A moção de censura apresentada pelo partido de extrema-direita Vox contra o executivo espanhol foi chumbada pelo Congresso. O chumbo era esperado, mas o discurso de ataque de Pablo Casado contra Santiago Abascal e o Vox foi a maior surpresa dos dois dias de debate.

A moção precisava de 176 votos para ser aprovada, mas apenas os 52 deputados do Vox votaram a favor, tendo os restantes 298 deputados votado contra — sem abstenção registada. Nunca uma moção de censura tinha tido tão pouco apoio na história da democracia espanhola — das cinco votadas nos últimos 40 anos —, refere o jornal El País.

A votação deixou claro duas situações no Congresso espanhol: por um lado, Santiago Abascal e a extrema-direita estão cada vez mais isolados, e, por outro, um reforço na confiança no governo de Pedro Sánchez, que na investidura só tinha conseguido 165 votos favoráveis (e 163 contra).

Não restavam muitas dúvidas que a moção de censura não seria aprovada, mas a maior surpresa veio do PP, com Pablo Casado a demarcar-se da extrema-direita e a apresentar o partido como sendo de centro-direita e europeísta.

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“Não é que não ousemos, desistimos ou sejamos covardes, não. Não queremos é ser como vocês, não somos como vocês”, disse o líder do PP, citado pelo jornal El País, desencadeando uma ovação na bancada do partido.

Pablo Casado rompe assim, pelo menos publicamente, a ligação com Santiago Abascal — companheiro do PP durante muitos anos — e a extrema-direita, uma relação que lhe tem valido muitas críticas nos últimos anos. Falta saber como ficará a posição do partido nas regiões onde está no poder graças ao apoio do Vox.

A posição do líder do PP e a disciplina de voto imposta aos deputados do partido não significam, porém, um apoio direto ao executivo de Pedro Sánchez, que continua a classificar como não tendo competências para liderar a quarta economia da zona euro. Mas, no momento, a demarcação da extrema-direita foi o foco.

“Vocês oferecem à esquerda uma garantia de vitória perpétua” devido à “fragmentação eleitoral”, disse Casado dirigindo-se ao Vox, citado pelo jornal El Mundo.

Ainda assim, depois da intervenção de Casado, o primeiro-ministro espanhol disse que ia travar a reforma do Conselho Geral da Magistratura para poder chegar a um acordo com o PP sobre o assunto, noticia o jornal El Mundo. Pedro Sánchez queria reduzir o número de votos no Congresso para a nomeação dos membros do conselho. Casado, no entanto, mantém uma exigência: que o Podemos fique de fora.

Atualizado às 14h20.