A UNESCO apontou esta quarta-feira como um “bom exemplo a seguir” os projetos inclusivos para alunos com dificuldades desenvolvidos em Portugal, onde 97,5% das crianças e jovens com deficiência frequentam a escola.

No mundo, “as crianças com deficiência têm duas vezes mais hipóteses de não ir à escola”, lembrou Manos Antoninis, diretor da Global Education Monitoring Report, um organismo independente da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) que é responsável por analisar a situação da educação em todo o mundo.

Na abertura do simpósio internacional “Assegurar o Direito à Educação Inclusiva às Pessoas com Deficiência”, organizado pela UNESCO, Manos Antoninis saudou o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido em Portugal, considerando que “tem bons exemplos que devem ser repetidos por outros países”.

Manos Antoninis falou depois do ministro da Educação português, Tiago Brandão Rodrigues, que defendeu que, neste momento, “o desafio de todos os países é não deixar que a pandemia desvie o curso” de promover o sucesso e equidade escolar.

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O trabalho pela inclusão das crianças com deficiência em Portugal começou há cerca de 30 anos, em 1991, e hoje já há “97,5% de crianças e jovens com deficiência na chamada educação “mainstream”, sublinhou o ministro. Nesta missão, o ministro atribuiu o “papel principal” aos professores e educadores assim como a quem estrutura e implementa a formação dos professores na inclusão.

O secretário de estado da Educação, João Costa, que também participou no simpósio acrescentou que depois de ter os alunos nas escolas, Portugal está agora a trabalhar no passo seguinte que é ter um sistema que integre as crianças para a verdadeira inclusão.

No primeiro dia da conferência, que termina sexta-feira, a diretora-geral adjunta da Educação da UNESCO, Stefanie Giannini, recordou que a preocupação com a inclusão “começou com uma ideia muito simples: Não deixar ninguém para trás”. Com a pandemia, a tarefa tornou-se muito mais difícil, lamentou. Depois de um período inicial em que as escolas em todo o mundo fecharam portas e os alunos estiveram em casa, a maioria já regressou ao ensino presencial, mas ainda há países onde as aulas continuam suspensas.

Stefanie Giannini saudou “os professores que também estão na linha da frente”, à semelhança do que fazem os médicos nos hospitais.

Tiago Brandão Rodrigues lembrou que os tempos atuais exigem uma atenção redobrada: “O nosso desafio, enquanto Governos, não é apenas pensar em como não podemos deixar ninguém para trás, mas também como podemos impedir que os alunos abandonem a educação e as escolas”.

A igualdade de oportunidades e a inclusão social têm sido “dos principais desafios, em todos os países, na avaliação das respostas educacionais a essa crise de saúde”, reconheceu.

Esta pandemia representa para todos nós um desafio sem precedentes e, por isso, mais do que nunca, precisamos trabalhar lado a lado na criação de políticas inovadoras”, defendeu.

Na conferência esteve também o ativista sul-africano Eddie Ndopu. O jovem de 29 anos recordou que nasceu com uma doença grave que, segundo os médicos, lhe iria permitir viver apenas até aos cinco anos de idade. Cresceu com as “terríveis estatísticas das crianças com deficiências” que indicam que a grande maioria nunca viu uma sala de aula, mas conseguiu fazer a diferença, tornando-se “o primeiro africano com deficiência a ser admitido na Universidade de Oxford”, contou esta quarta-feira.

Para Eddie Ndopu, o ensino tem de ser pensado não apenas “para ter acesso ao ensino básico, mas para poder chegar também a Oxford”.