Ana Gomes revelou esta terça-feira no Twitter que, depois de três meses em lista de espera, se cansou de aguardar pelo telefonema da farmácia a avisar que a sua dose da vacina contra a gripe estava finalmente disponível e que resolveu ela própria o problema. “Acabei de tomar, trazida por uma amiga de França”, contou a candidata à presidência da República naquela rede social. O ato, porém, viola as regras da utilização de medicamentos em Portugal.

Contactada pelo Observador, fonte oficial do Infarmed, a entidade que regula o mercado do medicamento, explicou que trazer medicamentos do estrangeiro para uso pessoal é proibido. Além disso, é também arriscado para a saúde de quem os usa.

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“A importação de medicamentos para uso próprio pelos utentes não tem suporte legal e acarreta riscos para a saúde dos consumidores. Podem não estar garantidas as condições de segurança, qualidade e eficácia exigíveis para um medicamento, quer durante o processo de aquisição, quer durante o próprio transporte. Os consumidores só podem adquirir medicamentos nas farmácias (comunitárias e hospitalares) e nos locais de venda de medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM)”, explica o regulador.

Na resposta enviada ao Observador, o Infarmed detalha ainda que “no caso das pessoas que se desloquem para Portugal e que tragam medicamentos para uso próprio, estes devem fazer-se acompanhar de cópia das receitas médicas ou uma declaração do médico que descreva os medicamentos que habitualmente utiliza”. É isso, aliás, que pode ler-se num documento publicado no site do regulador, que explica também de forma clara que “se houver necessidade de utilizar um medicamento que não está autorizado/disponível em Portugal, a sua obtenção terá que ser feita através de uma autorização de utilização especial, a qual apenas é permitida às farmácias comunitárias e hospitalares.”

Contactada pelo Observador, Ana Gomes garante que não sabia que o ato era ilegal. “Não tenho conhecimento, ninguém me disse que era ilegal”, diz. A candidata a Presidente da República conta, aliás, que a vacina trazida de França, pela amiga, acabou por ser administrada numa farmácia, como se uma das que estão disponíveis em Portugal se tratasse. Nessa farmácia, garante, disseram-lhe que “normalmente” só administravam vacinas “de lá”, mas como não tinham vacinas e Ana Gomes tinha aquela, “registaram tudo” e “deram a vacina”.

“Não levantaram nenhum problema”, acrescentou, explicando que lhe foi pedido o cartão do cidadão e, depois de administrada a vacina, os seus dados foram registados como vacinada.

Até lá, assegura, a vacina esteve sempre guardada no congelador e que estava “integral” quando a levou à farmácia. “Essa minha amiga é portuguesa e vive em França, trouxe a vacina para o marido, que é britânico, mas o marido entretanto tinha tomado e ela tinha uma vacina a mais”, contou a candidata presidencial ao Observador, explicando que foi dessa forma que teve acesso à vacina, depois de ter estado à espera desde setembro na sua farmácia. “Eu não só me inscrevi, em setembro, como fui a várias farmácias perguntar e disseram-me que não havia vacina, já fui a duas ou três farmácias e disseram-me isso”, diz ainda.

A candidata a Belém tem sido fortemente criticada no Twitter a propósito da publicação. “Que vergonha de tweet. Se estava indeciso, acabei de decidir o meu voto”, escreveu um utilizador da rede social. “Estes momentos de ‘Trump feminino’ são uma desgraça. Que vergonha alheia. Encomendei na minha farmácia tradicional em Gaia e recebi. E sou tudo menos importante.”

A uma dessas críticas, Ana Gomes respondeu, garantindo que não arranjou “nenhum esquema” e que só aceitou a oferta da amiga, que “tinha trazido vacina para familiar em alto risco, que entretanto a tinha conseguido tomar”. Ao utilizador que a criticou, a candidata à Presidência da República sugere que vá “desanuviar”, “por exemplo contemplando o Bugio”.

No tweet original, a militante do PS e antiga eurodeputada, de 66 anos, tinha aproveitado ainda para interpelar diretamente a Direção-Geral de Saúde (DGS), a propósito do relato que uma farmacêutica lhe terá feito, a dar conta de que, apesar da indisponibilidade para o público em geral, haverá vacinas disponíveis, “mas reservadas para certas pessoas de certas empresas, que as compraram”.