Numa fase em que as autoridades de vários países estão a estudar como será possível reerguer o negócio dos restaurantes enquanto uma vacina ainda não aparece nas cartas, um estudo chinês que será publicado pela revista norte-americana Emerging Infectious Diseases (que faz parte do respeitado Center for Disease Control dos EUA) dá algum contexto sobre como é possível um grupo de clientes ficar infetado por causa de um caso assintomático que com eles partilhava a sala de refeições.

O estudo em questão analisa um caso específico, que aconteceu em janeiro, num restaurante em Guangzhou, na China. Em causa está o almoço em que um comensal infetado — mas assintomático — alegadamente foi responsável por infetar nove pessoas, isto numa sala onde estavam outros 73 clientes que escaparam ilesos, assim como oito empregados que também não ficaram Covid-19 positivos (90 pessoas, no total). Ora, o estudo prevê que todas as pessoas que foram infetadas estavam ou sentadas em mesas próximas do mesmo ou em linha com o sistema de ventilação artificial que morava neste espaço sem janelas.

O foco infeccioso estava dentro dos próprios mecanismos do ar condicionado? Nada disso: as amostras recolhidas deram negativo. O que os especialistas que fizeram este estudo afirmam é que o fator chave para a infeção foi “a direção do fluxo de ar”, conta o El País. “As maiores gotículas libertadas pela respiração do infetado permanecem no ar por muito pouco tempo e, por isso, viajaram pouco também, menos de um metro”, dizem.

O modelo criado pelos investigadores chineses que replica o cenário no restaurante de Guangzhou. D.R.

Como é visível no gráfico que faz parte do estudo, a distância entre o paciente A1 (o assintomático) e as pessoas das outras mesas era de mais de um metro. Acredita-se que um forte fluxo de ar poderá ter propagado as gotículas infetadas mais pequenas, que foram libertadas natural e inconscientemente. Por terem um tamanho mais modesto podem permanecer no ar mais tempo e percorrer distâncias maiores em forma de aerossol. Os que escaparam sem infeção simplesmente estavam mais longe.

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Ou seja, olhando para a posição do  ar condicionado da sala que fica na parede da direita, percebe-se que a família B pode ter sido infetada pelo normal fluxo do ar que “soprava” no sentido este-oeste, arrastando com ele o vírus do infetado na mesa A. As infeções (poucas) na mesa C, a que tinha o ar condicionado em cima de si, podem ter acontecido porque o ar prorinha daquele lado, infetava tudo na sua direção mas batia na parede e voltava para trás. Pelo menos é esta a hipótese que os investigadores estão a estudar, diz também o The New York Times.

Estas são apenas algumas hipóteses que estão a ser estudadas neste trabalho. “A análise serve para entender qual é o desafio que os restaurantes terão de enfrentam a partir de agora”, dizem os investigadores ao jornal norte-americano. “Para reabrir terão que ter em consideração este tipo de estudo. Os sistemas de ventilação podem criar fluxos de ar complexos e manter as partículas de infeção em formato aerosol por mais tempo. Ou seja, a distância mínima de dois metros pode não ser suficiente”, defendem.

Dentro das alternativas que existem para garantir uma reabertura segura, dizem, há o controlo da temperatura dos clientes, por exemplo, o aumentar da distância entre as mesas e o melhorar dos sistemas de ventilação.