Era um dos livros mais aguardados do ano e está finalmente a caminho das livrarias, com chegada marcada para dia 11 de agosto. “Finding Freedom: Harry and Meghan and the Making of a Modern Royal Family” esmiúça a relação de Harry e Meghan Markle, desde o momento em que se conheceram ao Megxit que oficializou a cisão entre o casal e o resto da família real britânica.
Escrito pelos jornalistas Omid Scobie e Carolyn Durand, o livro foi feito com base em conversas com mais de 100 testemunhos, entre amigos próximos dos Sussex, assessores reais e funcionários do palácio. Harry e Meghan já negaram qualquer participação na biografia. A declaração é agora posta em causa — mesmo sem depoimentos dos duques na primeira pessoa, o casal terá colaborado pelo menos ao autorizar pessoas do seu círculo mais íntimo a falar com os autores, além de que o livro apresenta uma versão da história bastante favorável ao casal.
A viagem pelos altos e baixos do casal mais mediático do momento é densa e, durante o último fim de semana, o britânico The Times partilhou os excertos com as principais revelações do livro, que retrata uma Meghan convicta de que abdicou de toda a sua vida pelos Windsor, um William de pé atrás com as intenções da noiva do irmão e um Harry perplexo com reações racistas no seio da própria família.
Megxit. Harry e Meghan afastam-se oficialmente da família real britânica a 1 de abril
De acordo com o Daily Mail, o livro afasta qualquer possibilidade de os Sussex voltarem a assumir responsabilidades como membros da família real britânica. Rever o Megxit, o que aconteceria ao fim de um ano após a ida de Harry e Meghan para a América do Norte, segundo estipulou Isabel II, poderá simplesmente ficar sem efeito. Com muitos dos membros da casa real expostos no livro, o corte entre o casal e o resto da família poderá ser, assim, definitivo.
Os primeiros encontros
Quem terá sido o primeiro a dizer “amo-te”? Segundo o livro que conta a história do casal, foi Harry e numa fase bastante inicial da relação. Segundo alguns dos amigos ouvidos pelos autores, os dois ficaram “imediatamente obcecados um pelo outros, tal como conta a terceira e última parte do especial publicado pelo The Times.
Mas os relatos vão mais atrás — ao primeiro encontro, que teve lugar em Londres, no restaurante da Dean Street Townhouse, no Soho. A atração era “palpável”, segundo é descrito. Ele pediu uma cerveja, ela preferiu martini, enquanto partilhavam histórias sobre trabalho e sobre as causas e interesses em comum.
Meghan estava de visita ao Reino Unido. Segundo partilha um amigo, tinha terminado o primeiro relacionamento sério após o divórcio (2013) e estava pronta para “flirtar com um bom cavalheiro inglês”. Após três horas de um primeiro encontro com o príncipe, a norte-americano terá admitido que o caso tinha “pernas para andar”, mesmo sem um beijo no primeiro encontro mas com a química imediata a ser atestada por várias fontes.
De acordo com a nova biografia, o segundo encontro chegou na noite seguinte, no mesmo lugar. O restaurante garantia total privacidade, com o casal a usar uma entrada reservada aos fornecedores de peixe. O livro fala em noites longas, ao fim das quais Harry regressava a casa sozinho. Ainda assim, o príncipe terá comentado com amigos que o envolvimento com Meghan estava a “cumprir todas as etapas”.
Ao terceiro encontro, Meghan foi convidada para visitar o apartamento do príncipe, no Palácio de Kensington. Ao fim de três meses, Harry terá dito “amo-te” pela primeira vez. Ela respondeu: “eu também te amo”. “Ela estava completamente envolvida. Nada a podia fazer abrandar naquele momento, nem mesmo um amigo que lhe disse para ter cuidado ao relacionar-se com Harry”, pode ler-se no livro.
As viagens ao Botswana e o noivado secreto
O romance permaneceu, na altura, encoberto, embora Meghan tenha usado o Instagram para partilhar uma imagem com a legenda “Lovehearts in London”. Pouco mais de dois meses depois, Harry convidou-a a embarcar numa viagem. Ela voou de Toronto para Londres e, no dia seguinte, os dois apanharam um avião para Joanesburgo.
O destino final era o delta do Okavango, no Botswana, naquela que foi a primeira viagem do casal. Para o efeito, escolheram acomodações de luxo, tendas orçadas em quase 1.700 euros por noite. “Ela voltou com um sorriso constante, completamente encantada”, partilhou um dos amigos de Meghan com os autores do livro. “Nunca me senti tão segura, tão perto de alguém em tão pouco tempo”, confidenciou na altura acerca dos dias passados em África, no verão de 2016.
