Maio não é um mês qualquer para o calendário de moda. É a altura do ano em que as principais casas europeias fazem as malas e rumam a paragens longínquas (umas mais do que outras) para apresentarem as suas coleções resort, tirando partido de paisagens paradisíacas ou de ricos cenários culturais que apelem, tal como as próprias criações, à descoberta e à evasão. Mas este ano, o mês de todas as viagens ficou suspenso.
Ainda em março, a agenda das grandes marcas de luxo alterava-se por completo. A Gucci desmarcava a sua viagem para São Francisco, na Costa Oeste dos Estados Unidos. A Christian Dior adiou indefinidamente a sua escapadinha para Itália. A Prada preparava-se para desfilar pela primeira vez no Japão e Giorgio Armani tinha passagem marcada para o Dubai.
Tudo ficou sem efeito, até os planos que a Chanel tinha para desfilar à beira do Mediterrâneo, na ilha italiana de Capri. Em vez disso, levou as manequins, stylists, cabeleireiros e maquilhadores para um estúdio em Paris. O resultado foi conhecido esta segunda-feira, quando a histórica maison deu a conhecer a sua collection croisière numa apresentação virtual.
Virginie Viard trabalhou na coleção durante o mês de maio, numa altura em que França e a Europa começavam a aliviar gradualmente as apertadas regras de confinamento. Na altura de fotografar e filmar o primeiro desfile de uma nova era, os cuidados continuaram a ser redobrados e o resultado final é uma clara consequência das muitas limitações. “Usámos máscara o dia todo e também protegemos os olhos. Nos ateliers, as mulheres sentaram-se longe umas das outras, apenas uma para cada mesa. Tentámos manter as manequins como se estivessem em casa e produzimos uma coleção realmente pequena”, explicou à Vogue a diretora criativa da Chanel.
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O plano de meter dezenas de pessoas num avião e de mostrar a coleção num postal de sonho, que chegou a estar marcado para o dia 7 de maio deixou, rapidamente, de ser uma hipótese. Algumas peças da coleção cruise anterior foram atualizadas e incluídas nas novas propostas. “Afinal, quando vamos de férias levamos a roupa que sabemos que adoramos, não é?”, salientou Viard.
O conforto e a leveza marcam a uma coleção que deixou de lado as exuberâncias de outrora. Sem vestidos de festa, foram os cardigans, as malhas, os blazers e as gangas, com um pouco de crochet à mistura, a vestir uma das não estações do calendário anual da moda. A coleção chega às lojas em novembro, segundo já anunciou a marca. O vídeo é assinado por Julien Pujol, a produção fotográfica por Karim Sadli.
Além da Chanel, nenhum dos outros gigantes avançou com um novo formato para os há muito adiados (ou mesmo cancelados) desfiles. A apresentação virtual da Chanel será um modelo a seguir, mas também a aperfeiçoar, pelas marcas e designers que em menos de um mês estarão a apresentar as suas coleções de moda masculina e, em seguida, de alta-costura. Com nomes fortes da indústria a renunciarem a um ritmo sazonal frenético — caso da Gucci e da Saint Laurent — a certeza quanto ao futuro da moda é só uma: o presente é de mudança e, no final, será que tudo vai voltar a ser como era antes?