O arcebispo de Cantuária, Justin Welby, a mais alta figura na hierarquia da Comunhão Anglicana, admitiu esta sexta-feira que é preciso rever a forma como, no Ocidente, a pessoa de Jesus Cristo é retratada como um homem branco.
Numa entrevista à BBC Radio 4 a propósito do movimento Black Lives Matter e dos protestos anti-racismo motivados pela morte do cidadão afro-americano George Floyd, o arcebispo defendeu ainda que a Igreja de Inglaterra analise todas as estátuas que tem nas suas igrejas — admitindo que algumas poderão ter de ser removidas.
Como uma nota falsa de 20 dólares levou à morte de Floyd e deixou os Estados Unidos a ferro e fogo
De acordo com as declarações do arcebispo citadas pelos jornais ingleses, Justin Welby defendeu que o Ocidente deve repensar a ideia, já estabelecida, de que Jesus Cristo foi um homem branco.
“Esta ideia de que Deus era branco… Se formos a igrejas [por todo o mundo] não vemos um Jesus branco. Vemos um Jesus negro, um Jesus chinês, um Jesus do Médio Oriente — que, obviamente, seria o mais exato —, vemos um Jesus fijiano”, disse Welby.
“Jesus é retratado de tantas formas como as culturas, línguas e entendimentos que existem”, acrescentou o arcebispo, respondendo a perguntas sobre se “a forma como as igrejas ocidentais retratam Jesus deve ser repensada”.
Justin Welby acrescentou que a solução não passa por “atirar para o lixo tudo o que temos do passado”, mas reconhece a necessidade de as várias representações de Jesus Cristo servirem como “sinal da universalidade de Deus, que se tornou completamente humano”.
“Descoloniza”. Estátua de Padre António Vieira, em Lisboa, foi vandalizada
Questionado sobre o movimento anti-racismo que, recentemente, tem procurado a remoção do espaço público por todo o mundo de estátuas que evocam o passado colonial dos países ocidentais, o arcebispo de Cantuária disse entender o movimento e adiantou que a própria Igreja de Inglaterra vai olhar “com muito cuidado” para as estátuas que existem nos seus templos.
“Alguns nomes vão ter de mudar”, disse. “Basta ir à catedral de Cantuária, há monumentos por todo o lado, ou à abadia de Westminster. Estamos a olhar para tudo isso, e algumas vão ter de sair. Mas sim, pode haver perdão, espero e rezo para que nos unamos, mas só se houver justiça”, afirmou o arcebispo.
Questionado concretamente sobre a possibilidade de remoção de estátuas, Justin Welby não avançou nenhuma informação específica, mas admitiu que a questão pode ser levantada. “Vamos olhar com muito cuidado, vamos pô-las em contexto e ver se todas deveriam estar ali.”