Depois da invasão ao Capitólio na passada quarta-feira, a Clearview AI, uma aplicação de reconhecimento facial frequentemente usada pelas autoridades norte-americanas, registou um aumento de utilizações, avançou o presidente executivo da empresa, Hoan Ton-That, ao The New York Times.

“Houve um aumento de 26% nas pesquisas em relação ao nosso volume normal de pesquisas durante a semana”, confirmou Hoan Ton-That em declarações ao jornal norte-americano.

As imagens do ataque publicadas online têm sido utilizadas pelo FBI para identificar os invasores, tendo a agência federal também recrutado a ajuda de departamentos da polícia local de todo o país para esse efeito.

“Estamos a examinar todas as imagens ou vídeos disponíveis em todos os sites que podemos encontrar”, terá revelado Armando Aguilar, chefe assistente do Departamento da Polícia de Miami, que supervisiona as investigações, cita o mesmo jornal.

Os agentes deste departamento estão a usar a Clearview AI para tentar identificar os manifestantes pró-Trump que invadiram o Capitólio, enviando depois as possíveis correspondências para a delegação do FBI em Miami. Só na primeira hora de pesquisa, conseguiram identificar uma potencial correspondência.

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As ferramentas tradicionais de reconhecimento facial usadas pelas autoridades norte-americanas dependem de bases de dados com fotografias fornecidas pelo governo, a partir de imagens de cartas de condução ou de outros documentos de identificação. Porém, no caso da Clearview AI, que é usada por mais de 2.400 unidades policiais nos EUA e Canadá, o reconhecimento facial é feito através de uma base de dados que conta com mais de 3 mil milhões de fotografias recolhidas em redes sociais e noutros sites de partilha pública.

Quando é feita uma pesquisa, a app fornece links de sites onde o rosto da pessoa apareceu. É uma espécie de motor de busca para imagens, mas com tecnologia mais avançada que permite identificar os mesmos traços faciais de uma fotografia numa outra que tenha sido publicada online.

Em parte devido à sua eficácia, o Clearview AI é também muito controverso. Várias organizações defensoras dos direitos de privacidade online colocaram dúvidas sobre a segurança desta ferramenta. A startup não é regulada e, se não houver controlo sobre a forma como é utilizada, se cair nas mãos erradas pode ser aplicada para fins menos nobres. Essa é a preocupação do Surveillance Technology Oversight Project, um projeto que procura salvaguardar a privacidade tecnológica e que pede mais regulamentação na vigilância que se faz aos cidadãos.

As preocupações sobre as questões de segurança relacionadas com o modus operandi da aplicação cresceram em fevereiro do ano passado, quando a Clearview foi alvo de um ataque informático. Os hackers tiveram acesso à lista de clientes da empresa — desde agências de investigação governamentais até forças policiais e bancos —, mas não acederam ao histórico de pesquisas feitas por eles.