Os dois portugueses que continuam retidos no navio Costa Atlântica, em Nagasaki, no Japão, decidiram começar uma greve de fome. Ambos infetados com a Covid-19, estão fechados no quarto há várias semanas sem qualquer informação sobre uma eventual data de regresso e sem acesso a um segundo teste que possa confirmar que já não são casos positivos. O navio ficou retido em Nagasaki depois de 148 tripulantes terem testado positivo para o novo coronavírus.

[Ouça aqui, na íntegra, as declarações de Paulo Almas à Rádio Observador]

O desespero dos portugueses no Japão: “22 dias sem limpeza no quarto, iniciámos hoje a greve de fome”

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Em declarações à Rádio Observador, Paulo Almas, um destes dois cidadãos portugueses, garantiu que as condições de higiene e alimentação têm vindo a piorar. “São 22 dias fechado num quarto sem que nunca ninguém tenha entrado aqui para limpar. Sem trocar lençóis da cama. O quarto está imundo. São 22 dias fechado, sem limpeza. Isto é tratar pessoas como animais”, atirou. Paulo Almas entrou no navio no dia 25 de fevereiro e está em isolamento desde 21 de abril, data em que testou positivo para a Covid-19, embora permaneça assintomático.

De recordar que, quando o caso foi conhecido pela primeira vez, o Ministério dos Negócios Estrangeiros garantiu que estava a acompanhar a situação mas remeteu a responsabilidade do repatriamento para as empresas que contrataram estes cidadãos portugueses. À Rádio Observador, Paulo Almas diz que se mantém em contacto com as autoridades portuguesas mas que o contacto é muito precário devido à escassa rede de internet. “Para eu ver qualquer coisa na internet demoro horas. O acesso à internet é muito complicado, falar com a família está a tornar-se muito complicado. O Governo português está a ser enganado pela empresa de cruzeiros. O Estado português está a fazer a parte dele, estão a fazer o que podem, estão a insistir com os responsáveis do navio e com o armador”, indica.

Má comida, sem higiene e sem saber quando voltam. O drama dos portugueses retidos num cruzeiro no Japão

Ao início, eram oito os cidadãos portugueses retidos no Costa Atlântica, mas os seis que não estavam infetados foram autorizados a deixar o navio e já voltaram a casa. Paulo Almas e o outro português com Covid-19 só poderão ser repatriados quando testarem negativo — mas ainda não tiveram acesso a um segundo teste. “Estamos a ser mantidos contra a nossa vontade. Estão a retirar-me o direito à minha liberdade. Não cometi crime nenhum, não fiz mal a ninguém, tenho o direito a ir embora. Mas tenho de fazer o teste primeiro”, conclui.