O ministro do Ambiente acredita que, depois da crise criada pela pandemia do novo coronavírus, o arrendamento de longa duração vai emergir nos centros históricos das cidades portuguesas. Em entrevista ao jornal Público, Matos Fernandes defende que em Lisboa já há “alguma oferta de casas para arrendamento com preços que não têm nada que ver com o que era há dois ou três meses”. Para além disso, sublinha que há um conjunto de valores que emergem da maneira como a sociedade está a reagir à crise que podem permitir avançar com projetos diferenciados. “Vimos que o teletrabalho é possível”, argumenta.

“Uma outra questão que vai ser relevantíssima é que os investimentos que virão a ser feitos ou que foram feitos na reabilitação do património imobiliário vão tender a transformar-se em valores mais seguros e mais perenes. O mercado de arrendamento de longa duração vai mesmo emergir no centro das cidades e com isso vamos ter centros históricos muito mais vivos e menos deslocações”, sublinha o ministro.

Por outro lado, acredita que a pandemia fez emergir um conjunto de valores “que são muito importantes”, dando como exemplo “a importância do silêncio e a melhoria da qualidade do ar das cidades — afinal essas coisas são possíveis”.

Falando sobre o documento criado pelo seu ministério, organizado em torno de dez objetivos, Matos Fernandes assume que algumas das ideias não serão novas, mas sublinha que o que muda é o compromisso: “Dos projetos que aparecem na nossa lista final, a maior parte deles são novos do ponto de vista da perspetiva do compromisso, para não dizer que são quase todos novos. Não há um tostão investido destes dois mil milhões de euros de que ali se fala. Tudo isso é novidade.”

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Alguns exemplos apontados como novos projetos são o de multiplicar por cinco a reabilitação das ribeiras, assumir o compromisso de fazer a proteção do litoral frente ao Furadouro, em Ovar, a antecipação da construção da Linha Vermelha do metro em Lisboa e a possibilidade de a nova linha de metro para Vila Nova de Gaia, com uma nova ponte sobre o Douro.

Sobre o novo aeroporto, diz que não lhe cabe repensar o projeto. “Confesso que num cenário Portela+1 não consigo imaginar melhor localização do que o Montijo. Não há nenhum aeroporto que provoque menos impactos do que um aeroporto que já existe.”

Sobre energia, Matos Fernandes lembra que o atual preço baixo do petróleo é “a razão por que esperávamos para acelerar o phasing out dos benefícios fiscais” associados aos combustíveis fósseis.

“A prova de que também do ponto de vista institucional a sociedade está a mudar, tive-a quando li o senhor presidente da ACAP [Associação do Comércio Automóvel de Portugal] a defender que são fundamentais os subsídios aos veículos elétricos”, diz o ministro.

Por outro lado, fala em avançar com uma estratégia nacional para o hidrogénio, que se junta à estratégia para o lítio. “Esta crise sublinha a relevância da digitalização e da electrificação na sociedade e na economia. E não existe a digitalização nem a capacidade de electrificar a mobilidade sem haver lítio.”

Matos Fernandes sublinha que a sociedade percebeu o risco de depender de produtos e matérias-primas que vêm de muito longe e que, por isso, é fundamental “explorar recursos geológicos que são portugueses” para desenvolver a indústria 4.0. “Não quero dizer com isto que acho que os movimentos locais que se opõem vão mudar de opinião por causa disso. Agora, quero acreditar que a sociedade entenderá, independentemente de simpatia, cada vez menos esses movimentos locais”, conclui o ministro do Ambiente.