O nome de Jack Grealish ecoou pela primeira vez em Portugal há mais de um ano, quando o jogador inglês foi agredido por um adepto do Birmingham durante um jogo. Meses depois, no final da temporada, voltou a falar-se do médio de 24 anos enquanto líder do conto de fadas do Aston Villa, que depois de três épocas longe da Premier League conseguiu voltar ao principal escalão do futebol inglês. Com o passar das semanas, surgiu como eventual reforço do Manchester United e teve o nome associado a uma provável convocatória à seleção inglesa. Tudo o que tinha chegado a Portugal sobre Grealish tinha sido, portanto, positivo. Até ao passado mês de março.
Um ano depois de ter estado no lado certo da história, quando um adepto do Birmingham entrou no relvado para lhe dar um soco nas costas, o médio inglês estragou a pintura. No final de março, com o mundo, a Europa e o Reino Unido já a braços com a pandemia de Covid-19, surgiu na internet uma fotografia de Jack Grealish — desgrenhado e descalço –, junto ao próprio Range Rover, com o qual momentos antes tinha colidido com vários carros que estavam estacionados. Nessa noite, tinha quebrado o dever de confinamento para marcar presença numa festa em casa de um amigo. 24 horas antes, nas redes sociais, tinha pedido aos seguidores que ficassem em casa e não saíssem para evitar a propagação do vírus.
Jack Grealish foi agredido por adepto no relvado, continuou em campo e decidiu dérbi de Birmingham
Pediu desculpa quase de imediato, garantindo que não ia “esconder-se por detrás de um comunicado do clube”, e tentou compensar a situação com uma doação de 150 mil libras para o Hospital Pediátrico de Birmingham — que já tinha apoiado anteriormente — e outra de 55 mil libras para o Serviço Nacional de Saúde britânico. Esta terça-feira, em entrevista ao The Guardian, recorda o episódio e lembra que é “humano” e comete “erros”. “Também sei que sou um exemplo para muitas pessoas, especialmente para crianças, que talvez olhem para mim como um modelo (…) Toda a gente sabe que quando faço alguma coisa, é a parte má que vai sair cá para fora. É com isso que tenho de lidar. Respeito a minha profissão, amo o que faço e não o mudaria por nada deste mundo”, explica o jogador.
No Aston Villa, que vai ter de lutar para não descer novamente ao Championship durante o que falta da temporada, o regresso aos treinos foi ensombrado pela morte do pai do treinador, Dean Smith. Ron Smith, adepto do clube, morreu vítima do novo coronavírus, anos depois de ser diagnosticado com demência. Ao jornal inglês, Jack Grealish conta que todos ficaram “devastados” no Aston Villa e que os jogadores têm tentado ajudar o técnico nesta fase difícil.
“Costumava perguntar-lhe todos os dias como é que o pai estava. Quando aconteceu, foi devastador para ele e para a família. Enquanto jogadores, temos tentado estar lá para ele, ajudá-lo. Uma das coisas boas do futebol é que quanto temos um problema fora de campo, quando chegamos ao treino ou a um jogo, deixamos de pensar em tudo o resto. É isso que me acontece. É isso que temos tentado fazer para o treinador. Tenho a certeza de que agora todos queremos ainda mais evitar a despromoção, para a família Smith”, garante o capitão do Aston Villa.
A relação entre jogador e treinador, porém, já era forte antes da morte de Ron Smith. Ambos adeptos do Aston Villa desde crianças, Jack Grealish e Dean Smith têm formado uma dupla vencedora em Inglaterra desde que o técnico chegou ao clube e o médio garante que este tem tido “uma influência massiva” na forma como joga. “Não podia dar-lhe o crédito suficiente. Olho para ele como uma figura paternal, posso ir ter com ele e falar sobre tudo. E sinto que ao contrário é igual, ele pode perguntar-me sobre como me sinto no treino, nos jogos. Para mim, sinto que posso falar com ele sobre qualquer coisa, de dentro ou fora de campo. Desde que chegou que tem sido brilhante. Tenho jogado o melhor futebol da minha carreira desde que ele chegou”, diz Grealish.
É preciso esperar para saber se o Aston Villa consegue ficar na Premier League, é preciso esperar para saber se Jack Grealish fica ou vai reforçar outro clube, é preciso esperar para saber se o médio inglês é convocado pela primeira vez para a seleção inglesa. Certo é que todos os jogos que os villains vão fazer até ao final da temporada serão em memória e pela memória de Ron Smith, o pai do treinador.