Várias das fontes referem a viagem como o passo que tornou a relação sólida. A partir daí, Harry aproveitou todas as oportunidades para visitar Meghan, no Canadá, onde residia a trabalhava como atriz. Durante meses, o romance ficou longe das lentes da imprensa. Em outubro desse mesmo ano, numa das escapadinhas a Toronto, Harry foi avisado por um assessor real de que a sua presença no bairro onde vivia Meghan já era conhecida da imprensa, aconselhando-o a regressar ao Reino Unido, caso contrário seria cercado por fotógrafos mal se aproximasse do local.
Harry recusou-se e a decisão resultou nas primeiras notícias sobre o namoro. Segundo o livro, Meghan ficou desconfortável com a atenção mediática, porém aliviada por não ter de andar mais às escondidas. Pouco tempo depois, a atriz norte-americana chamou a polícia, depois de um fotógrafo ter esperado que saísse de carro para fotografá-la para uma agência com sede em Los Angeles.
Alguns comentários preconceituosos e racistas — em que, ofensivamente, era chamada de “preta” e “rafeira” — chegaram às redes sociais. O livro afirma que comportamentos como este levaram Harry a desentender-se com alguns amigos, incluindo um amigo de longa data que desprezava Meghan e a sua carreira. É então que o príncipe decide emitir um comunicado a oficializar a relação, interferindo, segundo a biografia, com a atenção mediática da visita oficial do pai ao Médio Oriente, em novembro de 2016. Os autores dizem ainda que Carlos soube da declaração apenas 20 minutos antes desta ser emitida pelo palácio. De acordo com a biografia, Harry sentiu que o pai valorizava mais a sua imagem pública do que a relação com o próprio filho.
O livro avança ainda com a teoria de que os dois terão ficado noivos em agosto de 2017, durante a segunda viagem ao Botswana, meses antes do anúncio oficial em novembro desse mesmo ano. A descoberta do noivado secreto foi, segundo a biografia, o início da degradação da relação entre Harry e William.
Cambridge e Sussex. Polémica ao quadrado
“Não tenhas pressa. Leva o tempo que precisares para conhecer essa miúda”. Terá sido este o primeiro conselho dado a Harry pelo irmão mais velho. O comentário não terá caído bem ao príncipe, que a partir daí terá visto a relação com William azedar. O livro vai mais longe e fala sobre a dinâmica entre os dois casais — os Cambridge e os Sussex. Os dois irmãos mal se falaram, depois de William se ter referido a Meghan como “essa miúda”, enquanto Kate não terá sido muito prestável a amenizar o ambiente com a futura cunhada.
Pelo contrário, Middleton terá, segundo os autores do livro, humilhado Markle em mais do que uma situação. “Eu desisti de tudo na minha vida por esta família. Estava disposta a fazer o que fosse preciso. Mas aqui estamos nós. É muito triste”, terá desabafado a duquesa de Sussex a um amigo, já em clima de Megxit.
Contudo, fontes próximas dos Cambridge desmentem tais alegações. “É absolutamente falso dizer que os Crambridge não souberam acolhê-la”, indicou uma fonte próxima do casal ao The Mail on Sunday. As mesmas fontes ressalvam os esforços amigáveis para que a recém-chegada se sentisse confortável no palácio. Os Sussex chegaram, alegadamente, a ser convidados para a propriedade do casal em Norfolk, onde Kate terá preparado refeições vegan para os cunhados.
William e Kate convidaram as madrinhas de Meghan para uma festa, pouco antes do casamento. Contudo, embora deixe bem claro que a relação entre as duquesas não fosse a mais calorosa, o livro refuta os rumores de uma zanga, desmentindo inclusivamente o episódio em que Meghan teria deixado Kate em lágrimas durante as provas do vestido de Charlotte como dama de honor. “A verdade é que Meghan e Kate só não se conheciam muito bem”, concluem os autores.
Por muito que o livro desdramatize, o certo é que a relação entre os dois irmãos é unanimemente descrita como delicada (em parte, fragilizada pelo próprio Megxit), ao mesmo tempo que fontes próximas dos Cambridge falam na tristeza e no desconforto do casal face às alegações do livro, que também afirma que Harry e Meghan ficaram zangados quando viram que Isabel II não tinha incluindo uma foto sua, com o pequeno Archie, no cenário da sua mensagem de Natal.
O livro classifica como snob a postura de William e Kate face ao novo membro da família e responsabiliza-os pelo azedar da relação entre os dois casais. O à vontade e o carisma de Meghan Markle poderá ter feito alguma sombra ao casal Cambridge, da mesma forma que o progressivo afastamento de Harry, outrora tão presente na vida familiar, acentuaram as divergências familiares. Em outubro do ano passado, as diferenças vieram a público quando, numa entrevista, Harry refletiu sobre a relação com o irmão dizendo: “Estamos em caminhos diferentes”.
