Poderoso, com saúde e capaz de beijar uma multidão. Foi um Donald Trump energético aquele que discursou esta segunda-feira num palco montado num hangar do aeroporto internacional de Sanford, na Florida, depois de ter recuperado da Covid-19 e de ter testado negativo para o novo coronavírus .

Num tom de voz mais rouco que o habitual, e tenso como descreve o The New York Times, o presidente norte-americano regressou assim aos comícios e disse sentir-se “poderoso” e suficientemente bem para mergulhar na multidão e “beijar os homens e as mulheres bonitas”.

Segundo a agência de notícias Associated Press (AP), o comício realizou-se sem distanciamento social, e o uso de máscaras não era generalizado entre os milhares de pessoas presentes. O próprio Trump quando embarcou no avião também não usava máscara e durante o seu discurso, com participantes escolhidos para estar perto dele, também ninguém usava máscara.

Trump esteve afastado da campanha eleitoral durante mais de dez dias, depois de ter testado positivo para o vírus em 2 de outubro. E chegou à Florida poucas horas depois de o médico da Casa Branca, Sean Conley, anunciar que o republicano obteve testes negativos à presença do novo coronavírus SARS-CoV-2 durante “vários dias consecutivos”, através dos denominados “testes rápidos”.

O comício na Florida, um estado-chave para Trump e para as eleições presidenciais a 3 de novembro, marcou o arranque de uma semana de viagens para o Presidente, que inclui igualmente paragens nos estados da Pensilvânia (nordeste), Iowa (centro oeste) e Carolina do Norte (sudeste).

Durante o comício, em que falou cerca de um hora, o presidente fez várias afirmações para as quais não existe sequer evidência científica, como a de que estava agora imune ao novo coronavírus. Também atacou o seu rival, Joseph Biden, acusando-o de atrasar a vacina contra a Covid-19 para “prolongar a pandemia”, voltando a criticar a exigência que o candidato tem imposto nas distâncias sociais e no uso de máscara durante a campanha.

Trump disparou também contra Barack Obama, acusando-o de espionar a sua campanha de 2016, mais uma vez sem demonstrar qualquer prova da sua acusação.

O presidente voltou também a gabar-se, como descreve ainda o The New York Times, de matar terroristas, de construir um muro na fronteira com o México e de até ter sido indicado para o Prémio Nobel da Paz — culpando os meios de comunicação social de não lhe darem crédito suficiente e de terem feito uma cobertura jornalística deficiente sobre o tema.

Declaração médica pouco clara

De acordo com a agência de notícias France-Presse (AFP), a informação de que Trump testou negativo foi transmitida por Conley durante uma declaração particularmente confusa, uma vez que o médico chegou a essa conclusão através de um teste rápido e não através da despistagem padrão à qual estão a ser submetidos, diariamente, centenas de milhares de norte-americanos.

Os “testes rápidos” correspondem à despistagem antigénica, que é menos sensível do que a testagem molecular tradicional.

O médico do chefe de Estado norte-americano também não especificou em que dias foram feitos os exames, mas disse que os testes antigénicos não foram os únicos indicadores que determinaram que Trump já não está infetado.

A equipa médica que supervisiona o estado de saúde de Trump também disse que o Presidente já “não é contagioso”.

A declaração foi divulgada na mesma altura em que o chefe de Estado estava a bordo do avião presidencial, o Air Force One, em direção à Florida, para o primeiro comício desde que contraiu a doença.

A pandemia de Covid-19 já provocou mais de um milhão e setenta e sete mil mortos e mais de 37,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.