O conselheiro das Comunidades Portuguesas, Vasco Pinto de Abreu, considerou esta terça-feira que a queda de 51% no PIB da economia sul-africana “é preocupante” para o futuro da comunidade no país.
É preocupante até porque já havia graves problemas sociais, problemas até a nível da juventude luso sul-africana com situações de emprego no país e esta queda de 51% vai agravar ainda mais a situação económica”, disse à Lusa o conselheiro português.
A economia sul-africana, a mais desenvolvida de África, teve uma queda recorde de 51% entre abril e junho, motivada sobretudo pela paralisação devido à pandemia de Covid-19, anunciou esta terça-feira a agência de estatísticas do país (StatsSA).
O setor da Construção civil, onde operam várias firmas luso sul-africanas e portuguesas, foi o mais afetado com um declínio acentuado de atividade na ordem dos 76,6%.
Nove dos dez principais setores económicos do país sofreram uma contração, de acordo com a StatsSA. A exceção positiva foi o setor agrícola com 15,1%. Neste setor, destaque para os agricultores Luso sul-africanos na província de Gauteng que abastecem 90% dos mercados municipais de frescos de Joanesburgo e Pretória (atual Tshwane).
Vasco Pinto de Abreu, que é conselheiro pela área consular de Joanesburgo, sublinhou à Lusa que a atual situação económica agravou os problemas económico-sociais e da criminalidade no país, nomeadamente de crimes violentos e da violência do género, porque “as pessoas estão desesperadas”.
É um problema grave que temos neste país e com o isolamento a que estamos votados também com as fronteiras ainda fechadas, pior ainda”, declarou.
Questionado pela Lusa sobre a recente iniciativa do partido de oposição Economic Freedom Fighters (EFF), com assento no parlamento, em vandalizar 37 farmácias e alguns centros comerciais no país, nesta segunda-feira, devido a um anúncio de uma marca capilar estrangeira, Vasco Pinto de Abreu considerou que afetará o investimento externo no país.
“As companhias estrangeiras que acompanham estes acontecimentos vão ponderar três vezes antes de investir um rand que seja na África do Sul e, aliás, houve várias que cancelaram os seus investimentos no país”, referiu à Lusa.
O conselheiro português sublinhou que “o EFF parece que tem roda livre para fazer o que quer”, e que as manifestações do terceiro maior partido na oposição “não são controladas, a polícia não intervém, o exército não intervém, parece que têm carta branca para fazerem o que querem”.
“O tal anúncio é de muito mau gosto, é racista, mas os fins não justificam os meios e estar a prejudicar os trabalhadores do próprio Clicks e a empresa em si, que emprega milhares de pessoas, não é solução para este problema”, adiantou.
Na ótica de Vasco Pinto de Abreu, “a democracia sul-africana está em grave risco”, salientando que “não me parece que haja uma linha de comando no governo por causa dos problemas dentro do próprio Congresso Nacional Africano [no poder desde 1994] que gosta de se gladiar dentro de si próprio e não olha para fora”.
“Para mim, é preocupante toda esta situação na África do Sul”, frisou.
O conselheiro português disse ainda à Lusa que o atual sentimento no seio da Comunidade Portuguesa na África do Sul, é de “partida e receio pelo futuro”.
Aquelas que podem já estão a fazer planos para se irem embora do país e os que querem ficar estão preocupados com toda esta situação, mas sei que há muitos que já estão a fazer planos para, assim que o confinamento da Covid-19 termine e passe para o nível 1, se irem embora para Portugal e outros países onde vão tentar nova vida”, frisou Vasco Pinto de Abreu.
Todavia, o conselheiro português disse também que admira a solidariedade que os agricultores portugueses, alguns já de quinta geração no país, demonstraram neste domingo ao entregar 400 toneladas de alimentos ao Governo sul-africano para combater a fome na província de Gauteng.
“Entendo a iniciativa de solidariedade e até para que o Governo entenda que os agricultores não estão contra o Governo, mas a política não mudou, a Lei de Expropriação de Terras está no parlamento para ser aprovada”, adiantou Vasco Pinto de Abreu.
No mandato de governação do Presidente Cyril Ramaphosa, que substituiu Jacob Zuma em fevereiro de 2018, afastado por alegada corrupção, a África do Sul entrou na segunda recessão económica na segunda metade de 2019.