787kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, já tinha alertado para uma crise pior do que a de 2008/2009
i

Diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, já tinha alertado para uma crise pior do que a de 2008/2009

Getty Images

Diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, já tinha alertado para uma crise pior do que a de 2008/2009

Getty Images

FMI prevê recessão de 8% para Portugal. Economia mundial cai 3% este ano e não volta ao nível pré-virus em 2021

Fundo Monetário Internacional prevê a pior crise desde a Grande Depressão. Economia mundial vai cair 3% em 2020. Pode recuperar 5,8% em 2021, mas não volta ao nível pré-crise. E há cenários piores.

A economia mundial vai contrair 3% este ano, de acordo com as previsões do Fundo Monetário Internacional que já incorporam o impacto do Covid 19 e as medidas para a combater. Nas perspetivas revistas para a economia mundial, o FMI assinala que o impacto será “muito maior do que durante a crise financeira de 2008/2009”, em linha aliás com os alertas já feitos pela diretora-geral, Kristalina Georgieva. E não obstante a recuperação prevista para o próximo ano, em 2021, a riqueza das economias mundiais será no final desse inferior à que existia antes da pandemia.

No blog do FMI, a economista-chefe do Fundo, Gita Gopinath avisa que esta será a primeira vez desde quase um século que as economias avançadas e os mercados emergentes estarão em simultâneo em recessão, numa intervenção intitulada o Grande Confinamento: A pior recessão económica desde a Grande Depressão dos anos 30 do século XX.

As projeções do FMI ao impacto da pandemia de Covid-19

Apesar do outlook se centrar nas principais economias mundiais, o FMI antecipa para Portugal uma queda do Produto Interno Bruto de 8% este ano, uma estimativa que é muito mais negativa do que as projeções feitas pelo Banco de Portugal no final de março, mesmo num cenário mais adverso. O desemprego deverá disparar para 13,9% até ao final de 2020, mais do dobro da taxa registada em fevereiro. Os técnicos do Fundo apontam para uma retoma de 5% na economia portuguesa para 2021 e para uma queda da taxa de desemprego para os 8,7%.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Recessão de 3,7% se tudo correr bem, mas pode chegar aos 5,7% (pior crise em meio século)

O cenário apontado para Portugal corresponderá à mais profunda recessão económica desde que existem estatísticas fiáveis e faria recuar o produto interno bruto ao nível de 2017, a preços correntes. Já o Instituto Nacional de Estatísticas tinha apresentado uma simulação em que bastava uma queda de 25% na atividade do turismo, que provavelmente será maior, para retirar 2,9% à riqueza produzida em 2020. E é muito provável que o turismo, um setor que representa mais de 11% do PIB, perca mais do que isso este ano.

Aliás, o FMI refere que os países mais expostos à atividade turística vão estar entre os que mais vão sofrer. Também o ministro das Finanças Mário Centeno alertou já para uma queda histórica do PIB no segundo trimestre deste ano que poderia chegar aos 20%.

As projeções para a economia portuguesa estão em linha com as projeções apontadas para outros países, sobretudo europeus, porque esta crise tem características nunca antes vistas, avisa a introdução do relatório sobre a economia.

“Esta crise não é igual a nenhuma outra. Primeiro porque o choque é muito grande e geral. A perda de produção associada à emergência na saúde e às medidas de contenção irão provavelmente eclipsar as perdas geradas pela crise financeira global. Em segundo, tal como numa guerra ou crise política, existe uma acentuada e contínua incerteza sobre a duração e a intensidade do choque. Em terceiro, as atuais circunstâncias exigem um papel muito diferente das políticas económicas. Em crises normais, os políticos tentam encorajar a atividade económica, estimulando a procura agregada o mais depressa possível. Desta vez, a crise é em grande provocada pelas consequências das necessárias medidas de contenção. Isto faz com que estimular a economia seja muito mais desafiante.”

