Rui Rio e Marcelo Rebelo de Sousa almoçaram pela segunda vez em menos de duas semanas, mas, desta vez, a sós, e a sobremesa foram as Presidenciais. O almoço decorreu esta sexta-feira no restaurante Vela Latina, junto ao Tejo, e foi omitido da agenda oficial de ambos, mas tornado público logo a seguir, com foto e declarações à imprensa. O encontro, sabe o Observador, já tinha sido apalavrado em Ovar, no aeródromo que tem o curioso nome de “manobra número um”. Agora, em Lisboa, deu-se a manobra número dois para materializar um objetivo comum: afastar a imagem de que Marcelo Rebelo de Sousa é o candidato de António Costa e do PS. O presidente do PSD transmitiu a Marcelo o que tem vindo a repetir: que ainda falta ouvir os órgãos, mas que o mais provável é o partido dar o apoio ao seu antigo líder e militante suspenso. Marcelo relembrou que precisava de tempo e que só decidia após convocar as regionais dos Açores.

A conversa de Ovar já tinha corrido muito bem entre ambos, em que falaram do passado, do futuro e do PSD. É preciso não esquecer que — embora nem sempre tenham tido a melhor das relações — Rui Rio foi secretário-geral do PSD quando Marcelo foi presidente do partido. No entanto, a conversa era mais alargada e estava muita gente presente na mesa. O presidente do PSD e o Presidente da República ficaram então de marcar um encontro para depois. Ficou para esta sexta-feira. A conversa entre ambos, sabe o Observador, voltou a “correr bem”.

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O presidente do PSD tinha dito de manhã, em declarações à TSF, que no dia a seguir a Marcelo apresentar a candidatura a Belém, o PSD tomaria posição e que o “mais provável” era apoiar o antigo líder. Marcelo fez saber a Rio que tem um timing e que agora ainda não é tempo de decidir sobre uma candidatura em Belém. A bitola de Marcelo são as eleições regionais dos Açores que ocorrem entre 28 de setembro e 28 de outubro de 2020. A candidatura de Marcelo em 2016 só surgiu em outubro do ano anterior, sendo agora provável que a decisão ou a apresentação da recandidatura só seja apresentada em outubro ou novembro. Rio compreendeu a decisão e não terá problemas em esperar pelo tempo de Marcelo.

Ainda assim, foi importante para ambos que se soubesse que houve um almoço conjunto. Enquanto não desfaz de vez o tabu, para Marcelo é importante ir consolidando a imagem do provável candidato que agrega os apoios ao centro; Rui Rio também ganha com o Presidente ao seu lado, a puxar pelo líder da oposição num período particularmente difícil, dado o atual contexto.

Aliás, se as presidenciais foram a sobremesa do almoço, o prato forte foram as medidas do PSD para a área economica, formalizadas num documento liderado pelo “Centeno de Rio”, Joaquim Miranda Sarmento. O líder social-democrata foi explicativo e Marcelo gostou do que ouviu. Já após o almoço, Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou mais uma vez para “felicitar o líder da oposição e o PSD pelo plano que apresentou para o país, porque, num momento em que nós ainda estamos a discutir um plano de estabilização até ao fim do ano, o PSD avançou com um plano a médio prazo”. É mais um elogio dos vários que Marcelo Rebelo de Sousa tem feito a Rui Rio nas últimas semanas.

Fê-lo ainda antes do encontro de Ovar, quando foi almoçar fora pela primeira vez após o confinamento, à Valenciana: “Há que lhe dar [ao líder parlamentar] uma palavra também, de agradecimento e de elogio, por saber colocar o interesse nacional acima do interesse partidário“. Dias depois, no primeiro almoço, Marcelo Rebelo de Sousa destacou o comportamento “exemplar” do líder da oposição.

Da mesma forma que se afastou de António Costa e chegou a desmarcar um almoço no restaurante Alfaia — para evitar leituras políticas de excessiva aproximação entre ambos — foi feita uma aproximação a Rui Rio. Tudo isto começou com uma movimentação de António Costa, que numa visita à Autoeuropa desejou estar naquele espaço dali a um ano já com um reeleito Presidente Marcelo. Nos dias seguintes, António Costa não retirou esta espécie de pré-apoio a Marcelo e houve figuras do PS a dar gás à proposta, como foi o caso de Augusto Santos Silva.

Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser colocado por vários comentadores e pela direita que o critica como uma espécie de candidato do PS. Para evitar a perceção pública de que é (apenas) o candidato dos socialistas e que o PSD poderia ter de ir a reboque, tanto o Presidente como o líder do PSD promoveram essa aproximação. Rui Rio até puxou a si os galões de ter no mais algo cargo da nação um militante do partido que lidera. Na mesma entrevista desta sexta-feira à TSF sacou, no sentido figurado, do cartão de militante de Marcelo e disse que até era “honroso” para o PSD que o seu “maior adversário”, o PS, apoie um militante social-democrata.

Rio diz que apoio do PS a Marcelo é “honroso para o PSD” e antecipa apoio “provável” do partido ao ex-líder

O almoço entre Rio e Marcelo é assim uma “win-win situation” para ambos. Rio consegue colocar Marcelo como o candidato que é antes de tudo do PSD (“militante quase fundador”, como lembrou) e Marcelo consegue descolar-se da imagem de candidato do PS que lhe podia fazer perder alguma da sua base de apoio na direita e centro-direita. O Observador não conseguiu apurar quem pagou a conta, mas ambos saíram do almoço satisfeitos com a refeição.