Uma “total ausência de orientação estratégica”, com um reflexo direto na rentabilidade do negócio, conduziram “ao pior resultado” da história do sociedade que gere o Hospital da Cruz Vermelha com um prejuízo próximo de quatro milhões de euros em 2019.

O alerta é feito pela Parpública, sociedade do Estado que detém 45% da sociedade gestora do hospital, a CVP-SGH, mas que não o controlo da gestão que está a cargo da sócia maioritária, a Cruz Vermelha. No relatório e contas do ano passado, a Parpública afirma que se verificou em 2019 “uma expressiva degradação das condições operacionais com reflexo direto na rentabilidade do negócio”. E acrescenta que este quadro foi “agravado por uma total ausência de orientação estratégica que, apesar das insistências da Parpública, acionista minoritária, a administração do hospital não foi capaz de de ultrapassar”.

Isto não obstante destacar aspetos positivos, como a entrada em funcionamento do Hear Center, um centro especializado em doenças cardiovasculares, que implicou um investimento significativo, e uma “ligeira recuperação das dívidas de clientes, quer nacionais, quer internacionais, como resultante de um claro esforço de programação, negociação e articulação coordenada por parte do representante da Parpública na administração”.

Ainda assim, o resultado, sublinha, é um “prejuízo próximo de quatro milhões de euros”, que é o pior resultado da sua história. E avisa que a continuidade da sociedade “exige com urgência o reforço das competências de gestão e de visão estratégica, podendo mesmo vir a ser promovida uma alteração da estrutura acionista da sociedade que permita mobilizar os recursos e as competências necessárias”.

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O Observador contactou a administração da Cruz Vermelha, presidida por Francisco George, que optou por não comentário o relatório da Parpública que desconhece. A Cruz Vermelha é uma entidade de direito privado e de utilidade pública administrativa que exerce a sua atividade com o apoio do Estado, sendo tutelada pelo Ministério da Defesa.

Já este ano, e no meio da crise sanitária, um grupo de mais de cem profissionais daquele hospital escreveram uma carta a várias entidades públicas na qual acusavam Francisco George, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) e presidente do Conselho de Administração não-executivo do Hospital da Cruz Vermelha (HCVP) de “estar a pôr em risco a sobrevivência clínica e económica” da unidade. Uma das decisões contestadas era a estratégia de mobilizar a unidade para o tratamento do Covid-19.

Trabalhadores do Hospital da Cruz Vermelha contra presidente Francisco George

O relatório anual da Parpública confirma ainda que foi dado início ao processo de avaliação da participação no capital social da CVP – Sociedade de Gestão Hospitalar, S.A. Foi identificado o potencial comprador, com o qual existem negociações, tendo sido pedida a autorização ao Ministério das Finanças para a venda. De acordo com notícias vindos a público, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa será esse investidor.