Um “visionário” e “guru da melhoria pessoal”, era como Keith Raniere se auto intitulava. Nomes que pouco ou nada lhe serviram no julgamento em que foi considerado culpado de crimes como roubo de identidade, extorsão, trabalho forçado, tráfico sexual, lavagem de dinheiro fraude e obstrução à justiça. O líder do culto Nxivm foi condenado 120 anos de prisão.
Preso desde 2018, depois de ter fugido para o México, Raniere foi julgado sob a acusação de que tornava algumas mulheres pertencentes ao grupo em escravas sexuais, marcando-as com as suas iniciais e obrigando-as a envolverem-se sexualmente com ele. Para além disto, acredita-se também que terá feito bullying a alguns membros, através de manipulação emocional e deixado as suas “favoritas” passar fome, como dieta.
A prisão perpétua foi anunciada no final do seu julgamento, que teve início em março de 2019 em Brooklyn, depois de serem ouvidas algumas das vítimas.
O jornal britânico The Guardian destaca a primeira vítima a ser ouvida, uma mulher que se apresentava com o nome de Camila, a quem Keith obrigou a assinalar o aniversário da relação de 12 anos, todos os anos no dia em que foi pela primeira vez abusada: 18 de setembro de 2005. Ela tinha apenas 15 anos e o abusador 46 e a partir daí foi repetidamente abusada e fotografada nua. Na sua audição, disse ao tribunal que tentou suicidar-se e chegou mesmo a ter um aborto, devido a Keith.
“Ele queria que eu acreditasse que o meu único valor vinha da maneira de como ele se sentia em relação a mim. Levei muito tempo a processar o trauma que me causou”, disse. Os acontecimentos terão entre O grupo terá ganho a sua fama por atrair milionários e atores de Hollywood para os seus quadros.
Keith Raniere diz-se inocente dos crimes dos quais é acusado.
Como é que Raniere conseguiu criar um culto sob a farsa de um grupo de auto-ajuda
O jornal americano Insider explica que o negócio de Keith começou com uma empresa que se auto-intitulou de marketing multi-nível, convidando pessoas a gastar milhares de dólares nos seus cursos. Fundada em 1998, com a ajuda de uma enfermeira de hipnose, Nancy Salzman, conseguiu a fama de “vanguardista” entre os seus seguidores.
A mentira seria baseada na premissa de que o líder do grupo era cientista, que não o era, e que teria criado um método único de auto-ajuda que auxiliaria qualquer pessoa a alcançar os seus objetivos pessoais e profissionais.
Na verdade estava a recolher informações de caráter muito pessoal sobre os utilizadores, através de técnicas usadas na terapia, que mais tarde eram usadas como forma de chantagear estes membros a compactuar com todo o tipo de ilegalidades.
Marcava mulheres com as suas iniciais
Dentro do grupo Nxivm foi criado uma fraternidade secreta apenas para mulheres, com o nome de Dominus Obsequious Sororium (DOS), que significa “senhorio sobre mulheres escravas” em latim, onde as marcava com as suas iniciais, tendo tornado algumas em escravas sexuais.
O Insider reporta também que alguns ex-membros do grupo disseram que Raniere usava métodos de auto-ajuda como maneira de manipular estas mulheres. Duas destas vítimas mencionadas pelo jornal, acusam-no, por sua vez, de maus tratos.
Alguns membros que o ajudaram a cometer os crimes, também já enfrentaram a justiça
Keith não agiu sozinho, teve outras pessoas que o ajudaram. O New York Times avança que Allison Mack, atriz do programa televisivo Smallville, já se deu como culpada dos crimes de extorsão e atividade criminal organizada, podendo enfrentar até 20 anos de prisão.
Também a milionária Clare Bronfman, herdeira de uma das maiores empresas de destilaria da América, foi condenada a sete anos de prisão, por fraude e atividade criminal organizada. Segundo o Insider, Bronfman dava a Raniere dinheiro para processar membros que tentassem abandonar o culto.
Por último, a enfermeira que ajudou a lançar o projeto, juntamente com a sua filha, Lauren Salzman, deram-se como culpadas de crimes como roubo de indentidade, conspiração de atividade criminal e fraude.
Toda esta história é abordada no recente documentário lançado pela HBO com o nome de “The Vow”.