A agência de notação financeira Fitch Ratings desceu esta sexta-feira o rating de Angola para CCC, indicando que há uma possibilidade real de Incumprimento Financeiro (default), devido ao significativo aumento da dívida pública e deterioração das finanças públicas.
A descida do rating reflete o significativo aumento na dívida pública, a reduzida flexibilidade do financiamento externo, como é evidente na forte subida dos juros da dívida, e a decrescente liquidez externa”, diz a Fitch Rating na explicação da ação de rating, que surge menos de seis meses da última revisão em baixa, em março.
“A sustentabilidade da dívida pública piorou e as debilitadas finanças públicas vão inibir as autoridades de baixarem significativamente o nível da dívida durante os próximos dois anos”, argumentam, prevendo que no final deste ano o rácio da dívida sobre o PIB suba para 129%, o que representa “850% das receitas do governo, mais do dobro da média dos países com rating B, com 356%, e é indicativo das dificuldades de Angola em aumentar a receita não petrolífera”.
Fitch prevê recessão de 4% e inflação a subir 24% em Angola este ano
A agência prevê uma recessão de 4% em Angola e uma subida da inflação para 24%, com a produção petrolífera a descer para 1,3 milhões de barris por dia neste e no próximo ano.
A economia de Angola continua a ser limitada pelo alto nível de dependência de matérias primas, o que contribui para um crescimento baixo e para uma acentuada instabilidade macroeconómica”, lê-se no relatório.
“A contração no setor petrolífero, combinado com a falta de liquidez em dólares, vai manter Angola no quinto ano consecutivo de recessão, com uma contração de 4% e uma aceleração da inflação para 24% este ano, bem acima da média dos países com nota B, de 4,8%”, acrescenta-se no texto.
Sobre a produção de petróleo, a principal matéria prima exportada por Angola e essencial para o equilíbrio das finanças públicas, a Fitch Ratings admite que “as reformas no setor dos hidrocarbonetos podem ajudar a estabilizar o declínio de longo prazo na produção”, mas salienta que depois da produção de 1,4 milhões de barris diários no primeiro semestre, houve uma queda no seguimento da aplicação dos cortes acordados com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo.
A Fitch Ratings prevê que a produção fique nos 1,3 milhões de barris diários, em média, em 2020, e que fique mais ou menos no mesmo nível em 2021”, dizem os analistas.
Sobre os bancos angolanos, o panorama também não é positivo: “os bancos angolanos vão enfrentar mais desafios económicos já que o choque da pandemia da Covid-19 prolonga a recessão em Angola”, alertam.
Apesar das medidas das autoridades, entre as quais a Fitch salienta a implementação de programas de apoio ao crédito às pequenas e médias empresas e a descida de algumas taxas, o recurso do governo ao mercado interno de dívida vai prejudicar o setor privado.
Prevemos que o crescimento do crédito do setor privado sofra uma contração este ano, e os ativos já de si de fraca qualidade vão provavelmente continuar a enfraquecer, refletindo o elevado nível de exposição ao setor dos hidrocarbonetos”, concluem os analistas.