A bastonária da Ordem dos Enfermeiros considera “incompreensível” o anúncio da ministra da Saúde desta segunda-feira de que os titulares de órgãos de soberania vão começar a receber a vacina contra a Covid-19 já na próxima semana. Ana Rita Cavaco afirma mesmo ser “um péssimo exemplo” que os políticos tenham prioridade sobre os profissionais de saúde e utentes de lares. E justifica: “A maioria dos idosos em lares está a morrer. Os políticos não”.

Durante a tarde, a Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros criticou a medida do Governo, considerando-a “inaceitável”. Já ao Observador, a bastonária foi mais longe: “Tememos que esta estratégia sirva para desculpar os chico-espertos — autarcas e provedores de santas casas — que furaram o plano de vacinação e que levaram maridos e mulheres”.

Tentar furar uma fila de vacinação, numa altura tão difícil como aquela em que o país se encontra, é demonstrar não ter caráter. Noutros países onde isso aconteceu, os responsáveis tiveram de se demitir. Em Portugal, gostaríamos de assistir ao mesmo”, critica a bastonária da Ordem dos Enfermeiros.

Já na semana passada, a responsável tinha denunciado no Parlamento casos em que titulares de cargos políticos e responsáveis de instituições passaram à frente de profissionais de saúde e idosos e receberam a vacina contra a Covid-19 sem indicação para tal e sem estarem em contacto com infetados. “É um péssimo exemplo”, volta a criticar.

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Agora, Ana Rita Cavaco adianta ao Observador que vai escrever ao Presidente da República para que se esclareça o conceito de “titulares de órgãos de soberania” — expressão utilizada pela ministra da Saúde esta segunda-feira. “Uma coisa é o primeiro-ministro, outra coisa são estes cargos de que estamos a falar. Isto não é aceitável”, acusa a bastonária.

Ouça aqui as declarações de Ana Rita Cavaco ao Observador:

Enfermeiros contra vacinação prioritária de titulares de órgãos de soberania. “A maioria dos idosos em lares está a morrer, os políticos não”

A bastonária da Ordem dos Enfermeiros lembra que a vacina contra a Covid-19 ainda não foi administrada a todos os profissionais de saúde — tanto do público, como do privado. A bastonária destaca também que “muitos enfermeiros” dos centros de saúde e até das brigadas de vacinação ainda não foram inoculados. “Por isso, dar prioridade aos titulares de órgãos de soberania não é aceitável”, reforça.

Nos Açores, o secretário regional da Saúde já fez saber que os titulares de órgãos de soberania não serão prioritários na vacinação contra a Covid-19 no arquipélago. “Entendemos que há populações mais vulneráveis e que precisam mais de ser vacinadas”, afirma Clélio Meneses, citado pela Agência Lusa.

Para além dos políticos, e de acordo com Marta Temido, a vacinação vai avançar na próxima semana também para bombeiros, profissionais de serviços essenciais e forças de segurança.