Alertadas pela notícia publicada pelo Observador na passada semana, a dar conta dos preparativos para uma festa de sexo marcada para este sábado, 25 de julho, numa propriedade privada na zona da Comporta, as autoridades intervieram e, depois de “vários dias a reunir informação sobre o evento”, trataram de avisar os organizadores de que, tal como foi anunciada, a festa não pode acontecer, sob pena de violar a lei imposta pelo estado de alerta que impede a realização de eventos com mais de 20 pessoas, exceto se pertencerem ao mesmo agregado familiar.

“Em coordenação com a Autoridade de Saúde Local, foi promovido o contacto com a empresa Purilia, responsável pela organização do evento, alertando para as limitações que a legislação em vigor impõe, salientando que, a ocorrer da forma como tem sido veiculado nos órgãos de comunicação social, tal evento não poderá ocorrer”, disse ao Observador fonte oficial da GNR.

Ou seja, mesmo que todos os participantes tenham entretanto sido testados para a Covid-19 e tenham feito prova disso mesmo junto da organização — medida que Ricardo Champalimaud, fundador da Purilia, garantiu ter sido tomada para assegurar as condições de segurança sanitárias da festa —, nunca poderão estar mais de 20 pessoas juntas na mesma propriedade, para este evento inspirado no filme “Eyes Wide Shut”.

Problema: apesar das tentativas que empreenderam para entrar em contacto com o responsável da empresa, pelo menos até ao final da tarde desta sexta-feira, as autoridades de saúde não obtiveram qualquer resposta. “Em articulação com a GNR foram efetuadas várias tentativas de contacto com a empresa organizadora via e-mail a solicitar informação sem qualquer resposta. Foram enviados e-mails com aviso de receção e aviso de leitura sem sucesso”, disse ao Observador fonte do núcleo de Alcácer do Sal da Autoridade Regional de Saúde do Alentejo Litoral.

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Festa de sexo vai juntar mais de 40 pessoas na Comporta. “Só pode participar quem fizer teste à Covid”, diz organizador

Ao Observador, porém, a Purilia respondeu. Esta sexta-feira, questionado diretamente sobre se a festa deste sábado foi ou não cancelada, o organizador não fez qualquer referência a estas tentativas de contacto e deu a entender que, tal como as redes sociais da empresa indicam, o evento se mantém. Mas, se há uma semana revelou ao Observador que já havia 42 participantes inscritos para o “Comporta Private Cocktail | Moet & Chandon” e que esse número podia até aumentar — “Ainda temos processo de acreditação em aberto” —, esta sexta-feira Ricardo Champalimaud não quis contabilizar quantas pessoas vão estar na festa, que custa três mil euros por casal e cuja localização exata só deverá ser revelada na manhã deste sábado.

Ainda assim, o organizador das festas Purilia garantiu, mais uma vez por escrito, através do Whatsapp, que a empresa irá cumprir as orientações das autoridades de saúde — pelo que se depreende que o número de participantes tenha sido reduzido para mais de metade, de forma a obedecer ao limite legal estabelecido para aquela região do País.

“Iremos cumprir com todas as normas impostas pela DGS tal como foi sempre o nosso compromisso”, escreveu Ricardo Champalimaud, acrescentando que, para assegurar esse mesmo cumprimento, a empresa, que há cerca de dez anos organiza exclusivas festas de sexo na região de Lisboa, terá feito “avultados investimentos, na ordem das centenas de milhares de euros”.

“Este é um evento que conta com uma projeção internacional trazendo ao nosso país várias personalidades o que é sem qualquer dúvida uma mais valia para o nosso país em uma altura de grandes desafios para Portugal”, fez ainda questão de frisar o organizador, que já antes tinha revelado que a procura das festas de sexo Purilia por parte de pessoas de fora de Portugal tinha aumentado durante os meses da pandemia, “talvez por falta de oferta nos países de origem”.

Apesar de, ao Observador, há uma semana, a DGS ter avisado que os eventos sociais, como festas, estão proibidos em todo o País, por causa da pandemia do novo coronavírus —  “Uma festa com 40 pessoas nunca está autorizada de acordo com todas as Resoluções de Conselho de Ministros” —, Ricardo Champalimaud concluiu ainda que, apesar de estarem confirmados mais de 40 participantes, nunca foi “intenção” da Purilia “ir contra as recomendações feitas pela DGS ou autoridades locais”. Depois, declinou responder a mais perguntas.

Contactado pelo Observador, para perceber se tinham sido feitas diligências no sentido de impedir a realização da festa deste sábado e se o evento organizado pela Purilia a 26 de junho, numa casa em Cascais, com mais de 70 pessoas, será alvo de inquérito, o Ministério da Administração Interna não respondeu, explicando que, “por ser de âmbito operacional”, só a GNR tinha competência para prestar informações. Pelo mesmo motivo, a DGS também recusou voltar a pronunciar-se sobre o caso.