Algumas confissões religiosas minoritárias em Portugal estão a sentir-se discriminadas na forma como têm sido tratadas pelo Governo durante a pandemia da Covid-19 e, particularmente, no processo de decisão sobre a retoma das cerimónias religiosas após o confinamento, noticia esta sexta-feira o jornal Sete Margens.
O presidente da Comunidade Hindu de Portugal, Kirit Bachu, disse àquele jornal que a organização não recebeu “nenhum contacto do Estado por parte de ninguém, nem do primeiro-ministro nem de outra entidade“. A comunidade reúne cerca de 9 mil hindus em Portugal e tem no Templo Radha Krishna, em Lisboa, o principal centro de culto do país.
Mas, apesar de o Governo ter decidido que as cerimónias religiosas comunitárias podem ser retomadas a partir do último fim de semana de maio, a comunidade continua sem saber se pode ou não reabrir o templo, uma vez que não conseguiu ainda contactar com o Governo para saber que tipo de regras específicas terão de ser adotadas no templo. “Gostaríamos de ter sido contactados, tal como foram outras religiões“, disse Kirit Bachu ao Sete Margens.
Já o presidente da Aliança Evangélica Portuguesa, pastor António Calaim, confirma que a federação que reúne centenas de igrejas evangélicas em Portugal continua “à espera” de um contacto — e há mesmo quem, dentro da organização, “ache uma desconsideração” a AEP não ter sido ouvida sobre o regresso dos cultos religiosos.
No que toca aos evangélicos, um dos grupos minoritários mais significativos do país, existem mais de mil lugares de culto em Portugal, estimando-se que haja cerca de 200 mil evangélicos no país associados à AEP (que não inclui, por exemplo, a IURD, por considerar “que a sua doutrina e a sua prática não respeitam os valores e os princípios da Aliança Evangélica”).
O período de confinamento implementado ao abrigo do estado de emergência para conter a disseminação do coronavírus implicou a suspensão de todas as cerimónias religiosas comunitárias em Portugal, o que levou as várias comunidades religiosas a reinventarem-se e a passarem a transmitir as celebrações através da internet.
Agora, no processo de desconfinamento, o Governo apontou o último fim de semana de maio como data para o regresso das cerimónias religiosas. Porém, a maioria dos contactos têm sido feitos apenas com a Igreja Católica, confissão maioritária do país, com a qual se identificam perto de 80% dos portugueses. O primeiro-ministro chegou a ser recebido pelo cardeal-patriarca de Lisboa para uma discussão sobre o regresso das missas e a Igreja tem tido uma comunicação permanente com o Governo — com esse contacto a ser estabelecido entre o bispo auxiliar de Lisboa D. Américo Aguiar e o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, Tiago Antunes.
Porém, como escreve o Sete Margens, das três principais confissões minoritárias em Portugal (muçulmanos, evangélicos e hindus), apenas a Comunidade Islâmica de Lisboa foi ouvida pelo Governo. O presidente da CIL foi ouvido por António Costa por videoconferência no dia 24 de abril — conversa durante a qual foi abordado o problema dos muçulmanos portugueses que, pela primeira vez, vivem o Ramadão obrigados ao confinamento.
Outra organização que diz ainda não ter recebido nenhum contacto por parte do Governo é o Copic (Conselho Português de Igrejas Cristãs), que reúne as igrejas cristãs do protestantismo histórico (Metodista, Presbiteriana e Lusitana — da Comunhão Anglicana). O bispo anglicano D. Jorge Pina Cabral, que atualmente preside ao Copic, enviou uma carta ao primeiro-ministro a expressar a “urgência” em receber orientações por parte das autoridades de saúde relativamente à reabertura das igrejas. “Nem da DGS tivemos notícias, apesar de termos urgência em saber como fazer e ter orientações”, disse D. Jorge Pina Cabral ao Sete Margens.