Marcelo Rebelo de Sousa afirmou este domingo que os portugueses “devem estar gratos” ao ministro das Finanças, Mário Centeno, pelo trabalho desenvolvido nos últimos anos: “Se me pergunta se os portugueses devem estar gratos pelo que tem feito ao longo dos anos, isso é evidente”.

O Presidente da República fez declarações aos jornalistas após uma visita ao mercado municipal da Ericeira, onde pediu aos portugueses para consumirem produtos nacionais.

À saída, regressou ao tema da falha de comunicação entre Mário Centeno e António Costa, em que o primeiro-ministro prometeu no Parlamento que o governo não daria ordem para a transferência de 850 milhões de euros ao Fundo de Resolução do Novo Banco. Mas, afinal, o ministro das Finanças já tinha aprovado a transferência.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, durante a visita ao mercado Municipal da Ericeira, na Ericeira, 17 de maio de 2020. RODRIGO ANTUNES/LUSA

Marcelo Rebelo de Sousa no mercado municipal da Ericeira. Créditos: RODRIGO ANTUNES/LUSA

Questionado sobre a possibilidade de Centeno passar para a governação do Banco de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que “não, isso não”, embora tenha notado: “Não me vou substituir ao primeiro-ministro. Ao governo o que é do governo, à Assembleia o que é da Assembleia e ao Presidente o que é do Presidente”.

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No entanto, o Presidente da República recordou o exemplo de dois ministros das Finanças que, após terem abandonado o governo, tornaram-se governadores do Banco de Portugal: Miguel Beleza, nos tempos de Cavaco Silva; e Pinto Barbosa, ainda em ditadura.

“Um no tempo da ditadura, o professor Pinto Barbosa, que foi um muito bom ministro das Finanças e depois foi muito bom governador do Banco de Portugal logo a seguir, outro no tempo do governo do professor Cavaco Silva, o professor Miguel Beleza foi um dedicado ministro das Finanças, devotado ministro das Finanças, saiu e depois foi nomeado governador do Banco de Portugal e foi também um dedicado e devotado governador do Banco de Portugal”, referiu o Presidente da República.

“Aconteceu sem reparo nenhum quer num caso quer noutro, mas a decisão não é minha, é do senhor primeiro-ministro”, acrescentou, sem comentar especificamente a possibilidade de o atual ministro de Estado e das Finanças, Mário Centeno, suceder a Carlos Costa como governador do Banco de Portugal.

Sobre o Avante: “Vírus não muda de acordo com a natureza das iniciativas”

Marcelo Rebelo de Sousa também comentou o caso da Festa do Avante, que o PCP insiste em celebrar apesar de todos os festivais até 30 de setembro terem sido cancelados ou adiados. O Presidente da República notou que “o vírus não muda de acordo com a natureza das iniciativas”. E qualquer avaliação das autoridades sanitária “é válida para toda a gente”.

As celebrações do Dia do Trabalhador na Alameda em Lisboa. Créditos: RUI CAVACO/OBSERVADOR

Sobre o argumento de que a Festa do Avante, enquanto evento político, está equiparado ao Dia da Liberdade, o Dia do Trabalhador ou o Dia de Portugal, Marcelo diz que as circunstâncias são incomparáveis: “Acho que são coisas diferentes: o 1º de Maio, o 25 de abril e o 10 de junho são celebrações nacionais”.

Para o Presidente, era “óbvio” que essas datas “deviam ser celebrados simbolicamente”: “O 10 de junho será celebrado simbolicamente e o 1º de Maio, no meu pensamento, seria uma celebração simbólica”. “Sobre as organizações da sociedade civil”, prossegue Marcelo, “trata-se de as autoridades sanitárias em função da situação dizerem o que se deve fazer”.

A este propósito, o Presidente da República deu um exemplo de caráter pessoal:

“Eu por exemplo, gostaria muito de em setembro ir à festa do Viso, que é uma festa tradicional em Celorico de Basto e que reúne milhares de pessoas. Pois, tem de se esperar para ver”.

Marcelo coloca campanha presidencial “em décimo lugar” na lista de preocupações

Sobre a hipótese de se recandidatar à Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa colocou a campanha para as eleições presidenciais de 2021 “em décimo lugar” na lista de preocupações dos portugueses, ainda sem dar como certa a sua recandidatura.

