A Polícia de Segurança Pública (PSP) vai levar a cabo várias operações de fiscalização no regresso da I Liga de futebol, marcada para esta quarta-feira, dia 3, em que o jogo em maior destaque é o Famalicão-FC Porto (às 21h15). O objetivo é controlar os adeptos e evitar que se aglomerem junto a estádios e em cafés — especialmente na zona de Lisboa, onde está agora o grande foco da infeção de coronavírus —, disse ao Observador fonte oficial desta força de segurança.

A Direção-Geral da Saúde (DGS) e o Ministério da Saúde nunca admitiram que recorrer à polícia era uma hipótese para evitar ajuntamento de adeptos. Isto apesar de por duas vezes em conferências de imprensa, ter sido colocada a questão sobre o que estavam as autoridades de saúde a fazer para se evitarem estas possíveis aglomerações de pessoas em cafés e restaurantes — especialmente porque os jogos que faltam para completar o campeonato se disputam à porta fechada (em estádios vazios) e serão transmitidos em sinal codificado, ou sejam, pago (todos na Sport TV, à exceção daqueles em que o Benfica joga em casa, que passam no canal do clube, a BTV). A resposta foi sempre a de apelar à “responsabilidade individual”. Mas, ao que o Observador apurou, esta operação policial está a ser, há algumas semanas, articulada entre as forças de segurança, a Liga, a Federação Portuguesa de Futebol e a própria DGS, devido às preocupações que naturalmente gera.

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Há mais de dois meses sem futebol e com tudo ainda por decidir no campeonato (faltam dez jornadas e o FC Porto segue na frente com apenas mais um ponto que o Benfica), é natural o enorme interesse pela competição e pela nova forma como esta terá naturalmente de se disputar devido à pandemia. Com cafés e restaurantes já abertos, a maioria com Sport TV disponível (um atrativo desde sempre), estes serão locais naturais de concentração de adeptos, onde será difícil para os proprietários manter o distanciamento social obrigatório e evitar as emoções do jogo — além de cumprir a limitação dos espaços. Estes espaços serão por isso um dos focos de atenção das autoridades.

Junto aos estádios, a preocupação parece estar sobretudo nas claques, que sempre acompanharam as deslocações das suas equipas. Como vai acontecer já quarta-feira com o FC Porto: os Super Dragões prometeram 200 a 300 adeptos fora do estádio de Famalicão a apoiar os portistas, mas sempre a “cumprir as regras”, segundo o seu líder.

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Na manhã de quarta-feira, dia de (re)arranque do campeonato, a PSP vai fazer uma conferência de imprensa para apresentar exatamente o plano de reforço policial para os últimos 90 jogos das últimas 10 jornadas — e que começa com o encontro entre Portimonense e Gil Vicente às 19h00.

Fonte oficial da PSP disse ao Observador que vão “acompanhar as dinâmicas sociais e perceber se se estão a verificar ajuntamentos ou outras situações de risco que, à luz da lei, tenham de ser evitadas”. “Nessas situações, atuaremos preferencialmente de forma pedagógica, como tem sido a nossa postura desde o início da crise pandémica”, adiantou a mesma fonte.

A Liga ainda tentou, através do seu presidente, Pedro Proença, que os jogos fossem transmitidos em sinal aberto (em alguns países, os governos acabaram por apoiar essa medida), mas foi acusado de avançar sem falar com os clubes, que vivem do dinheiro dos direitos televisivos, e de contribuir para agravar a crise que se vive no setor. Ao ponto de neste momento ver o seu lugar em risco: há uma Assembleia Geral convocada que discutirá o futuro e a liderança da instituição.

Ajuntamentos limitados. 20 pessoas fora de Lisboa, 10 na capital

O chefe da Divisão de Policiamento e Ordem Pública da PSP, Pedro Grilo, já tinha dito à agência Lusa que estas operações seriam “muito mais do que o policiamento desportivo” — que é habitualmente feito noutras circunstâncias. O objetivo será controlar acessos e os habituais locais de concentração dos grupos organizados e “não permitir que haja ajuntamentos no perímetro exterior do recinto”. Reconhecendo que “não será possível ter um polícia à porta de cada café”, o responsável lembrou que os estabelecimentos comerciais mantêm regras de lotação e distanciamento social e que não são permitidos ajuntamentos com mais de 20 pessoas  — na Área Metropolitana de Lisboa o limite é de 10 pessoas.

Na conferência de imprensa de sábado, a ministra da Saúde reconheceu que o facto de as competições irem ser transmitidas em sinal fechado “levará a que as pessoas tenham tendência para se juntar a ver os jogos em determinados locais” e pediu que tal seja feito “em condições distintas daquelas que normalmente enquadravam essas junções de pessoas”. Mas em momento algum referiu que estava em cima da mesa uma operação policial reforçada, mesmo apesar de ter sido questionado sobre se iriam haver medidas especiais.

Tenho a convicção de que, quer os proprietários, quer os indivíduos terão capacidade suficiente para serem vigilantes relativamente aos seus comportamentos”, disse Marta Temido no sábado.

Esta segunda-feira, o tema voltou a ser falado na conferência de imprensa diária. Graça Freitas apelou à “responsabilidade individual” e pediu: “Assistiam, comemorem, mas com regras”.

O reforço policial torna-se cada vais mais imperativo, especialmente depois dos recentes incidentes entre adeptos do Benfica e do Sporting, na região de Lisboa. Duas rixas entre claques num espaço de uma semana colocaram as autoridades em alerta.

Já esta segunda-feira, foi Fernando Madureira, líder dos Super Dragões, a principal claque do FC Porto, quem revelou, à SIC Notícias, a intenção de apoiar a equipa na quarta-feira à noite no estádio municipal de Famalicão, neste regresso do futebol (o jogo começa às 21h15). “A ideia é irem 200 a 300 adeptos, mas espalhados e com regras de distanciamento, não pôr em causa a saúde de ninguém”, disse.

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O líder garantiu também que falou com os responsáveis do clube e com a PSP para lhes explicar e prometer que “todas as normas impostas pela DGS” serão cumpridas enquanto apoiam o clube durante os 90 minutos do jogo. A ideia, segundo explicou Madureira, é “apoiar de fora para dentro”, já que o público está interdito nos estádios, acompanhando o jogo “através de rádios ou telemóvel” no exterior do recinto com gritos de apoio.

Uma cena que, seguramente, se repetirá com as restantes claques dos grandes clubes e que poderá ser problemática quando houver jogos entre clubes rivais.