As “víboras” de Buckingham
A “vedeta do Harry” foi, de acordo com o livro, um das expressões usadas por um membro da família real para se referir a Markle. Um outro disse que Meghan chegava à família real britânica com “muita bagagem”. Fontes dentro do palácio dão ainda conta de quando uma figura de proa da monarquia britânica comentou: “Há algo nela que não confio”.
Os autores não hesitam e alegam mesmo que, para a duquesa de Sussex, o tratamento de alguns funcionários do palácio era “sexista e preconceituoso”. Como “mulher de cor bem-sucedida”, Meghan recebeu rapidamente o rótulo de “exigente”. Para o casal, alguns desses decisores da casa real passaram a ser referenciados como “víboras”.
Por outro lado, também a estratégia de comunicação do palácio terá frustrado as expectativas do jovem casal. “Havia muita pressão, o trabalho era extremamente stressante. Nada era bom o suficiente, eles viam coisas erradas em tudo. Nada é culpa deles, é sempre dos outros. São vítimas profissionais”, contrapôs um ex-funcionário do palácio ao The Mail on Sunday.
Entre as alegações que constam do livro, está a de que os três palácios — Buckingham, Kensington e Clarence House — competem entre si. Além de tentarem constantemente superarem-se umas às outras, ocasionalmente a sabotagem é também um recurso e que terá sido usado para reduzir a popularidade dos Sussex. Intenções da “velha guarda” que levaram Harry e Meghan a acreditar que “poucos dentro do palácio defendiam realmente os seus interesses”.
Enquanto as “víboras” sabotavam os planos do casal, dialogar e tentar fazer valer o seu ponto de vista não parecia servir de muito, de acordo com os autores da biografia. Uma das fontes próximas de Harry disse mesmo que alguns elementos “simplesmente não gostavam de Meghan e não poupariam esforços para lhe dificultar a vida”.
Fontes do jornal britânico voltaram, entretanto, a contrapor o livro. “Meghan foi recebida de braços abertos e toda a gente fez os possíveis para ajudá-la no desempenho daquele papel público tão complicado — conselhos que ela costumava ignorar”, indicou uma fonte ouvida pelo tabloide.
Enquanto responsável por uma equipa de assessores e profissionais, Meghan é também alvo de uma descrição bastante elogiosa por parte dos autores do livro, não obstante pelo menos quatro pessoas se tenham despedido de cargos próximos da duquesa — a assistente pessoal Melissa Toubati, a secretária Samantha Cohen, ao fim de 17 anos a trabalhar com a família real, uma guarda-costas e a primeira ama de Archie.
Um caminho sem retorno
Especialistas e fontes dentro do palácio não tem dúvidas: o livro vai ter implicações diretas no processo de afastamento de Harry e Meghan do núcleo central da família real britânica e de conquista de direitos excecionais enquanto representantes de sua majestade do outro lado do Atlântico. Para muitos, o casal sabotou as suas próprias possibilidades.
“Como membros queridos da família, a porta estará sempre aberta para eles. Mas é difícil vê-los conquistarem o novo estatuto de realeza ‘híbrida’ que tanto queriam, aceitando trabalhos comerciais ao mesmo tempo que desempenham deveres reais nos Estados Unidos”, referiu uma fonte da casa real ao mesmo tabloide.
“O período de revisão ainda não foi discutido”, recordou outra fonte. “Mas parece não haver regresso possível agora. Alguns dos assuntos da família, que são muito privados, foram agora tornados públicos, aparentemente com o seu consentimento. Isso vai ser doloroso”, completou.
Em janeiro, Isabel II concordou em conceder a Harry e Meghan um ano à experiência nos Estados Unidos. Enquanto os Sussex gozam de uma nova vida, têm ao seu alcance a possibilidade de reverter a desvinculação da família real e da sua carteira de privilégios e deveres. É uma espécie de estágio ao fim do qual, se pretenderem, podem voltar à vida que tinham em Londres. É esta a possibilidade que, na opinião de vários especialistas e de fontes próximas dos Windsor, perde validade, não só por causa do estrago que o livro ameaça causar, mas também pelo próprio estilo de vida que o casal tem levado nos Estados Unidos, com uma mansão de milhões em Beverly Hills.
“Vai abrir velhas feridas numa altura que toda a gente queria seguir em frente. Acho que a pessoa que mais perturbada vai ficar com tudo isto é a rainha”, indicou uma fonte da família à Vanity Fair. Segundo o livro, a iniciativa de Harry e Meghan de, unilateralmente, planearem a sua vida, da qual o lançamento do site Sussex Royal é um exemplo, surpreendeu negativamente a monarca. A Isabel II caberá a decisão que todos aguardam: afinal, que desfecho terá o Megxit?