Primeiro, a saúde: vão já arrancar esta semana os ensaios clínicos para tratamentos de doentes de Covid-19 com plasma de pacientes recuperados. Depois, a política. Minutos antes do briefing diário sobre Covid-19, o Presidente da República deu uma entrevista à Rádio Montanha, da ilha do Pico, e não resistiu a ‘picar’ a DGS, dizendo que esperava uma comemoração do 1º de maio “mais simbólica e restritiva”. Na conferência de imprensa sobre o balanço da Covid-19, o secretário de Estado da Saúde, António Sales, disse que não lhe competia comentar as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, mas — em vez de dar a palavra a Graça Freitas — foi ele a responder ao Presidente: “É às autoridades de saúde que cabe a definição de regras sanitárias de acordo com aquilo que é a melhor evidência a cada momento“.
António Sales lembrou ainda que esse “momento” é também ele dinâmico, já que é “algo que vai evoluindo, algo que vai gradualmente e progressivamente sendo diferente. As realidades de hoje não eram as realidades de ontem.” E rematou, numa espécie de lembrança a Marcelo de que a realidade muda de dia para dia: “Cada vez que pestanejamos a nossa realidade muda.”
O secretário de estado falou ainda nos avanços na área da saúde, dizendo que começa este mês a transfusão de plasma convalescente em Portugal, que teve bons resultados noutros países. E passou a palavra a Maria Antónia Escoval, presidente do Conselho Diretivo do Instituto Português do Sangue e da Transplantação, para falar sobre o ensaio clínico a nível nacional da terapêutica com plasma que arranca esta semana.
Maria Antónia Escoval explicou que a terapêutica já foi usada na China “com eficácia” e lembrou que vários países europeus já estão a testar o tratamento, cuja “utilização é recomendada” pelas entidades internacionais de saúde pública.
O procedimento em Portugal foi desenvolvido pelo IPST e passará por uma seleção dos potenciais dadores entre os doentes recuperados, recolha e distribuição dos componentes através dos serviços de imunoterapia dos hospitais portugueses. Maria Antónia Escoval sublinhou que a dádiva de sangue em Portugal é “anónima, benévola e voluntária”.
Por isso, estará a partir de hoje disponível um link no site do IPST onde os doentes recuperados poderão inscrever-se para poderem dar sangue para estes testes clínicos. Foi também hoje nomeado um grupo de trabalho que envolve o IPST, a DGS, o INSA e o Infarmed, que vai definir os moldes de funcionamento do ensaio clínico.
Regras para visitas a lares vão ser conhecidas “muito rapidamente”. De Praias, DGS nem quer falar
António Sales diz que desde o dia 1 de março foram realizados 450 mil testes e que só no último dia de abril foram feitos 16.200 testes. Dando também dados provisórios dos primeiros dias de maio: “No sábado [2 de maio] foram realizados 10.400 testes, mas ainda faltam apurar três laboratórios, no domingo [3 de maio] 5.500, mas ainda faltam apurar 12 laboratórios; e no feriado [1 de maio] foram feitos 12.500 testes, mas falta ainda apurar dois laboratórios”.
Sobre quando as visitas a lares vão ser permitidas, Graça Freitas diz que não quer que as pessoas nos lares “se sintam isoladas ou abandonadas”, mas afirma também que é preciso “contenção” e “regras muito específicas” para as visitas de familiares, que serão analisadas pela saúde pública, mas vão ter também de ser “consensualizadas e discutidas” com o ministério do Trabalho e as entidades gestoras dos lares. Apesar de ainda não estarem definidas, Graça Freitas diz que as normas vão estar fechadas “muito rapidamente”.
Quanto às praias, Graça Freitas diz que não vai “adiantar nada” porque “não há nenhuma indicação na legislação”, o que “não quer dizer que do ponto de vista meramente técnico as questões não possam ser analisadas”.
Graça Freitas advertiu ainda para a diferença entre as máscaras e as viseiras: “A viseira não é um método que dispense utilização de uma máscara. Protege muito bem os olhos e o nariz, mas já não protege muito bem a boca, porque é aberta em baixo, de espirros”.
Questionada sobre as irregularidades detetadas no boletim de domingo, a diretora-geral da Saúde admite que “houve uma situação atípica no reporte, na notificação, e quando detetamos essas situações, nos dias subsequentes vamos afinando”. “O boletim de hoje reflete não só melhor a realidade à data de hoje como alguma dificuldade que houve na coleta dos dados durante o fim de semana. Neste momento o boletim é o mais próximo da realidade que é possível”, acrescentou Graça Freitas.