Médico especialista em Saúde Pública, Bernardo Mateiro Gomes, reconheceu um “grau de exaustão claro no terreno” e em situações como aquela que se viveu em Paços de Ferreira — com o número de doentes infetados a escalar rapidamente — e a impossibilidade de as equipas de Saúde Pública ou médicos de Medicina Geral e Familiar fazerem o acompanhamento de todos os infetados ou contactos de maior risco. Além das camas de cuidados intensivos, destaca a necessidade de formar recursos intensivistas, formação essa que “demora meses”.
Em entrevista ao Direto ao Assunto, da Rádio Observador, Mateiro Gomes diz que o “cansaço é notório” e que o que mais o preocupa neste momento são mesmo os profissionais de saúde. “Não podemos estar à espera que deem a mesma resposta abnegada que deram em março e abril com as mesmas condições. Não é possível. As férias não regeneraram completamente a capacidade”, afirmou. Estão todos “muito, mas muito cansados”.
Covid-19. “As pessoas ainda não perceberam a natureza da besta”
Comentando as novas regras que serão impostas à luz do estado de emergência, o médico aponta que o problema não está nos almoços ou jantares em restaurantes — se forem poucas pessoas —, mas na falta de consciencialização para o número de pessoas com que cada um contacta durante a semana. “Podem ir jantar com 1 amigo ou dois, mas durante a próxima semana não há mais destes eventos. Temos de ser bastante sensíveis ao número de pessoas com quem estamos durante a semana”, disse Bernardo Mateiro Gomes.
O especialista lamentou ainda que não se tivessem aproveitado “desde o início” todos os recursos possíveis, nomeadamente os estudantes de cursos de saúde que permitiriam “fileiras mais reforçadas”.
Há várias pessoas que ainda não perceberam a natureza da besta. É um vírus bastante intolerante com qualquer hesitação na sua abordagem e que ‘come’ o sistema de saúde. O problema da Covid-19 é que é absurdamente exigente em termos de recursos. Deixa de haver capacidade de termos tantos cuidados intensivos para a atividade programada”, apontou, lembrando que não se trata de uma gripe. “Olhem para a Bélgica”, acrescentou.
O médico frisou ainda que, em relação ao aumento do número de camas em cuidados intensivos anunciado pelo ministério da Saúde serão necessários também profissionais. “Não bastam camas, é preciso profissionais e não se treinam intensivistas, seja ele médico ou enfermeiro, de um dia para o outro. É preciso tempo, são meses de treino para que as pessoas possam estar ao nível para terem um máximo de resposta”, frisou.