O momento tornou-se viral nos Estados Unidos. Na última segunda-feira, no momento em que se preparava para assinar os documentos de certificação do resultado eleitoral no Arizona, o governador republicano Doug Ducey ouviu o telemóvel a tocar, tirou-o do bolso, silenciou-o e prosseguiu com as assinaturas. O toque captou a atenção dos espectadores: era o “Hail to the Chief“, hino presidencial norte-americano, habitualmente escutado quando o Presidente dos EUA entra em cerimónias oficiais.
O timing não podia ser mais curioso. Ducey estava a assinar os documentos que formalizariam a vitória do candidato democrata, Joe Biden, que recolheu 49,4% dos votos naquele estado, contra 49,1% para Donald Trump. Em 2016, Trump tinha vencido a eleição no Arizona por uma margem de 3,5 pontos percentuais — e a captura do Arizona pelo democrata foi um dos elementos fundamentais para a vitória de Biden, que Trump continua a contestar.
A escuta do hino presidencial no momento da assinatura foi rapidamente interpretada como uma tentativa de última hora, da parte de Trump, de impedir a validação dos resultados num dos estados que firmaram a sua derrota. Sobretudo porque, em julho, o governador Ducey já tinha confessado ter alterado o toque do seu telemóvel para que todas chamadas com origem na Casa Branca fossem anunciadas com o “Hail to the Chief”.
HE'LL GET BACK TO YOU Back in July, Gov. Ducey said he changed his White House ringtone to "Hail to The Chief" so he wouldn't miss a call from Trump/Pence. Guess who called while Ducey was certifying Arizona's election? (7 secs in) pic.twitter.com/bzBGpfSIDf
— Brahm Resnik (@brahmresnik) November 30, 2020
Esta quarta-feira, Doug Ducey confirmou: era mesmo Donald Trump quem lhe estava a telefonar. Em curtas declarações à imprensa estadual, contidas devido à necessidade de manter os conteúdos das comunicações com a Casa Branca sob sigilo, Ducey confirmou que era o Presidente Trump quem estava do outro lado da linha, mas afirmou categoricamente que o objetivo da chamada não era a reversão do resultado eleitoral no estado. Ducey afirmou que, no final da cerimónia, devolveu a chamada à Casa Branca e conversou com Trump, mas não revelou detalhes sobre o conteúdo.
“Eu estava numa cerimónia pública, a fazer um ato oficial, portanto, independentemente de quem estava a telefonar, não iria atender o telemóvel naquele momento”, justificou Ducey. Questionado sobre se Trump pretendia tentar convencê-lo a reverter o resultado eleitoral, Ducey foi perentório: “A resposta é não“.
Apesar disso, Donald Trump não tem poupado nas críticas a Doug Ducey. Na segunda-feira, no dia em que foi assinada a certificação dos resultados eleitorais, Trump republicou no Twitter uma publicação que continha uma acusação de traição contra Ducey. “O governador Ducey traiu o povo do Arizona”, lê-se na mensagem, que Trump partilhou acrescentando um comentário: “VERDADE!”
TRUE! https://t.co/GaldE1fto5
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) November 30, 2020
O estado do Arizona contribuiu com 11 lugares no Colégio Eleitoral para a vitória de Joe Biden por 306-232. Atualmente, o Arizona é um dos vários estados em que Donald Trump e o Partido Republicano estão a procurar impugnar o resultado eleitoral através de processos em tribunal.