Olivier Duhamel, antigo eurodeputado pelo Partido Socialista francês entre 1997 e 2004, é acusado de abusar sexualmente o seu enteado quando ele tinha apenas 14 anos. O escândalo já levou a que o também constitucionalista se demitisse da presidência da Fundação Nacional de Ciências Políticas, a entidade que gere a conhecida Sciences Po, o Instituto de Estudos Políticos sediado em Paris. O gabinete de Paris do Ministério Público abriu um inquérito esta terça-feira para averiguar os factos.

Cerca de 30 anos depois, foi Camille Kouchner — irmã gémea do enteado de Duhamel — quem denunciou o caso num livro com o título “A Família Grande”. Segundo os seus relatos, o antigo eurodeputado convidou, durante várias noites, o enteado ao seu quarto para realizar com ele o que seriam alegados “jogos sexuais”, ao que conta o Le Monde.

Olivier Duhamel estava na altura casado com Evelyne Pisier, uma historiadora também pertencente à intelligentsia parisiense, que teria conhecimento da história. Todavia, a mãe dos gémeos decidiu manter o silêncio dos alegados abusos sexuais para “evitar o escândalo”. A vítima era filho de Evelyne Pisier, que morreu em 2017, e Bernard Kouchner, antigo ministro da Saúde e dos Negócios Estrangeiros de François Miterrand e de Nicolas Sarkozy, respetivamente.

De acordo com o livro agora publicado, o enteado de Duhamel contou o sucedido à mãe e à irmã, mas não quis que, até agora, o caso viesse a público. E justificou, em entrevista ao Le Monde: “Tudo o que conta a minha irmã gémea é verdade. Durante anos, enquanto vivi com a minha mãe, decidimo-nos calar. Tendo morrido a minha mãe, a minha irmã decidiu contar a história”. Camille Kouchner revela ainda que o irmão sofreu de ataques de pânico durante os anos em que era alegadamente vítima de abusos sexuais.

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Relativamente a uma possível acusação, a irmã da vítima não se mostra confiante, uma vez que o caso já deverá ter prescrito.

As agressões sexuais são classificadas de incesto quando são cometidas contra uma vítima sobre a qual o agressor tem autoridade legal ou de facto. […] Mas tu és professor de direito. És advogado. Sabes bem que te podes livrar [da acusação] por prescrição. Tudo te corre bem”, ironiza no livro Camille Kouchner.

No entanto, o gabinete de Paris do Ministério Público já abriu uma investigação sobre as “acusações de violação e agressão sexual cometidas por uma pessoa com autoridade sobre um menor” e ainda sobre “agressões sexuais por uma pessoa que possui autoridade sobre outra”, avança o Le Monde. A investigação estará a cargo da Brigada de Tutela de Menores da direção regional da polícia judiciária francesa.

O caso também já teve outras repercussões na vida de Olivier Duhamel, que decidiu demitir-se de todos os cargos que desempenhava, incluindo o de Presidente da Fundação Nacional de Ciências Políticas. Na sua conta pessoal do Twitter, entretanto apagada mas citada pelo Le Figaro, o constitucionalista revela que “está a ser alvo de ataques pessoais” e deseja “preservar as instituições” nas quais trabalha, tendo por isso decidido abandonar as funções que desempenhava.

Olivier Duhamel foi professor emérito da Universidade Sciences Po. Também foi assessor do Conselho Constitucional Francês de 1983 a 1995 e eurodeputado pelo PS francês de 1997 a 2004. Escrevia ainda em vários jornais e era membros de think tanks em França.