Filha de mãe espanhola e pai sul-coreano, há 19 anos que Joana Kim vive na ilha cabo-verdiana do Sal, mas, como vários estrangeiros que ali têm o negócio, a falta de turismo devido à pandemia deixou o seu bar quase sem trabalho.

Ainda assim, diz, é para resistir: “Temos de resistir. Vindo trabalhar todos os dias, é como se resiste. Não há outra forma”, conta a empresária, natural das Canárias.

A viver em Cabo Verde desde 2002, abriu há 17 anos o bar Chill Out, em plena rua pedonal de Santa Maria, outrora repleta de turistas, mas hoje praticamente deserta, por entre negócios de belgas, alemães, italianos e franceses ainda em funcionamento.

Atualmente, conta, em entrevista à Lusa, fatura 10% do negócio que diariamente fazia antes da pandemia de Covid-19. “Neste momento estamos com um grupo de cinco pessoas, mas no ano passado, por esta altura, éramos 12”, explica.

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Resistir a algo que nunca viu passa pela adaptação, enquanto espera por tempos melhores, como os colegas do Sal, grande parte ainda de portas fechadas porque o negócio não compensa.

“Estamos a tentar adaptar a nossa casa aos clientes locais e estamos a tomar outras medidas. Neste momento estou a fazer o pedido para transformar em microempresa, porque o volume de negócios caiu”, diz ainda.

Ainda em março de 2020, antes mesmo de decretado o estado de emergência em Cabo Verde, obrigando ao confinamento e encerramento das empresas, a situação na Europa, principal emissor de turistas para o Sal, motivou-lhe a preocupação. Em 19 de março conversou com os trabalhadores e foram todos para casa. O Chill Out, recorda, fechou portas e reabriu apenas em junho.

“Sou uma pessoa consciente, mandei todos os trabalhadores para casa, em quarentena”, recorda, sendo que a maioria da sua equipa continua ainda hoje em lay-off.

Considera-se uma pessoa “positiva”, mas também realista. Daí que só espera melhorias na procura turística pelo Sal “lá para outubro”, com a chegada do Inverno à Europa, época alta do turismo em Cabo Verde.

Até lá, Joana Kim, que até já fala crioulo, garante que é para ficar em Cabo Verde, até porque acredita que o pior já passou: “Esta é a minha terra, a minha casa. É certo que as minhas origens são outras, mas esta é a minha casa”.

Na praia do Algodoeiro, ponto de passagem obrigatória na ilha e onde funcionam vários resorts de referência do Sal, apenas os chapéus de sol marcam presença, abrindo caminho para o Bikini Beach, um bar e restaurante construído sobre a água e protegido por dois molhes, também edificados propositadamente.

O desenho foi do investidor inglês Robert Jarret, líder do Resort Group e que passa grande parte do ano em Santa Maria, onde já construiu quatro hotéis e investiu mais de 1,2 mil milhões de euros nas várias centenas de quartos que integram a oferta local.

O Bikini Beach foi um projeto coqueluche do inglês, concluído em 2016, e que três anos depois foi distinguido internacionalmente pela Tripadvisor. Num cenário paradisíaco, entre piscinas e jacuzis, restaurante e bar no interior, água tépida e azul a banhar a praia envolvente, chegava a ter eventos de 700 pessoas, mais de uma centena de clientes todos os dias, com fila de espera.

Desde março, com a pandemia, que tudo mudou, como conta à Lusa Kátia Amado, diretora-geral do Bikini Beach e braço-direito do empresário Robert Jarret neste empreendimento. Da enchente, passou rapidamente ao encerramento total, com a apressada partida dos turistas, que não voltaram.

Desde junho que tenta funcionar ao fim de semana, com os clientes locais.

“O resultado não tem sido muito bom, porque a maioria da população está no lay-off. Estamos a sobreviver com o Bikini Beach aberto, porque fechar e voltar a abrir custa mais dinheiro”, conta Kátia.

Apesar das dificuldades, garante que a mensagem do empresário Robert Jarret, para quem trabalha em Cabo Verde há cerca de 20 anos, é de apoio incondicional e de resistir.

“Ele tem dado todo o apoio, todo o suporte. A ideia de abrir e trabalhar para o mercado local, reduzindo os preços, foi dele”, recorda.

Ainda assim, da equipa de 53 pessoas que diariamente trabalhava no Bikini Beach, Kátia conta apenas com 15 a tempo inteiro atualmente.

“Às vezes não conseguimos gerar dinheiro nem para pagar a eletricidade. Mas mesmo assim estamos a insistir, porque manter aberto é melhor”, admite.

Sandir Palavra, DJ e responsável pela programação de eventos do Bikini Beach, explica que a prioridade dos últimos meses foi definir e aplicar as regras de segurança devido à covid-19. A palavra de Sandir é agora de “confiança”, mas espera que demore pelo menos seis meses a trabalhar “como antigamente”.

“Fomos os primeiros a fechar e os últimos a reabrir”, lamenta, enquanto tenta programar alguns temas para animar o espaço, mas cujos clientes cabo-verdianos não chegam para fazer funcionar.

Um cenário que deixa Kátia Amado desconfortável: “Dá uma tristeza enorme. O mês de janeiro é época alta, desde as 10h00 começava a funcionar com os clientes na porta e pessoas a aguardar. Dói ver isto”.

Contudo, afirma que os contactos não param e que os turistas querem viajar para o Sal, porque “têm vontade”. Daí pensar que ainda este ano será possível recuperar algo do que se perdeu em 2020.

“Acredito que haverá dias melhores. Quando melhorar vai ser de muita visita”, desabafa, esperançada.