A chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu esta terça-feira o acordo de investimentos entre a União Europeia e a China, mas advertiu sobre os limites da cooperação económica com Pequim, pelas diferenças em torno de “valores fundamentais”.
Na sua intervenção durante a edição virtual do Fórum de Davos, a chanceler sublinhou a importância do acordo de princípio sobre investimentos alcançado em finais de dezembro entre a União Europeia (UE) e a China, em grande parte devido à sua própria intervenção no exercício da presidência rotativa do Conselho Europeu.
Merkel disse estar “muito feliz” com o acordo, porque supõe um salto qualitativo para os investimentos europeus na China ao alcançar uma “melhor reciprocidade” e “mais transparência nos subsídios”, além de garantir um “acesso justo” no domínio da alta tecnologia.
O pacto consegue também estabelecer uma série de requisitos na “proteção do meio ambiente” e condições laborais “justas”, algo “muito importante”, segundo a chanceler.
No entanto, Merkel destacou que o seu entendimento de multilateralismo é diferente do do Presidente chinês, Xi Jinping, que defendeu a cooperação internacional e o comércio livre na segunda-feira durante a sua intervenção no fórum.
A chanceler sublinhou que ambas as conceções chocam em “valores elementares”, como a “dignidade de cada pessoa”, pelo que a cooperação está limitada.
Além disso, acrescentou que a “transparência é fundamental” no que se refere à China, para que se possa saber desde fora “o que se passa num país” e se leva a cabo “um comércio baseado em regras ou não”, um ponto sobre o qual reconheceu que tem havido recentemente “tensões e controvérsias”.
Embora não explicitamente, Merkel parecia referir-se a relatórios recentes sobre o uso maciço por parte da China de pessoas da minoria étnica uigur como mão-de-obra forçada na produção de algodão e na fabricação de painéis solares.
Merkel considerou ainda que faltou transparência a Pequim no início da pandemia de Covid-19, quando começaram a ser detetados casos da doença e no que se refere ao fornecimento de informações à Organização Mundial da Saúde.
Para a chanceler alemã, o multilateralismo significa também trabalhar para fortalecer as cadeias de produção transnacionais, evitar problemas de abastecimento no início da pandemia e prevenir o surgimento do “protecionismo regional”.
Nesse sentido, defendeu também a revitalização da Organização Mundial do Comércio após a “paralisia dos últimos anos”, porque atualmente “não está totalmente operacional” e é “parte essencial de um comércio baseado em valores”.