equipamentos tecnológicos e hardware deverão abrir na terça-feira da próxima semana, a 14 de abril. Nestas lojas e nos transportes públicos, será obrigatória a utilização de máscaras faciais. A estimativa das autoridades austríacas passa por voltar a abrir “todas as lojas, centros comerciais e cabeleireiros do país” já no dia um de maio, aponta ainda a Reuters. Isto, claro, se a desaceleração e posterior inflexão do número de casos de infeção confirmada no país vierem mesmo a verificar-se.
A Áustria tem atualmente 12.293 casos de infeção confirmada com SARS-CoV-2, o novo vírus que pode provocar a doença Covid-19. Apesar do número de confirmado de infeções ser semelhante ao português (que tem 11.730 casos oficialmente contabilizados), nas últimas 24h o aumento de casos na Áustria foi quase metade do registado em Portugal (242, face a 452 em Portugal), que por sua vez até teve o melhor dia de desaceleração percentual do crescimento diário do surto desde que a pandemia se intensificou.
Dinamarca começa pelas creches e aulas até ao 5º ano
Reabrir ou não as escolas é uma discussão muito atual em vários países europeus nesta fase — até em Portugal, onde as autoridades avaliam agora a possibilidade de retomar a atividade letiva. Na Dinamarca, porém, planeia-se já a reabertura de creches e o regresso das aulas do primeiro ao quinto ano de escolaridade já para a próxima semana, na quarta-feira, 15 de abril.
A agenda para a retoma das atividades curriculares foi avançada pela primeira-ministra do país, Mette Frederiksen, e está também dependente, é claro, da evolução da pandemia na Dinamarca. Todas as outras medidas de contenção decretadas vão manter-se até pelo menos 10 de maio e a proibição de “grandes ajuntamentos” será válida pelo menos até agosto, de acordo com o jornal britânico The Guardian.
Na Dinamarca, as fronteiras estão neste momento encerradas e estão proibidos os ajuntamentos de mais de dez pessoas. A retoma das aulas para as crianças mais novas foi anunciada na mesma conferência de imprensa em que Mette Frederiksen anunciou que este ano só existirão exames de avaliação em escolas públicas para alunos que estejam a completar etapas letivas (por exemplo, licenciaturas).
O semanário dinamarquês The Copenhagen Post dá mais alguns detalhes sobre os anúncio de esta segunda-feira da primeira-ministra do país. Mette Frederiksen terá recomendado ainda quer aos trabalhadores do setor público quer aos trabalhadores do setor privado que não prestam serviços essenciais para continuarem em teletrabalho e apelou a todos para continuarem a seguir recomendações como lavar as mãos e manter o distanciamento social. Para já, também não há ainda um plano delineado para a reabertura de centros comerciais, cinemas, museus ou ginásios na Dinamarca, por exemplo.
A Dinamarca regista atualmente 4.681 casos de infeção confirmada com o novo coronavírus — quase um terço do número de casos confirmados em Portugal, Brasil e Áustria e aproximadamente 5% do número de casos de infeção confirmada registados em países como a Alemanha e França.
Os planos para alívio de medidas de contenção é mais adiantado nestes dois países do que é, por exemplo, na Alemanha. A chanceler Angela Merkel afirmou esta segunda-feira que é “demasiado cedo” para pensar num calendário de levantamento de algumas das restrições decretadas, isto apesar de a agência Reuters ter divulgado no mesmo o esboço de um plano para o regresso a alguma normalidade a 19 de abril, elaborado pelo ministério do Interior do país.