A par das duas novas estrelas Michelin, Portugal foi galardoado com outras distinções vindas do famoso guia gastronómico. Apesar de menos conhecidos (e mediáticos), os Bib Gourmand, nome dos prémios, são a segunda referência mais importante contida nos livros vermelhos que todos os anos pretendem guiar comensais de todo o mundo a boas mesas. Este ano, Portugal ganhou cinco novas referências, que se juntam às 35 que já existiam: o Avista, no Funchal (do chef Benoit Sinthon); o algarvio Check-In Faro (do chef Leonel Pereira); O Frade, em Lisboa (do chef Carlos Afonso); e o portuense Semea by Euskalduna (do chef Vasco Coelho Santos). Mas o que são afinal estes galardões?

“Todos falam das estrelas atribuídas pelo guia Michelin, que foi publicado pela primeira vez há mais de 100 anos, e com razão. (…) Mas não vamos esquecer os nossos BibGourmand”, afirmou Michael Ellis, o antigo Diretor Internacional do Guia Michelin, antecessor do atual Gwendal Poullenec, numa entrevista cedida em maio de 2018. Apesar da história centenária, como destaca o antigo dirigente, esta categoria de distinção é relativamente recente, só começou a ser atribuída a partir de 1997, e foi criada com o objetivo de dar destaque a restaurantes que, não sendo de luxo ou do chamado ‘fine dining’ mais clássico do talher de prata e a toalha branca, servem comida “muito boa e a um preço muito razoável”, como diz Ellis no mesmo trabalho. “Os nossos Bib Gourmand são entregues a restaurantes que oferecem um menu de boa qualidade por um preço modesto”, reforça.

Apesar de recente, esta menção foi beber inspiração aos anos cinquenta, quando os Guias Michelin da altura incluíam, para lá das estrelas, um “R” vermelho à frente de certas listagens — “R” de “Repas”, refeição em francês. Só a partir de 2007 é que a imagem gráfica desta nomeação passou a ser o Bibendum (o nome do famoso boneco da Michelin) a lamber os lábios.

Oficialmente são os mesmos inspetores que decidem sobre as estrelas que “descobrem bons pequenos restaurantes que oferecem uma excelente relação qualidade/preço”, explica Ellis, e dão especial valor à “cozinha regional, tradicional, moderna, inventiva”, acrescenta. Isto significa que durante muito tempo este tipo de prémio era atribuído a casas de comida tradicional com um serviço e comida excecional, tendo em conta o preço que é pago. Veja-se que na listagem hoje atual encontramos referências como o famoso Solar dos Nunes, em Lisboa; a Taberna A Laranjinha, na Covilhã; O Parreirinha, em Queluz; ou até a Tasca do Zé Tuga, em Bragança. De há cerca de um ano a esta parte, porém, têm dado entrada nesta categoria espaços diferentes, restaurantes ao estilo dos criativos novos bistros franceses liderados por jovens cozinheiros talentosos que servem comida de qualidade, com uma distinta marca autoral ou de sofisticação e em ambientes descontraídos e sem formalismo. Basta ver o exemplo do ano passado com a nomeação da Taberna Ó Balcão, em Santarém, do chef Rodrigo Castelo, ou do In Diferente, da chef Angélica Salvador, que fica na zona da Foz (Porto).

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As nomeações deste ano estão em linha com esta maior atenção prestada a projetos como o vibrante O Frade, que serve comida típica portuguesa reinventada pelas mãos do jovem e talentoso Carlos Afonso e servida, maioritariamente, num divertido balcão. O Semea by Euskalduna é outro exemplo do trabalho de um jovem chef que escolhe uma abordagem mais descontraída para servir comida entusiasmante muito assente em clássicos tradicionais portugueses. Vasco Coelho Santos, o chef em questão, que tem também no seu outro espaço, o Euskalduna, um eterno candidato à irmã mais velha do Bib, a estrela, que teimosamente continua sem chegar.

Apesar de tudo, e olhando para o critério “relação qualidade/preço”, é inquestionável que o guia ainda tem muito por conhecer (e dar a conhecer) neste departamento e no contexto português — não faltam sítios, de norte a sul, que cumpram este requisito. Mesmo assim é bom presságio ver uma maior atenção dada a este campeonato que, também, parece estar muito atento ao que se passa fora das grandes cidades, à sabedoria e sabor da cozinha tradicional e ao espírito fresco dos jovens que se começam a afirmar.

Lista completa dos Bib Gourmand de Portugal:

  • O Frade (Belém)
  • Semea by Euskalduna (Porto)
  • O Javali (Bragança)
  • Check-In Faro (Faro)
  • O Marinheiro (Albufeira)
  • Avenida (Lagos)
  • Dom Joaquim (Évora)
  • Solar do Forcado (Portalegre)
  • A Bolota (Terrugem)
  • Cais da Estação (Sines)
  • 3 Pipos (Tondela)
  • Muralha da Sé (Viseu)
  • Taberna A Laranjinha (Covilhã)
  • O Típico (Águeda)
  • Dóri (Aveiro)
  • Marquês de Marialva (Cantanhede)
  • Solar do Bacalhau (Coimbra)
  • Casa Matos (Saireu)
  • Mário Luso (Carvalhos)
  • Machado (Maia)
  • In Diferente (Porto)
  • Dom José (Bombarral)
  • Casinha Velha (Marrazes)
  • Saraiva’s (Lisboa)
  • Solar dos Nunes (Lisboa)
  • O Parreirinha (Queluz)
  • Le Babachris (Guimarães)
  • Histórico by Papaboa (Guimarães)
  • Pedra Furada (Pedra Furada)
  • Tasquinha da Linda (Viana do Castelo)
  • Camelo (Viana do Castelo)
  • Casa Chef Victor Felisberto (Alferrarede)
  • Taberna Ò Balcão (Santarém)
  • Cêpa Torta (Alijó)
  • Tasca do Zé Tuga (Bragança)
  • Carvalho (Chaves)
  • Brasa (Macedo de Cavaleiros)
  • Vila do Peixe (Câmara de Lobos, Madeira)
  • Casal da Penha (Funchal, Madeira)