Os burundeses estão esta quarta-feira votar para escolherem o novo Presidente, no meio da pandemia de Covid-19 e no final de uma campanha muito disputada que suscitou receios de uma nova onda de violência após os resultados.
Esta eleição marca o fim da era de Pierre Nkurunziza, que está à frente do país desde 2005 e que não se candidata à reeleição.
A sua candidatura a um controverso terceiro mandato em 2015 mergulhou este país da África Oriental numa grave crise política que resultou em pelo menos 1.200 mortos e obrigou 400.000 burundeses a fugir do país.
Disputam as eleições presidenciais o candidato do partido governamental CNDD-FDD, Évariste Ndayishimiye, 52 anos, contra o líder da oposição e presidente do Conselho Nacional para a Liberdade (CNL), Agathon Rwasa, 56 anos.
A maioria das votações realiza-se à porta fechada. O governo rejeitou qualquer missão de observação da ONU ou da União Africana (UA) e o acesso às redes sociais mais populares (WhatsApp, Twitter, Facebook) foi bloqueado, exceto através da utilização de uma rede privada virtual (VPN).
“Estou feliz por ter podido votar hoje no candidato da minha escolha, mesmo temendo o que está a acontecer desde que as redes sociais foram cortadas”, disse Patrice, um professor de 30 anos em Ngozi (Norte).
Após 15 anos de governo Nkurunziza, prosseguiu, “chegou o momento de mudar. Ele fez coisas boas e más”.” Hoje, desejo a vitória do NLC e do seu candidato porque o país precisa de sangue novo”, acrescentou.
Por seu lado, Gertrude, uma militante de 40 anos do partido no poder, que votou na escola Nyabihanga, na província central de Mwaro, explicou a sua escolha: “Acabo de votar no Samuragwa (“o herdeiro”) para que perpetue o legado do nosso Presidente Pierre Nkurunziza”.
Estas eleições gerais estão a decorrer apesar da pandemia de Covid-19, uma vez que o Burundi, ao contrário de alguns dos seus vizinhos, não impôs o confinamento dos seus cerca de 11 milhões de habitantes.
A febre eleitoral levou a que milhares de pessoas se reunissem sem quaisquer medidas de distanciamento social. Mas o governo garantiu que o país estava protegido pela “graça divina”.
O Burundi regista oficialmente 42 casos, com apenas uma morte, mas é acusado por médicos locais de minimizar a gravidade da situação.
Na semana passada, a equipa da Organização Mundial da Saúde (OMS) que se encontrava a aconselhar o país sobre a pandemia foi expulsa do país.
A campanha foi marcada pela violência e por detenções arbitrárias.
Évariste Ndayishimiye, apresentado como o “herdeiro” de Pierre Nkurunziza, é um general do seraglio, um antigo combatente como o seu mentor na rebelião hutu do CNDD-FDD, que lutou contra o exército, dominado pela minoria tutsi, durante a guerra civil do Burundi, que decorreu entre 1993-2006 e causou 300.000 mortos.
Agathon Rwasa é membro do mais antigo movimento rebelde do país (Palipehutu-FNL), um dos dois principais grupos rebeldes durante a guerra civil. Aos olhos dos hutus, que representam 85% da população, Agathon Rwasa tem tanta legitimidade para concorrer à presidência como o seu rival CNDD-FDD.
“O povo não vai deixar que a sua vitória seja roubada”, advertiu Rwasa. O partido no poder, uma verdadeira máquina de guerra eleitoral com recursos significativos, deixou claro que não tem outra intenção que não seja a de ganhar.
O futuro Presidente, eleito para um mandato de sete anos, tomará posse em agosto, no final do mandato de Pierre Nkurunziza, que foi elevado à categoria de “Líder Supremo do Patriotismo” em fevereiro pela Assembleia Nacional e que continuará a ser o presidente do influente Conselho de Anciãos do partido.