O ministro das Finanças da Guiné-Bissau, João Fadiá, disse esta terça-feira que o impacto económico da pandemia provocada pelo novo coronavírus no país vai ser “muito negativo”, porque afetou fortemente a campanha de comercialização de castanha de caju.

O comércio esteve a funcionar dentro de um limite geográfico muito reduzido. Os mercados foram encerrados. Os transportes e circulação das pessoas entre as regiões foram suspensos. O comércio internacional (importação e exportação) foi fortemente reduzido. E, o mais grave aconteceu no setor da castanha de caju, principal produto de exportação do país”, disse João Fadiá, em entrevista à Lusa.

“Tudo isso que explica a revisão para baixo das nossas projeções de crescimento do PIB para 2020, mas na verdade ninguém sabe ainda, com alguma precisão, os efeitos que efetivamente esta situação terá sobre a economia”, afirmou.

Com previsões de crescimento económico de 4,5% do Produto Interno Bruto para 2020, antes do início da pandemia, o Fundo Monetário Internacional prevê, agora, uma contração de -1,9% para a Guiné-Bissau.

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Em relação à comercialização da castanha de caju, o ministro explicou que além das medidas para suster o novo coronavírus, atrasos a nível do governo e diminuição da procura internacional também contribuíram para uma campanha fraca.

O anúncio tardio pelo Governo do preço de referência ao produtor, bem como as condições de exportação (custos a suportar pelos exportadores), levou a que o preço praticado junto do produtor fosse muito baixo em relação as expetativas criadas antes da pandemia”, afirmou João Fadiá.

O preço da compra do quilograma de castanha de caju ao produtor ficou nos 250 francos cfa (cerca de 0,38 cêntimos de euro) contra o valor praticado em 2019 de 500 francos cfa (cerca de 0,76 cêntimos de euro).

“A baixa procura no mercado internacional da castanha bruta (Índia e Vietname), continuam a condicionar os operadores nacionais a comprarem a castanha ainda disponível junto dos produtores”, disse o ministro. Aquela situação verifica-se em toda a sub-região, que continua com estoques importantes por exportar.

“Finalmente, a chegada da época das chuvas, dificulta sobremaneira a evacuação do produto para Bissau, além de contribuir para a baixa da qualidade do mesmo, tendo em conta o grau de humidade que se verifica neste período”, salientou.

Mais de 80% da população guineense depende direta ou indiretamente da campanha de comercialização da castanha de caju, que representa também uma contribuição de 11% para a receita do Estado e 90% do total das exportações do país. “Esta situação tem e terá um impacto muito negativo na vida económica e das populações da Guiné-Bissau em 2020”, disse.

Para relançar a economia, o governo guineense apresentou recentemente um programa de desenvolvimento de urgência, orçado em cerca de 263 milhões de euros, que precisa de assistência dos parceiros internacionais.

“Estamos em crer que este programa é absolutamente necessário para inverter a tendência negativa atual da atividade económica. Mas, mais do que dar resposta aos efeitos conjunturais da crise sanitária do Covid-19, este programa tem um cunho reformista e pretende levar a cabo um conjunto de reformas na economia, para uma reorientação baseada na formalização e com um tecido empresarial mais forte, capaz de contribuir para aumentar a nossa produtividade e tornar a nossa economia mais forte e competitiva”, explicou o ministro.