"Esta crise não é igual a nenhuma outra. Primeiro porque o choque é muito grande e geral. A perda de produção associada à emergência na saúde e às medidas de contenção irão provavelmente eclipsar as perdas geradas pela crise financeira global. Em segundo, tal como numa guerra ou crise política, existe uma acentuada e contínua incerteza sobre a duração e a intensidade do choque. Em terceiro, as atuais circunstâncias exigem um papel muito diferente das políticas económicas."
Introdução ao Economic Outlook

As estimativas divulgadas esta terça-feira pelo FMI partem de um cenário base o qual assume que a pandemia irá perder força na segunda metade do ano e que os esforços para a sua contenção que paralisaram as economias serão gradualmente levantados. Com base nestes pressupostos, o fundo avança com a projeção de uma retoma sólida para a economia mundial de 5,8% em 2021, mas alerta para a “extrema incerteza” que envolve esta estimativa.

O documento traça aliás alguns cenários bem mais negativos em que o efeito da pandemia se prolonga no tempo e nos quais a economia mundial será mais duramente atingida, com condições financeiras mais apertadas e sequelas generalizadas que resultariam do fecho da empresas e o aumento acentuado do desemprego. Nas projeções mais adversas, o produto mundial pode ser inferior até mais 3% este ano e 5% no ano seguinte.

A retoma das economias depende de muitos fatores que interagem entre si de formas que são difíceis de prever, assinala o documento. Entre estes, destacam-se a evolução da pandemia, a intensidade e eficácia dos esforços de contenção, a extensão das disrupção nas cadeias de abastecimento, as repercussões do aperto dramático das condições nos mercados financeiros, mudanças em padrões de despesa e nos comportamentos — como as pessoas evitarem ir às compras ou usar os transportes públicos — os efeitos na confiança e a instabilidade nos mercados de matérias primas, como o petróleo.

De acordo com o World Economic Outlook, a recessão será a realidade para a generalidade das economias e blocos económicos, com algumas exceções na Ásia, onde a China deverá crescer apenas 1,2%.

Mas é na Europa que se vão sentir alguns das maiores quedas estimadas para o Produto Interno Bruto nacional. A Itália, primeiro país europeu a ser confrontado com a pandemia, deverá contrair 9,1% este ano. Para a Espanha, o FMI antecipa uma recessão de 8%. As economias francesa e alemã deverão perder na casa dos 7%. Apesar de o Reino Unido e dos Estados Unidos surgirem neste momento como os países mais atingidos pelo Covid-19, sobretudo no número de mortes, as previsões do FMI para estas economias apontam para quedas menos acentuadas de 6,5% e 5,9%, respetivamente. O outlook indica uma contração de 7,5% no PIB da zona euro, apanhando de forma intensa todos os principais parceiros económicos de Portugal.

Os países estão a ser chamados a enfrentar uma crise “com várias camadas” que vão desde a saúde pública ao colapso das economias domésticas, enfraquecidas pela queda procura mundial, e à fuga de capitais. Por isso, os “riscos de um resultado mais negativo são predominantes”. E é para contrariar esse impacto que são essenciais políticas efetivas e interventivas na economia.

O FMI reconhece que até agora foram já adotadas ações pelos governos e outras instituições, focadas em acomodar o aumento da despesa pública em saúde e que procuram limitar a amplificação dos impactos na atividade económica e no sistema financeiro.

A retoma projetada para o próximo ano parte do pressuposto de que as medidas dos Governos serão eficazes em conter uma onda generalizada de falências nas empresas, com perda correspondente de postos de trabalho e pressões no sistema financeiro. E mesmo que tudo corra pelo melhor, e a retoma se materialize na dimensão antecipada, o nível de riqueza produzida nas economias no final de 2021 deverá “permanecer abaixo” do que existia no início de 2020, antes do vírus.

Os cenários mais adversos

A incerteza é o fator que mais condiciona as projeções do FMI para a dimensão da crise, mas também para o tempo que vai durar. Isto porque alguns dos aspetos que as sustentam as estimativas agora divulgadas podem não se materializar, o que resultará em perspetivas ainda mais negativas para a economia mundial, com uma recessão maior este ano e uma recuperação mais lenta em 2021.

O fundo também admite o inverso. Ou seja, que o desenvolvimento de um tratamento ou vacina eficazes mais cedo do que o esperado, permitirá remover as medidas de distanciamento social, abrindo a porta a uma retoma mais rápida do que o antecipado. Mas é mais uma esperança ou um desejo que não permitem sustentar nenhum cenário, para já.

