O Ministério do Ambiente e da Ação Climática e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), vão apresentar queixa ao Ministério Público sobre a montaria que decorreu este fim de semana na Herdade da Torrebela, no concelho da Azambuja. Associações de caçadores portugueses repudiam o acontecimento.

O ICNF, em conjunto com uma brigada da GNR/SEPNA, recolheram “fortes indícios de prática de crime contra a preservação da fauna durante uma montaria realizada a 17 e 18 de dezembro, na qual terão participado 16 caçadores”, refere o comunicado de imprensa do ministério. Nessa montaria, terão sido mortos 540 animais.

“Situação de abate indiscriminado”. 540 animais mortos após montaria na Azambuja. Caso já está a ser investigado

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O abate dos animais numa zona cercada — cerca de 1.000 hectares vedados com muros — e os indícios de que a entidade concessionária da zona de caça não terá respeitado a gestão sustentável da fauna (entre outros incumprimentos), levaram o ICNF a suspender, com efeitos imediatos, a licença da Zona de Caça Turística de Torrebela (nº 2491-ICNF).

O Ministro do Ambiente e da Ação Climática considera que a atividade cinegética deve ser “entendida como uma prática que pode contribuir para a manutenção da biodiversidade e dos ecossistemas”. Havendo um desrespeito desse princípio, o ministério diz que vai convocar o Conselho Nacional da Caça para discutir a prática de montarias em Portugal.

“Caça não é isto!”, reagem caçadores portugueses

A Associação Nacional de Proprietários Rurais (ANPC), a Fencaça e a Federação Nacional de Caçadores Portugueses (CNPC) repudiam o tipo de caçada feito na Herdade da Torrebela e pedem ao ICNF para averiguar se houve “extermínio” de animais na tapada. As associações alegam que este abate dos animais estará relacionado com a construção da mega central fotovoltaica, em processo de consulta pública, que já foi alvo de contestação por ter abatido vários sobreiros (espécie protegida em Portugal).

“Caça não é isto! Os caçadores não se reveem e repudiam este episódio!”, escrevem as associações num comunicado conjunto.

“A caça deve ser sempre encarada como uma forma de exploração sustentada dos recursos cinegéticos, garantindo-se a continuidade das populações”, defendem as associações. Um abate como o que aconteceu no fim de semana poderia eliminar o património cinegético ali existente, violando os princípios éticos dos caçadores e a Lei de Bases Gerais da Caça, conforme reforçado por João Carvalho, secretário-geral da ANPC, à rádio Observador.

“O sector da caça está em choque” diz a Associação Nacional de Proprietários Rurais

Aquilo que aconteceu no fim de semana não pode ser chamado de atividade cinegética, caça ou processo de montaria, diz Jacinto Amaro, da Federação Portuguesa de Caça, à rádio Observador. “Foi um processo de esperteza saloia”, em que o proprietário quis eliminar os animais da propriedade, ganhando muito dinheiro com o processo.

Federação Portuguesa de Caça: “Não nos identificamos com este ato bárbaro”

O abate de animais é necessário, justifica a nota conjunta, “para evitar situações de sobre-população causadoras de desequilíbrios e de danos na vegetação (culturas agrícola, florestas e habitats naturais), problemas sanitários e acidentes rodoviários”. Mas um abate massivo como o reportado só faria sentido para conter um surto. “O que teria que ser previamente decretado pelo ICNF em conjunto com a DGAV [Direção-Geral de Alimentação e Veterinária]”, escrevem. O que não terá sido o caso, visto o ICNF ter dito que “não teve conhecimento prévio desta ação”.

Atualizado com a reação das associações de caçadores portugueses.