Se há ideia que tem sido repetida vezes sem conta desde o início da pandemia é a de que pouco ou nada sabemos sobre este novo tipo de coronavírus que parou o mundo. Pouco a pouco, dia a dia, foram surgindo pistas sobre a forma como surgiu, a forma como se propagou, a forma como se descontrolou e a forma como nos atinge. Mas os especialistas continuam a insistir na premissa de que nada, ou muito pouco, pode ser levado como dado adquirido – e desde o início da crise já foram publicados mais de 2.500 estudos sobre a doença.

Ainda assim, a larga maioria de cientistas tem concordado nas características de uma espécie de “paciente perfeito”, ou seja, nos traços mais comuns entre os infetados com a Covid-19 em todo o mundo. Se a taxa de mortalidade é especialmente alta nas faixas etárias mais velhas, acima dos 70 anos, a verdade é que a taxa de infeção tem maior preponderância na população ativa, ou seja, entre os 30 e 0s 60 anos. De uma forma geral, os homens têm maior probabilidade de serem contagiados e de atingirem um plano clínico grave – um dado que tem exceção em Portugal, onde as mulheres representam 59% dos casos positivos e já morreram mais mulheres do que homens, ainda que por uma ligeira diferença (395 para 390).

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Mas existem mais características que podem conduzir a um agravamento da doença. Um deles, por exemplo, é a obesidade. Segundo um estudo publicado esta semana pela revista norte-americana Clinical Infectious Diseases, as pessoas obesas com menos de 60 anos têm o dobro da probabilidade de necessitarem de hospitalização e até de cuidados intensivos do que aqueles com um peso considerado normal. “Não temos ainda muitos dados no que diz respeito à infeção por Covid-19 mas temos sobre outra infeção semelhante, a gripe H1N1, que mostram que a obesidade aumenta o risco de hospitalização e de ventilação mecânica”, explica Francisco Tinahones, presidente da Sociedade Espanhola para o Estudo da Obesidade, ao El Mundo. O estudo, que teve em conta 3.615 norte-americanos infetados com o novo coronavírus, concluiu ainda que o risco aumenta conforme aumentam também os quilos a mais: ou seja, uma pessoa com obesidade mórbida está ainda sob maior risco.

Ora, o excesso de peso pode provocar alguma insuficiência respiratória, que leva à diminuição do volume pulmonar. Além disso, a obesidade também motiva uma inflamação generalizada do organismo, algo que, aliado à infeção viral, pode criar um contexto perfeito para o aparecimento de complicações acrescidas. Ao El Mundo, Francisco Tinahones explicou ainda que a diabetes e a hipertensão também têm sido fatores comuns entre casos positivos de coronavírus.

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A verdade é que também os fumadores estão mais suscetíveis a um eventual agravamento da doença. A Organização Mundial de Saúde já alertou para este fator, assim como as autoridades sanitárias de diversos países. “A nicotina produz, entre outros danos, efeitos pró-inflamatórios a nível vascular”, disse Vicente Pallarés, coordenador do grupo de trabalho sobre Hipertensão Arterial e Doença Cardiovascular da Sociedade Espanhola de Médicos de Atenção Primária, ao El Mundo. Fumar multiplica então o risco de complicações associadas e despoletadas pela Covid-19, já que a nicotina “se traduz em danos generalizados nos vasos sanguíneos, lesões nos pulmões e nas vias respiratórias e uma diminuição da resposta do sistema imunitário”. O mesmo médico também alerta para o perigo do consumo excessivo de álcool, que também tem efeitos nocivos no organismo e dificulta a resposta do corpo à infeção.

Por fim, e como já tinha sido adiantado quase desde o início da pandemia, a asma alérgica e os problemas respiratórios mais comuns também podem dificultar a recuperação depois de uma infeção por coronavírus. “O processo inflamatório de que já sofrem pode agravar-se com uma maior inflamação provocada pelo vírus. Para evitar complicação, é necessário que os pacientes cumpram com a medicação e contactem os médicos se não estiverem estáveis ou se acreditarem que o tratamento não está bem ajustado”, indica Antonio Valero, presidente da Sociedade Espanhola de Alergologia e Imunologia Clínica.