A economia portuguesa deverá recuperar em 2021 pouco mais de metade da riqueza perdida este ano. O Governo estima, no relatório da proposta de Orçamento do Estado, uma quebra de 8,5% do PIB em 2020 — mais 1,6 pontos percentuais do que a previsão de junho, no Orçamento do Estado Suplementar — e prevê uma recuperação de 5,4% no próximo ano.
Para 2020, a quebra mais acentuada da atividade económica reflete a forte redução prevista para o consumo privado (-7,1% do que no ano passado), para as exportações (-22,0%) — que caem mais do que as importações (-17,9%) — e para o investimento (-7,4%).
Há muito que o FMI projetava uma destruição de riqueza desta magnitude para este ano. Em abril, apontava para uma quebra do PIB de 8% (embora partindo do pressuposto que o desemprego iria disparar para 13,9%).
No mês seguinte, a Comissão Europeia mostrava-se mais contida, com uma previsão de recessão de 6,9%, mas dois meses depois, em julho, tornaria o cenário mais sombrio, acreditando numa quebra da economia de 9,8%.
As contas do Governo vão agora ao encontro das novas (e melhoradas) previsões do Banco de Portugal, que na semana passada apontou para uma recessão de 8,1% do PIB, em vez de 9,5%. Já o Conselho das Finanças Públicas antevê ainda uma quebra de 9,3%.
Depois de bater no fundo este ano, em 2021 as perspetivas mudam radicalmente. O crescimento previsto de 5,4% beneficia nomeadamente de um aumento de 10,9% nas exportações — a maior procura externa pelos produtos portugueses sobe em grande medida à boleia da “recuperação do setor do turismo, onde o impacto da pandemia foi particularmente severo em 2020”. Em contraponto, as importações de bens e serviços deverão crescer 7,2%. Espera-se ainda um acréscimo de 3,9% no consumo privado e mais 5,3% no investimento, mas, tal como nas exportações, não compensam as quebras do ano anterior.
As previsões do Governo para 2021 não ficam muito distantes (embora sejam mais otimistas) das contas feitas pelo Banco de Portugal (+5,2%), pelo FMI (+5,0%) e pelo Conselho de Finanças Públicas (+4,8%). A Comissão Europeia é, desta vez, quem mais acredita na recuperação portuguesa (+6,0%).
O Governo sublinha que a recuperação “pressupõe um menor nível de incerteza” face a este ano e “uma gradual melhoria no mercado de trabalho”, com um “ligeiro aumento no rendimento disponível das famílias e a uma redução da taxa de poupança”.
Num contexto de crescimento económico, o Governo conta com uma redução da taxa de desemprego de 8,7%, em 2020, para 8,2%, em 2021 — ainda longe dos 6,5% registados em 2019.
A inflação prevista para o próximo ano rondará os 0,7%, depois de uma ligeira descida dos preços (-0,1%) prevista para este ano.