Há uma nova síndrome rara estreitamente relacionada com a infeção com o novo coronavírus, que afeta crianças e adolescentes que testam positivo ao SARS-CoV-2. Chama-se MIS-C, o que pode ser traduzido para português para algo como “síndrome inflamatória multi-sistema em crianças” e nos EUA há registo de 20 mortes de pessoas que desenvolveram esta síndrome desde o início da pandemia da Covid-19.
Em Lisboa, oito crianças desenvolveram esta condição, que “leva à falência dos órgãos” e que pode obrigar a cuidados intensivos, noticia a RTP, que desenvolveu o tema no programa “Linha da Frente”. O episódio foi exibido na passada quinta-feira às 21h.
A síndrome já foi sinalizada por autoridades de saúde de diferentes países, sendo ainda assim rara e estreitamente relacionada com a infeção da nova estirpe de coronavírus, que pode causar a doença Covid-19.
[Jorge Amil Dias, presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos explica o que é e quais os perigos da MIS-C:]
“Ao contrário da covid-19 a MIS-C exige internamento de crianças com meses ou poucos anos”
Segundo o principal instituto de saúde dos Estados Unidos da América, o Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), a síndrome já foi identificada em 1.163 crianças e adolescentes do país e já morreram 20 jovens.
Trata-se, refere o CDC, de “uma condição em que diferentes partes do corpo podem ficar inflamadas, incluindo o coração, os pulmões, os rins, o cérebro, a pele, os olhos ou os órgãos gastrointestinais”. No limite, pode levar à falência dos órgãos. O CDC refere não saber ainda com exatidão “o que causa MIS-C” mas nota que “muitas das crianças com MIS-C tinham o vírus que causa a Covid-19 ou tinham estado perto de alguém que tem Covid-19”.
Mais exatamente: 98% dos jovens que desenvolveram esta síndrome nos EUA tiveram teste de diagnóstico positivo à infeção com o novo coronavírus e os restantes 2% tiveram contacto próximo com pessoas doentes com Covid-19. Ou seja, 100% dos casos estão relacionadas com o novo coronavírus.
O MIS-C pode ser sério, pode até ser mortal, mas a maioria das crianças a quem foi diagnosticada esta condição melhorou com tratamento médico”, refere o instituto público de saúde norte-americano.
A autoridade de saúde norte-americana refere que está ainda a investigar a forma como esta síndrome “afeta as crianças” e admite não saber ainda “porque é que algumas crianças ficaram doentes com MIS-C e outras não”. O CDC não sabe também “se crianças com certas condições de saúde têm mais probabilidade de ter MIS-C”.
Esta síndrome afeta maioritariamente crianças e adolescentes com entre 1 e 14 anos — embora haja registo de jovens com até 20 anos que já a desenvolveram. A média de idade de quem desenvolve MIS-C nos Estados Unidos da América é de 8 anos.
Um dos dados que ainda não foi inteiramente percebido pelas autoridades de saúde norte-americanas é o porquê de a síndrome, nos EUA, ter sido desenvolvida em 75% dos casos por crianças e adolescentes que são ou “hispânicos ou latinos” (412 dos 1.163 casos) ou “negros não hispânicos” (369 casos).
A maioria das crianças e jovens nos EUA desenvolveram MIS-C após “duas a quatro semanas” de terem sido infetados com o SARS-CoV-2.
Segundo um especialista em pediatria e doenças infecciosas do centro de investigação Johns Hopkins School of Medicine — que tem a sua sede em Baltimore, no estado norte-americano de Maryland —, Kwang Sik Kim, o primeiro caso de MIS-C foi identificado “em abril de 2020” por “médicos de hospitais pediátricos dos Estados Unidos da América e do Reino Unido”.
A síndrome, refere Kwang Sik Kim, tem algumas semelhanças com a “síndrome de choque tóxico” e com “a doença de Kawasaki” e a inflamação que o MIS-C provoca “pode limitar a circulação do sangue, danificando o coração, os rins e outros órgãos”.
Os sintomas que as crianças e jovens com MIS-C podem ter — nem sempre sentem todos os sintomas — são “febre, dor abdominal, vómitos, diarreia, dor no pescoço, erupção cutânea, vermelhidão nos olhos e uma sensação de cansaço extremo”, aviso o Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA.
Os principais sinais de alerta, que devem levar os pais a procurar de imediato ajuda médica para os filhos, são “dificuldade em respirar, uma dor ou pressão no peito que não desaparece, sinais de confusão novos, dificuldade de acordar ou de permanecer acordado, cor azulada nos lábios ou rosto ou dores abdominais agudas”.