Tinha 11 anos, vivia em Napóles, e antes de se atirar da janela do 11.º andar onde vivia, à meia-noite e meia de segunda-feira passada, deixou uma mensagem aos pais. Não uma carta, antes uma mensagem de texto, enviada pelo telemóvel, pouco antes de, com a ajuda de um banco, saltar para a morte. “Mãe, pai, amo-vos, mas tenho de seguir o homem do capuz preto. Não tenho mais tempo. Perdoem-me.” É esta mensagem que está a levar os investigadores italianos a colocarem uma hipótese em cima da mesa e a procurarem pistas num jogo viral: será o rapaz italiano a primeira vítima mortal de Jonathan Galindo, o Homem Pateta?
Por enquanto, a história escreve-se com muitas dúvidas e poucas certezas. Segundo jornal local NapoliToday, a criança, filha de dois advogados, morava em Chiaia, um bairro situado na marginal de Nápoles. Foram os próprios pais que, ao perceberem que o filho não estava deitado, foram à sua procura e perceberam o que tinha acontecido. O rapaz, cuja identidade não foi revelada, é descrito pela imprensa italiana, que cita a família, como uma criança feliz, carinhosa, sem problemas, embora nos últimos dias os pais o tivessem sentido mais triste.
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Para já, o Ministério Público de Nápoles abriu uma investigação por incitamento ao suicídio. Jonathan Galindo é o principal suspeito das autoridades.
Acontece que o Homem Pateta não é uma pessoa real — tal como a boneca Momo ou a Baleia Azul também não eram. Ou, pelo menos, não é apenas uma pessoa. Nas redes sociais, seja no Facebook, no Instagram ou no Tik Tok, o nome repete-se e a imagem também. Mas são dezenas os perfis que usam a cara de um homem mascarado, a fazer lembrar o Pateta da Disney, como avatar.
Sobre Jonathan Galindo sabe-se pouco. Especula-se que o modus operandi seja semelhante ao da Baleia Azul — um jogo para adolescentes, que apareceu na Rússia em 2016, com 50 desafios em que o último é o suicídio — ou da boneca Momo, uma personagem fictícia que fala com crianças no WhatsApp, enviando mensagens violentas que podem incitar ao suicídio.
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Nesta história importa também separar as águas: uma coisa é a imagem, outra o nome. A imagem usada em todos estes perfis foi criada por Samuel Canini, também conhecido por Dusky Sam, um cosplayer e criador de máscaras.
Em 2019, terá sido um utilizador de Tik Tok o primeiro a associar a imagem criada por Canini ao nome Jonathan Galindo. Calcula-se que a origem geográfica seja o México e, a partir daí, a personagem viajou pela internet até aos EUA, Índia, Vietname, Espanha, Itália e Brasil, escreve o Corriere della Sera. Os perfis semelhantes multiplicaram-se de tal forma que o criador da máscara sentiu necessidade de se demarcar do assunto.
“Olá a todos. Essa loucura de Jonathan Galindo parece estar aterrorizando muitos jovens impressionáveis. As fotos e os vídeos são meus de 2012-2013. Eram para a minha própria estranha diversão e não para algum aventureiro moderno assustar e intimidar as pessoas”, escreveu no Twitter em julho passado.
Hello everyone. This Jonathan Galindo madness seems to be terrorizing a great many young impressionable people. The photos and videos are mine from 2012-2013. They were for my own weird amusement then, not for some modern day thrillseeker looking to scare and bully people.
— Dusky Sam (@DuskySamCat) July 3, 2020
Depois da morte do jovem italiano, as autoridades confiscaram o seu telemóvel e a consola onde jogava — e que tinha ligação à internet — para tentar reconstituir as últimas conversas que manteve com terceiros na internet.
Para além disso, a polícia italiana irá ouvir o depoimento de alguns dos amigos da criança.
No Brasil, a polícia lançou uma série de alertas aos pais de crianças e adolescentes, pedindo-lhes que denunciassem contas associadas à imagem do Homem Pateta por suspeita de estar a incitar ao suicídio. “Este perfil faz o desafio para que o interessado envie uma mensagem privada e, em resposta, passa a enviar vídeos, textos, áudios e até a fazer vídeo chamadas. Essas mensagens causam desconforto, medo, terror e podem até induzir ao suicídio”, explicou, na altura, Fernanda Lima, da Polícia Civil, num vídeo na sua conta de Instagram.
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