Questionado se se imagina a fazer campanha de máscara e sem poder contactar de perto com as pessoas, Marcelo Rebelo de Sousa começou por observar:

“Primeiro, eu não sei ainda se serei candidato, decidirei oportunamente. Em segundo lugar, eu já tive há quatro anos uma campanha muito original, porque não tinha comícios”, recordou, referindo que “achava então que uma campanha com comícios era uma campanha do sistema, de um candidato do sistema”, continuou.

No seu entender, “é evidente” que na campanha para as presidenciais de 2021 haverá “uma parte de distanciamento social” devido à Covid-19, até porque pode haver “um novo surto no outono/inverno”, e nesse caso “a campanha tem de ser como são campanhas lá fora, naturalmente reservadas”.

“Mas eu entendo que os portugueses neste momento têm grandes preocupações, e a última preocupação é saber como é que é a campanha eleitoral”, acrescentou, considerando que isso está “assim em décimo lugar” na lista de preocupações.

Marcelo Rebelo de Sousa realçou que “antes disso ainda haverá eleições regionais nos Açores, só depois presidenciais e muito mais tarde autárquicas”. “Portanto, as campanhas são aquilo que for possível serem. Como é natural, há prioridades, há coisas mais importantes na vida dos portugueses do que propriamente estar a pensar em campanhas daqui a oito meses”, reforçou.

O Presidente da República com o primeiro-ministro na Auto-Europa. Créditos: JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

As declarações de Marelo Rebelo de Sousa surgem depois de, na quarta-feira, durante uma visita à Autoeuropa, o primeiro-ministro ter dito esperar regressar àquela fábrica com o atual Presidente da República já num segundo mandato, contando, portanto, com a sua recandidatura e reeleição.

“Nós vamos ultrapassar esta pandemia e os efeitos económicos e sociais este ano, no ano que vem, nos anos próximos. E eu cá estarei, e cá estaremos todos, porque isto é um espírito de equipa que se formou e que nada vai quebrar. Cá estaremos este ano e nos próximos anos a construir um Portugal melhor”, afirmou, em seguida, Marcelo Rebelo de Sousa.

Marcelo intensifica saídas à rua mas evita “coisas a mais” com Costa

Ainda na mesma visita ao mercado da Ericeira, mas num passeio na Praia dos Pescadores, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que vai intensificar as saídas à rua para incentivar o consumo, mas evitando “coisas a mais com o primeiro-ministro”, para que não se pense em “complôs políticos”.

“Amanhã [segunda-feira] irei visitar museus, depois irei almoçar fora ou jantar fora a restaurantes diferentes, tascas. O primeiro-ministro vai almoçar com o presidente da Assembleia da República”, anunciou Marcelo Rebelo de Sousa, observando: “Decidimos assim, se não às tantas diziam que eram coisas a mais com o primeiro-ministro, começavam a encontrar logo complôs políticos”.

O Presidente da República adiantou que estará, no entanto, com o primeiro-ministro “numa iniciativa diferente no fim da semana”. Reforçando o apelo feito no sábado por António Costa aos portugueses para que voltem a sair mais frequentemente à rua, embora com cautelas, o chefe de Estado considerou que é tempo de “fazer a abertura, com cuidado, pequenos passos, e ir perdendo o medo, ir aparecendo e consumindo” e que se deve procurar “consumir o que é português”.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, durante a visita ao mercado Municipal da Ericeira, na Ericeira, 17 de maio de 2020. RODRIGO ANTUNES/LUSA

Marcelo Rebelo de Sousa na peixaria do mercado. Créditos: JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

“A nossa restauração merece, a nossa hotelaria merece, e temos de, no verão, finais de junho, julho, agosto, fazer reviver o nosso turismo, enquanto não vêm de fora, com turismo interno, porque é uma peça fundamental da nossa economia”, defendeu, propondo “uma grande campanha de turismo interno”.

Quanto à sua agenda mais intensa de saídas à rua nos próximos dias, acrescentou:

“Irei depois com o senhor primeiro-ministro numa visita a uma área muito significativa do país. E depois continuarei nas próximas semanas aos poucos, com pequenos passos como eu sempre defendi, para os portugueses se sentirem mais à vontade – seguros, mas à vontade, sem correrem riscos desnecessários, mas começando tanto quanto possível a normalizar a vida social”.