Pode o novo coronavírus, causador da doença Covid-19, desaparecer antes de haver vacina ou um medicamento eficaz, como sugeriu Karol Sikora, diretor médico dos Centros para o Cancro de Rutherford e antigo chefe do programa de oncologia da Organização Mundial de Saúde? O melhor é não contar com isso, apontou este domingo a Diretora Geral da Saúde, Graça Freitas, em mais uma das conferências diárias de monitorização da Covid-19:
É apenas uma teoria. O que sabemos é que habitualmente quando um novo vírus entra em circulação… costumamos dizer que é como se fosse inaugurada uma nova dinastia: entra para ficar, torna-se um vírus endémico, da natureza, como todas as outras centenas e milhares de vírus que circulam entre seres humanos”, lembrou a Diretora Geral da Saúde.
A hipótese levantada por Karol Sikora é tão improvável que “só tivemos uma vez, que se saiba, o desaparecimento de um vírus da circulação no nosso planeta”. Essa ocasião foi na longínqua década de 1980 e só se verificou “porque se utilizou maciçamente e à escala planetária a vacina contra a varíola”, lembrou Graça Freitas. “Neste momento o melhor é estarmos preparados para que se venha a tornar um vírus habitual nas nossas vidas“, acrescentou.
Com “o passar do tempo”, se o vírus “não sofrer mutações importantes”, é expectável que os efeitos do novo coronavírus venham a ser mitigados, dado que nesse caso, “exista vacina ou não”, os seres humanos “vão ganhando imunidade” — e à medida que ganham imunidade, “o vírus torna-se menos agressivo e menos capaz de nos fazer mal e originar uma doença grave”, apontou a Diretora Geral da Saúde. Em suma: “Se tivermos vacina, melhor. Se não tivermos, vamos ter de conviver com o vírus até haver imunidade natural”.
Máscaras deficientes “não foram distribuídas”. Pagamento foi bloqueado
Outro dos temas abordados na conferência de imprensa diária de DGS e ministério da Saúde deste domingo foi a compra de máscaras com certificado falso ou inválido pela Direção Geral da Saúde à empresa Quilaban, de João Cordeiro, antigo presidente da Associação Nacional de Farmácias.
A notícia foi avançada este domingo pelo jornal Público e sobre o assunto o secretário geral da Saúde, António Lacerda Sales, garantiu que “essas máscaras não foram distribuídas e o pagamento não será efetuado enquanto não houver um cabal esclarecimento da situação”.
Governo garante que máscaras com certificado falso não são distribuídas até tudo estar esclarecido
Também discutidas foram os temas das normas a seguir por grávidas: Graça Freitas indicou que vai sair um documento com recomendações nas próximas 24 a 48 horas. “Há muitas nuances que precisaram de consenso entre profissionais de saúde”, explicou.
Já questionada sobre a obrigatoriedade de testagem ter existido para profissionais de lares e creches mas não para profissionais de escolas secundárias que retomam aulas presenciais de 11º e 12º anos, a Diretora Geral da Saúde explicou que a seleção esteve relacionada com a vulnerabilidade e riscos de exposição e contágio. “As crianças muito pequenas não têm capacidade de adotar medidas preventivas e não conseguem criar, pela sua idade, nenhum tipo de proteção”, justificou Graça Freitas. Já em relação aos lares, deveu-se ao risco elevado de funcionários poderem transmitir o vírus em locais onde está um grande número de idosos confinados.
A Diretora Geral da Saúde quis porém vincar que quem foi testado e teve um resultado negativo tem de ter cuidados escrupulosos, dado que “os testes negativos não significam rigorosamente nada” se não que a pessoa não estava infetada no momento em que foi submetida a teste. “Quem é testado faz apenas uma fotografia no momento” mas não está livre de apanhar a infeção depois de ser testada, recordou Graça Freitas.
Boletim DGS. Todas as mortes nas últimas 24h foram no norte ou Lisboa
Portugal já fez 636 mil testes. Dia com mais testes foi a última quinta-feira
Logo no preâmbulo da conferência de imprensa, o secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales revelou alguns números. Um deles foi o de testes: em Portugal já foram feitos “cerca de 636 mil testes de diagnóstico à Covid-19”, o que equivale a quase 62 mil testes por cada milhão de habitantes.
Este valor faz com que Portugal seja, de acordo com cálculos feitos pelo Observador a partir de valores disponíveis ao início da tarde deste domingo, um dos 20 países que mais testes fez por milhão de habitantes. Mas não só: torna Portugal o quinto país com mais de dois milhões de habitantes a ultrapassar os 60 mil testes de diagnóstico por cada milhão de residentes, depois de Emirados Árabes Unidos, Lituânia, Dinamarca e Espanha. Os dados podem ser conferidos no portal agregador de números oficiais Worldometer.
O secretário de Estado da saúde avançou ainda um outro dado, relativo ao dia em que se realizaram mais testes em Portugal. Esse dia “é agora” o dia 14 de maio, isto é, a última quinta-feira.
O secretário de Estado da saúde quis ainda “clarificar” declarações que tinha proferido anteriormente: “Afirmei que sempre que uma pessoa testou positivo à Covid-19 numa instituição do SNS todos os contactos próximos foram testados e monitorizados pelas equipas de saúde. Estas afirmações não terão sido bem compreendidas.”, começou por dizer.
A orientação da DGS tem sido estritamente cumprida pelas instituições de saúde. É uma orientação que distingue contactos próximos com alto risco de exposição de contactos próximo com baixo risco de exposição. A estes últimos recomenda-se vigilância passiva e que continuem a trabalhar. Aos restantes, recomenda-se isolamento profilático sob vigilância ativa, havendo sempre teste em caso de desenvolvimento de sintomas. Estas orientações das autoridades de saúde são cumpridas”, garantiu.
Verão? “O evoluir da pandemia não se compadece com estações”
Relativamente à época balnear, que começa a 6 de junho, o secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales apontou: “Confiamos no bom senso e nas boas práticas dos portugueses. O evoluir da pandemia não se compadece com as estações do ano. Só temos razões para continuar a acreditar naquilo que tem sido a consciência social dos portugueses. É importante que nesta época balnear os portugueses possam retomar esta nova normalidade com o bom senso e boas práticas inerentes à segurança — e de acordo com as diretrizes da DGS”.
Já sobre as atividades desportivas que serão possíveis ou interditas nas praias, dentro e fora da água, a Diretora Geral da Saúde apontou: “Num sítio ou noutro, o que impera é a distância física. Quando se está a praticar desporto, o esforço que é requerido muitas vezes não é compatível com utilização de um método de barreira como uma máscara. Portanto, o que impera mesmo dentro de água é obviamente a distância física”.
Isto são aprendizagens novas, mecanismos que temos todos de reproduzir e temos de pensar em estar a uma distância segura dos outros. Se não pudermos utilizar um método de proteção barreira, que é um complemento ao distanciamento físico, não fiquemos com a falsa sensação de segurança”, referiu ainda Graça Freitas
A Diretora Geral da Saúde rematou ainda, a concluir: “O bom senso terá de ser observado em terra, no areal, no relvado, na rua, na água. O que interessa é manter o hábito de nos distanciarmos fisicamente, pelo menos no contacto frontal — a face de uma pessoa com a da outra. O contacto lateral envolve menos riscos”.