Fernando Medina vai avançar com uma queixa junto da Autoridade da Concorrência contra as plataformas de entrega de refeições como a Uber Eats e a Glovo. Em causa estão as comissões que estes negócios cobram à restauração (no caso da Glovo podem ir dos 5 aos 35% e no da Uber dos 5 aos 30%) e que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa apelida de “predatórias”. Ao Observador, Ricardo Batista, responsável pelo mercado português da Glovo, diz que esta questão “não tem razão de ser”.

Medina abre guerra com a UberEats e promete alternativa sem custos para restaurantes

“A questão levantada em torno das percentagens ou das supostas exclusividades das plataformas não têm razão de ser, porque o custo-benefício da solução da Glovo é muito vantajosa para os três pilares do nosso ecossistema: os restaurantes e comerciantes, os estafetas e os clientes. Além disso, a comissão de que se fala não é uma margem para as plataformas, mas antes um valor que reflete os custos de proporcionar este serviços, entre os quais os o pagamento aos estafetas, que absorvem o maior fatia deste valor”, afirmou o responsável.

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Na “Vichyssoise”, programa de entrevistas da Rádio Observador, que pode ler e ouvir na íntegra aqui, Fernando Medina revelou ainda que a Câmara Municipal está a preparar-se para lançar uma alternativa a estas apps. As negociações estão já em curso e a solução vai ser apresentada publicamente em breve, referiu. Sobre esta solução, Ricardo Batista lembrou que o mercado é aberto, mas que não pode ser distorcido.

“Trabalhamos num mercado aberto onde todas as iniciativas têm lugar, desde que não distorçam o mercado. Já há várias câmaras municipais a oferecerem um serviço semelhante e era interessante sabermos que recursos públicos estão a ser postos ao serviço dessas iniciativas”, referiu.

Contactada pelo Observador, a Uber não quis comentar as declarações de Medina. A 12 de novembro, quando a Deco Proteste acusou as duas plataformas de entregas de refeições ao domicílio de “abuso de poder” no mercado, fonte da tecnológica referiu que a empresa está “empenhada em apoiar os restaurantes e as milhares de pessoas que deles dependem para trabalhar, sendo este um serviço essencial neste momento difícil.” Nessa altura, a Glovo optou por oferecer as comissões aos parceiros que aderirem aos serviços de entrega até 2021.

Glovo oferece comissões gratuitas a novos parceiros no dia em que é acusada de “abuso de poder”

A Deco Proteste acusou a Glovo e a Uber Eats de exercer pressão junto dos parceiros (como restaurantes), porque praticava “elevadas comissões”, que se refletiam num aumento dos preços das refeições (que nalguns casos pode chegar aos 10%) e numa diminuição da oferta, implicando ainda o esmagamento das margens de rentabilidade dos restaurantes. O setor da restauração também tem tecido duras críticas às plataformas, como pode ler nesta reportagem publicada pelo Observador em julho deste ano.

Condições “danosas e injustas”: Como a pandemia piorou a já difícil relação entre plataformas de entrega e restaurantes

Sobre estas acusações, Ricardo Batista explicou que as comissões “correspondem à utilização da tecnologia, serviços de marketing e acesso ao serviço de entrega” e que variam entre 5% e 35%. Já  a Uber lembrou que no início da crise lançou “um plano de apoio com várias iniciativas para ajudar os restaurantes parceiros, particularmente proprietários de pequenos negócios”, concentrando o investimento da empresa em medidas que aumentassem a procura. Também na Uber, a remuneração dos estafetas fica a cargo da empresa e não dos restaurantes.

A tecnológica americana referiu ainda que, quando o estado de emergência foi acionado, eliminou a taxa de entrega em todos os pedidos; ofereceu 5.000 refeições e a taxa de entrega em 5.000 pedidos adicionais aos profissionais de saúde portugueses em qualquer um dos mais de 4.000 restaurantes; e que estava naquele momento a oferecer a taxa de entrega ao almoço. Mas nada disto parece convencer nem a restauração nem Fernando Medina.

Na reportagem publicada em julho no Observador, responsáveis da restauração queixavam-se de que estavam sujeitos condições “danosas e injustas”. E nesta sexta-feira, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa foi taxativo: as comissões praticadas são “algo de absolutamente inadmissível”.

E vai mais além: “Temos empresas privadas que estão a aproveitar a pandemia para entrar num mercado que não tinham e cobrar taxas absolutamente inadmissíveis aos restaurantes que não têm outra via que não vender aos serviços de takeaway que estão instalados. É revoltante e indigno. É um aproveitamento de uma situação de dificuldade coletiva do país para criar uma posição de domínio do mercado e impor taxas de 35%. Os restaurantes não têm margem para pagar estas taxas e só o fazem porque, se não tiverem aquele canal de distribuição, não chegam a casa das pessoas porque o Estado decretou o confinamento. É uma situação de abuso”.

A Uber Eats e a Glovo operam em Portugal desdee 2017. A primeira app está disponível em mais de 50 cidades portuguesas com mais de 5 mil restaurantes, cobrindo cerca de 60% da população. Já a segunda está presente em 90 localidades portuguesas. A 22 de outubro, a concorrente Bolt também lançou um serviço semelhante.

Bolt concorre com Uber Eats e Glovo e passa também a entregar refeições