A primeira vaga da pandemia de Covid-19 pouco se notou na República Checa, Polónia, Hungria e Eslováquia. Agora, estes quatro países da Europa Central, também chamados de grupo de Visegrado, assistem a um aumento do número de casos diários.
Estes países foram rápidos a implementar o uso de máscaras ou a decretar confinamentos generalizados no início da pandemia, mas aliviaram as restrições muito cedo, segundo os críticos. Agora, a Polónia voltou a impor o uso de máscaras na rua, a República Checa acabou com as aulas presenciais na universidade, a Eslováquia vai colocar os militares a ajudar nos hospitais e a criar cercas sanitárias e a Hungria continua com as fronteiras fechadas, reporta o Politico.
A República Checa, por exemplo, tem o valor mais alto de casos por 100 mil habitantes da Europa (661, nos últimos 14 dias), à frente da Bélgica (515), da Holanda (435) ou da França (322). Também é a República Chega que tem o maior número de mortos, por 100 mil habitantes, nos últimos 14 dias (4,9), seguida da Roménia (4,0), Espanha (3,5), Hungria (2,8) e Bélgica (2,3).
O problema, no caso dos países da Europa Central — e também na Europa de Leste —, é que há desconfiança sobre os governantes, corrupção e muita desinformação a circular em relação à pandemia. Além disso, têm uma população envelhecida, as famílias vivem em grandes grupos e os sistemas de saúde são fracos e estão à beira do colapso, refere o jornal The New York Times.
República Checa: do melhor ao pior país na Europa
A República Checa chegou a ser apelidada como um dos países que melhor tinha lidado com a pandemia na primavera-verão de 2020, escreve o jornal britânico The Guardian. E celebrou com uma mesa de 500 metros, cheia de comida, para 2.000 pessoas no final de junho como se tivessem derrotado o vírus.
Mas desde meados de setembro que o número de casos diários tem vindo a subir a pique — no espaço de um mês, o país quadruplicou o número total de infeções e está agora perto das 140 mil. Só esta quarta-feira chegou quase às 10 mil novas infeções (9.543, segundo o Worldometer) — quase três vezes mais do que no primeiro dia do mês de outubro.
Da mesma forma, o número de mortes que nunca tinha ultrapassado as duas dezenas num único dia, já ultrapassou, em outubro, as 60 em dois dias. O número de mortos que estava nos 450 a 11 de setembro (dados Worldometer), duplicou no espaço de um mês e, neste momento, já ultrapassou as mil mortes (1.158).
Polónia: o país com menos médicos para os habitantes
Se há país onde os problemas com a assistência na saúde se tornam evidentes é na Polónia que tem o menor número de médicos por 100 mil habitantes da União Europeia (238), segundo o New York Times. Além disso, das 11 mil camas disponíveis para doentes Covid-19, 6.538 estavam ocupadas esta quinta-feira, segundo dados do Ministério da Saúde polaco.
O Hospital Universitário de Cracóvia esgotou a capacidade de internamento nos cuidados intensivos e no país havia, esta quinta-feira, 508 ventiladores em uso no país — há uma semana, no dia 8 de outubro, estavam em uso 296. Para agravar a situação, o governo pode vetar os fundos de apoio da União Europeia por causa das críticas às reformas na Justiça.
???? Dzienny raport o #koronawirus. pic.twitter.com/l5zHfGKpFG
— Ministerstwo Zdrowia (@MZ_GOV_PL) October 15, 2020
A Polónia ultrapassou, pela primeira vez, as 100 mortes esta quarta-feira (116, segundo dados do Worldometer) e regista mais de 3.300 desde o início da pandemia. Ainda assim, o número de mortes ainda não é o fator mais preocupante no país, mas o número de novas infeções sim.
Esta quarta-feira, com o recorde de novos casos diários (mais de 6.500), a Polónia ultrapassou os 140 mil casos desde o início da pandemia — quase o dobro do que tinha há um mês. O país ultrapassou pela primeira vez os mil casos diários no final de setembro e desde aí os números tem vindo sempre a aumentar.
Hungria: não são feitos testes suficientes
A Hungria, tal como a Polónia, tem falta de médicos, apesar de ter cursos universitários na área da saúde de elevada qualidade e frequentados por alunos estrangeiros. Mas os salários são baixos e os médicos emigram.
Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, aumentou os salários aos médicos durante a pandemia, mas também os colocou num regime em que podem ser deslocados para qualquer parte do país consoante as necessidades. O que não foi bem acolhido pelos profissionais, como reporta o jornal espanhol El Confidencial.
Uma das maiores críticas à gestão da pandemia no país é o facto de não estarem a ser feitos testes suficientes e de muitos assintomáticos passarem despercebidos e continuarem a disseminar o vírus sem controlo.
Até ao momento foram feitos cerca de 862 mil testes, o que 89 mil testes por milhão de habitantes — um dos valores mais baixos de toda a Europa. Mas ainda pior estão a Bulgária (84.961 por milhão de habitantes), Bósnia e Herzegovina (82.329), Moldávia (79.940) ou Ucrânia (61.048).
De facto, e apesar de ter visto um aumento no número de novos casos desde o início de setembro, os números rondam os mil casos diários — num total de 40.782 desde o início da pandemia, segundo o Worldometer. O número de mortes também tem vindo a aumentar desde o início de setembro: mais 400, num total de 1.023 — tantas como no início da pandemia e até 9 de maio.
Eslováquia: mais 20 mil casos num mês e meio
A Eslováquia, que chegou ao fim de maio com cerca de 1.500 casos e ao primeiro dia de setembro ainda tem ter atingido os quatro mil, conta agora com mais de 24 mil casos de infeção com SARS-CoV-2 no total. Só na última semana ultrapassou várias vezes os mil novos casos diários.
Em meados de maio, a Eslováquia registava 28 mortes, número que se manteve inalterado até ao final de julho. Desde meados de setembro o número de mortes sem aumentado e é agora de 71, segundo dados do Worldometer.