Quando Sean Conley, o médico da Casa Branca, terminou a conferência de imprensa em que informou os jornalistas sobre o estado de saúde de Donald Trump, abandonou o púlpito instalado em frente ao Centro Médico Walter Reed, em Washington, cumprimentou o chefe de gabinete do Presidente dos EUA, Mark Meadows, que acompanhou a sessão no exterior do edifício, e percorreu o caminho de regresso ao interior do hospital.

Nessa altura, as câmaras deviam ter parado a transmissão. Porém, uma delas continuou a filmar e a transmitir. O que se passou a seguir é um hábito comum nestes momentos. Vários dos jornalistas presentes dirigiram-se ao chefe de gabinete de Trump para esclarecer dúvidas essencialmente logísticas — designadamente para lhe perguntar quando e onde seria o próximo briefing e para confirmar os nomes de todos os médicos da equipa clínica do Presidente que tinham estado na conferência de imprensa.

Desde quando é que Trump sabe que está infetado? Três grandes dúvidas levantadas pelos médicos presidenciais

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Através das imagens dessa câmara que continuou a filmar, foi possível ver outra coisa: a dada altura, o chefe de gabinete de Trump pede aos jornalistas para falar off the record, afastando-se com um grupo de repórteres da zona onde estavam instaladas as câmaras.

Pouco depois, começaram a sair em vários meios de comunicação social uma série de informações que contrariavam muitas das afirmações mais otimistas feitas pelos médicos de Trump — todas atribuídas a uma “fonte conhecedora do estado de saúde” do Presidente que tinha falado com os repórteres acreditados na Casa Branca.

A informação central foi a contradição direta do que o médico tinha dito sobre o estado de saúde geral de Donald Trump — “está muito bem”. Meadows disse aos jornalistas que, na verdade, “os sinais vitais do Presidente ao longo das últimas 24 horas foram muito preocupantes e as próximas 48 horas vão ser críticas em termos dos seus cuidados de saúde“. Meadows acrescentou também: “Ainda não estamos no caminho de uma recuperação completa”. As notícias foram inicialmente divulgadas com a informação atribuída a fonte anónima, mas pouco depois o excerto da transmissão começou a circular na internet, deixando claro quem era a fonte.

Aquela não foi a única contradição detetada entre o discurso oficial do médico e as informações que emergiram depois da conferência de imprensa nos meios de comunicação social.

Sean Conley tinha afirmado que Trump havia sido diagnosticado há 72 horas, o que não batia certo com a informação oficial (e significaria que o Presidente tinha estado num evento público já depois de ter testado positivo para o coronavírus). Depois, o médico emitiu uma correção oficial, dizendo que tinha usado de forma errada a expressão “72 horas“, quando pretendia dizer “há três dias“.

Por outro lado, Sean Conley tinha também recusado responder a perguntas sobre se Trump tinha precisado de oxigénio suplementar para o ajudar a respirar. Depois de Conley ter dito que o Presidente norte-americano não tinha dificuldades respiratórias, surgiram informações no The New York Times que indicavam que Trump tinha tido dificuldades em respirar na sexta-feira. Ao mesmo tempo, a Associated Press noticiou que Trump tinha, de facto, recebido oxigénio suplementar na Casa Branca, depois de Conley ter sempre contornado a questão.