Se há campanhas que mal saem à rua (agora dá-se razão a Marcelo após ter testado positivo), não é o caso da de Marisa Matias. A candidata a Belém já percorreu grande parte do país na pré-campanha, mas está de volta à estrada e começou a semana logo com três iniciativas no mesmo dia: Almada, Abrantes e Lisboa. Primeiro, uma cuidadora informal, depois as atenções postas no ambiente e nas alterações climáticas. Pode dizer-se que foi um dia de causas: os cuidadores informais são uma “luta” de Marisa há mais de dez anos e o ambientalismo foi a porta de entrada na política.
Parece que a queda que sofreu no final do ano, e onde fraturou as costelas, já lá vai, porque Marisa Matias mantém uma campanha agitada, dentro dos possíveis, e com as devidas adaptações devido à pandemia da Covid-19. Ficar “dentro da caixinha ou dentro da bolha” está fora de questão e, como tal, com ou sem pandemia, com mais ou menos impedimentos, com mais ou menos regras e distanciamentos, a candidata recusa uma campanha sem ouvir as pessoas. Assim, ouvir um cuidador informal, em representação de um grupo, ou meia dúzia de ambientalistas em espaço aberto faz parte da estratégia definida pela organização da campanha de Marisa Matias, que procura passar mensagens através de exemplos.
Marisa esteve sempre sem pressas, à conversa, umas vezes com vários jornalistas por perto, outras nem tanto. Demorou-se nos sítios. Em Abrantes, ao lado do rio, ainda teve oportunidade de ‘atirar’ um dos candidatos ao Tejo, mas preferiu não o fazer. Na verdade, preferia atirar ideias à água. E no fim do dia, depois de muitas horas de campanha, teve tempo para trocar opiniões sobre dinossauros e para alertar que ‘não há planeta B’ e que também podemos desaparecer do Planeta Terra.
O medo de comer peixe do rio
Marisa Matias comeu fataça do rio ao almoço e foi até às margens do Tejo, em Abrantes. Até aqui, tudo normal. Pelo menos até a candidata apoiada do Bloco de Esquerda ouvir os ambientalistas e estar lado a lado com a poluição do Tejo. Em jeito de desabafo, e enquanto esperava que todos os jornalistas estivessem a postos, brincou com a situação: “Disseram-me ‘vamos lá ver como vai estar amanhã.'”
“Acho que não é deste rio”, diz, entre sorrisos, mostrando estar “tranquila” e enquanto um dos ambientalistas grita “a fataça é de confiança, a fataça é de confiança…” Marisa completa: “Porque não é do Tejo, exatamente.” Se é do rio ou não, não se ficou a saber. Mas nada indica que tenha feito mal à candidata, pelo menos até agora. Depois do peixe a da visita, seguiu-se um teste à Covid-19 porque vai viajar para as ilhas. Depois de Marcelo ter dado positivo, o resultado desse teste passa a ter ainda mais importância porque os candidatos debateram juntos.
Marcelo, Governo e mais Marcelo
Marcelo foi o maior alvo das críticas de Marisa Matias neste primeiro dia de campanha eleitoral. O dia até começou com um tema que une os dois candidatos, os cuidadores informais, em que a bloquista já elogiou a postura do Presidente da República, mas a ida até Abrantes mudou tudo. O chefe de Estado não fez tudo o que tinha ao seu alcance para colocar o ambiente no “centro da agenda política nacional” e foi também acusado de ter contribuído por uma “ausência de comunicação com o país vizinho” sobre o Tejo.
As críticas estendem-se à Estufa Fria, ao comício de Marisa Matias, quando alertou que não tinha sido dada a devida importância aos jovens e à forma como fizeram uma “autêntica revolução em Portugal” em vários temas. Marisa tinha feito bem diferente e estaria ao lado de quem saiu às ruas na greve do clima.
O Governo também levou com críticas por a palavra ‘verde’ estar muito reduzida no panorama nacional. Marisa considera que é preciso menos verde na lapela e mais problemas de fundo resolvidos.