Parece algo saído do enredo de um filme de ação, mas não: a Finlândia tem um conjunto de armazéns secretos, espalhados por todo o país, onde mantém acumulados e guardados todo o tipo de materiais médico-cirúrgicos como máscaras e medicamentos, uma reserva criada nos tempos da Guerra Fria com o objetivo de manter o país independente do mercado global em circunstâncias extremas — como esta causada pelo novo coronavírus.
O jornal finlandês Helsingin Sanomat conseguiu “convencer” o Centro Nacional de Abastecimento de Emergência (NESA, em inglês) a levantar um pouco o véu sobre este posto de armazenagem [têm fotos esclusivas no seu site] que foi inaugurado a propósito do combate contra a Covid-19, iniciativa que PäiviSillanaukee, diretora-geral do Ministério de Assuntos Sociais e Saúde da Finlândia, descreveu como “histórica”. O objetivo? Garantir que nada falte aos mais de cinco milhões de habitantes do país, principalmente no que toca ao abastecimento de materiais de proteção.
Jyrki Hakola, o diretor deste NESA, explicou ao jornal que este sistema funciona numa colaboração público-privada e assim tem sido desde os tempos da Guerra Fria, altura em que o projeto começou a ser desenvolvido, por receio de uma eventual ofensiva russa. Desde então, enquanto países como a Suécia, por exemplo, foram abdicando deste tipo de projetos (o deles foi cancelado nos anos 90), a Finlândia manteve-se firme nesta prática que pretende dar resposta a qualquer tipo de desastre ou crise.
“A cada cinco ou seis anos o governo renova a decisão de manter o projeto e decide que tipo de artigos devem ser reforçados”, explica o diretor. Aquilo que pode ser encontrado nestes espaços varia entre vários tipos de combustível (“em quantidade suficiente para o consumo de cinco meses”) e de cereais (“têm de dar para o consumo de seis meses mas temos o suficiente para 12”). Também estão em stock vários tipos de material médico, incluindo ventiladores, esse mecanismo que nesta altura todas as nações procuram desesperadamente — este já foram distribuídos por vários hospitais finlandeses para fazer face à pandemia.
O grande objetivo em manter este tipo de artigos em armazenamento, explica Hakola, “é fazer-nos ganhar tempo”. Ou seja: “Quando o governo tem acesso rápido e fácil a vários tipos de materiais essenciais, isso liberta-o para dedicar mais tempo a lidar com outras situações igualmente importantes”, afirma.
Os artigos armazenados vêm de várias partes do mundo, do “mercado global”, como explica o responsável deste NESA. Na prática, de países tão distintos como a China, a Coreia do Sul e o Médio Oriente, por exemplo, mas também de nações europeias como a Polónia, a República Checa, França e até Estados Unidos. Só os cereais, por exemplo, é que são 100% “de produção doméstica”.
Não são revelados as localizações ou o número de armazéns por motivos de segurança nacional. Limitam-se a esclarecer que “existem vários” e “espalhados por toda a Finlândia”.