A candidata presidencial Ana Gomes esteve esta segunda-feira a ser entrevistada na rádio Observador onde começou por explicar a questão da vacina da gripe que tomou contra a lei — já que a vacina que tomou foi dada por uma amiga que vive em França — garantindo não ter “tirado a vez a ninguém”, que “até disponibilizou uma vacina” para outra pessoa. Na conversa de uma hora, a socialista também falou do PS, do Chega e da morosidade da justiça que estabelece como “prioridade” para Belém. E, claro, do seu adversário nesta campanha, Marcelo que diz ser “um perigo”.

“Não fiz nenhuma ilegalidade”. A garantia sobre a polémica toma da vacina da gripe é dada pela socialista que se escuda no facto de “na farmácia não ter sido levantado qualquer problema. Não disseram que era ilegal”, para rejeitar responsabilidades. E diz que na farmácia soube que “afinal havia vacinas mas eram para empresas que as tinham comprado. Por isso propõe ao Infarmed que 10% do stock seja destinado a grupos prioritários à cabeça.

Ana Gomes tomou vacina da gripe que amiga lhe trouxe de França. Ato é proibido pelo Infarmed

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A candidata foi também confrontada com tweets que faz nas redes sociais sem apresentar factos, como é o caso da morte de Sindika Dokolo que classificou de “ser estranha, muito estranha”. Questionada sobre se vai continuar a fazer este tipo de tweets se for eleita Presidente responde: “Depende”. Mas de seguida garante que é diplomata e que sabe “comportar-se como diplomata”.

“Quando tenho elementos não só falo deles como os carreio para a justiça”, afirma a socialista que nega ter escrito alguma coisa “sem fundamento” na sua conta do Twitter.

“Há uma nebulosa que leva a crer que possa haver esquema criminoso” na gestão do Novo Banco, afirmou Ana Gomes que tem dúvidas sobre o conteúdo do parecer do Ministério Público sobre a instituição porque “foi feito num curtíssimo espaço de tempo”. “Gostaria era de ver todo o processo BES começar a ser julgado”, diz ainda sobre este caso.

Questionada sobre que elementos dentro do Ministério Público podem ter interesses em atrasar os mega processos — como tem afirmado — a socialista não esclarece, mas garante que se for eleita “uma das questões prioritárias é que a Justiça funcione. Há imensas intervenções que a Presidente da República pode fazer para que os operadores que querem fazer o seu trabalho não sejam travados”, afirmou não esclarecendo quais.

Aproveitou ainda declarações recentes de Marcelo sobre o acidente de Camarate para atacar o atual Presidente da República. “Se fosse Presidente e também estivesse convencida que tinha sido um atentado — como estou — eu não descansaria. Sobretudo quando há um relatório que compromete todo o Estado a dizer o contrário”.  Sobre isto Ana Gomes aproveitou ainda para dizer que “Marcelo é o maior instabilizador do Estado e que “se acredita nisso é a maior suspeita que se pode levantar sobre todas as instituições do Estado e há que reabrir o caso”, defende.

Sobre Marcelo garante que, ao contrário deles, teria impedido a substituição do presidente do Tribunal de Constas, que não teria aceite o acordo dos Açores — “que é instabilizador da democracia em Portugal, mas que não tem apenas como objetivo mudar a direção do PSD mas condicionar o período pós-Costa no PS”.  “O que vai seguir-se em Portugal parece-me muito perigoso se Marcelo Rebelo de Sousa continuar a ser Presidente, espero que isso não aconteça”.

“Alguns socialistas até é melhor que não estejam comigo”

Na entrevista ao Observador, a socialista falou ainda da falha no apoio do PS à sua candidatura — o partido decidiu não apoiar nenhum candidato presidencial oficialmente —  mas para dizer que que na Madeira, nos dois últimos dias em pré-campanha, “foram muitos os militantes do PS” que estiveram consigo. “E o que se passou na Madeira têm-se passado em todo o país”, acrescentou discordando do PS por não ter um candidato próprio.

Perante a insistência sobre por que motivo não consegue convencer o seu próprio partido, Ana Gomes dispara: “Alguns até é melhor que não estejam comigo”. Mas não quis detalhar a que socialistas se referia, apenas disse que “essas pessoas sabem quem são”.

Não teria viabilizado Governo dos Açores por causa do Chega

Questionada sobre o acordo parlamentar nos Açores, que inclui o Chega, a candidata presidencial afirmou que “isto não pode ser só uma questão de aritmética” e que o PSD se coligou a “uma formação que quer semear o ódio e que tem práticas contra a Constituição” que não viabilizaria se fosse Chefe de Estado. Ainda assim não responde à questão sobre se, como Presidente, dissolveria a Assembleia Legislativa Regional.

Disse que não se substitui ao Tribunal Constitucional, mas diz que como Presidente pediria à instituição “se mantém a avaliação que levou à legalização do Chega, à luz do que está na Constituição.

Mas teria alguma relação com o Chega, enquanto Presidente? “Como diplomata estou preparada para falar com o diabo. Agora quando se trata de ter uma relação pessoal isso jamais teria”. Garante que enquanto o partido for legal, “não poderia furtar-se a recebê-lo em Belém, mas isso não queria dizer que lhe apertaria a mão. Isso jamais“.

Também afirmou, já no final da entrevista, que se fosse eleita, à luz dos mesmos princípios, não teria “uma relação normal com a China”, embora não defenda o corte de relações com nenhum país”.