Surto demora mais tempo a controlar e medidas prolongam-se no tempo. As medidas tomadas para conter a propagação têm uma duração mais longa em  50% do que o assumido no cenário base. As condições financeiras ficam mais apertadas, com os prémios de risco das dívidas públicas dos países mais vulneráveis a subir, assim como o risco da dívida das empresas. O FMI parte do pressuposto que nas economias avançadas, a política monetária —  o Banco Central Europeu — vai atuar para evitar a subida dos juros dos países  como Portugal. E de que os governos vão adotar políticas orçamentais e fazer despesa pública para responder ao declínio da procura e que terão o dobro da dimensão  estimada numa fase inicial. Ainda assim, os danos iriam prolongar-se por 2021. com destruição de capital pela falências das empresas, e com uma travagem no crescimento da produtividade e o aumento temporário do desemprego. Nesta hipótese, o produto global pode encolher mais de 3%, ou seja, 6% em 202o, e a retoma em 2021 será menos forte: 1% abaixo.

Cenários do FMI admitem um segundo surto em 2021

Marco Di Lauro/Getty Images

Um segundo surto em 2021. Este cenário assume a ocorrência de um segundo surto de Covid-19 no inverno de 2020/21 que será pelo menos dois terços tão grave como o inicial. O condicionamento financeiro será duplamente comprimido, o que resultará num impacto mais alargado na atividade económica. As sequelas económicas podem ser o dobro das previstas no primeiro cenário e irão prolongar-se por 2022. Nesta hipótese, o produto global estimado para 2021 pode ser 5% inferior ao previsto no cenário base, limitando a retoma prevista para a economia mundial a menos de 1% no próximo ano.

Combinação dos dois cenários anteriores. É a hipótese que apresenta projeções mais desanimadoras. Se a contenção do atual surto demorar mais tempo e se verificar uma nova propagação em 2021, haverá um impacto maior na atividade económica e presume-se que haverá uma resposta não linear por parte dos mercados financeiros. O condicionalismo financeiro irá apertar mais em cerca de 50% e as sequelas económicas resultantes do segundo surto irão aumentar em 50%. Com estes pressupostos, o produto mundial seria 8% inferior ao estimado no cenário principal para o próximo ano. O efeito potencial não linear da combinação destas duas variáveis na situação financeira e nas sequelas na economia seria mais negativo do que a soma das projeções para cada um dos dois cenários considerados de forma autónoma. O FMI ainda que esta conjugação traria uma grande incerteza em relação à retoma mundial.

Apesar do custo no curto prazo, combater a epidemia é melhor a longo prazo

Apesar destas projeções, o Fundo Monetário Internacional reconhece que são necessárias medidas para reduzir o contágio e proteger vidas. E, apesar de isso ter um custos elevado para as atividades económicas no curto prazo, deve ser encarado como um investimento na saúde humana e na saúde económica a longo prazo. Logo, a prioridade deve ser dada ao combate ao surto, especialmente pelo reforço da despesa na saúde e nos sistemas de saúde, ao mesmo tempo que se adotam medidas para reduzir o contágio.

As políticas económicas precisam de criar almofadas para mitigar o impacto do declínio da atividade nas pessoas, empresas e sistema financeiro de forma a reduzir as sequelas e efeitos da inevitável travagem económica e assegurar que a economia consegue recuperar depois da pandemia perder força.  As políticas devem estar dirigidas para apoiar as pessoas e setores mais afetados pelo shutdown e que irão precisar de mais suporte para o relançamento.

O FMI assinala também a importância de desenvolver planos de ajuda às economias emergentes, em particular aos países que enfrentam “crises gémeas”, de saúde pública e do desaparecimento do financiamento externas ou que dependem das exportações de matérias-primas cuja cotação afundou, como o petróleo. Esses países podem precisar de ajuda bilateral ou assistência multilateral para assegurar que a despesa na saúde não fica comprometida pelo difícil ajustamento que as suas economias terão de fazer.

O FMI diz que tem acesso a recursos de um bilião de dólares, acrescentando que já está apoiar as economias mais vulneráveis através de linhas de crédito. O Fundo espera que os pedidos de ajuda em financiamento de emergência possam atingir os cem mil milhões de dólares e já esta segunda-feira foi anunciada uma ajuda a 25 países emergentes que passa pelo alívio da dívida e onde se incluem Moçambique, a Guiné Bissau e S. Tomé e Príncipe.

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora