Cerca de dez anos depois de ter sido diagnosticado com Alzheimer, morreu Licínio França, anunciaram este sábado à noite nas redes sociais a filha, Joana, e a ex-mulher, a atriz Noémia Costa, com quem foi casado ao longo de 22 anos. O ator tinha 67 anos.
Antes de chegar à televisão — onde nunca desempenhou papéis maiores mas fez parte do elenco fixo de Eu Show Nico, com Nicolau Breyner, em 1988, e chegou a participar em várias telenovelas — Licínio França popularizou-se como cantor, na década de 1970.
Para além de ter participado em concursos e de ter gravado vários singles, formou, com Noémia Costa, de quem se viria a separar em 2005, o Duo Big Ben, que entre outras coisas chegou a interpretar versões de Stevie Wonder — “Eu Só Liguei Para Dizer Que Te Amo”. Em 1988, ambos venceram o Festival da Canção de Lisboa, com o tema “Lisboa Nunca Esquece”.
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Depois da separação de Noémia Costa, Licínio França, sem oportunidades de trabalho, chegou a viver na rua, na zona dos Restauradores, em Lisboa, contou o próprio à revista TV 7 Dias em 2008, numa altura em que já estava a receber a ajuda da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, a viver num quarto alugado e a fazer duas refeições por dia na Sopa dos Pobres.
Depois de as condições de vida do ator terem sido reveladas pela publicação, gerou-se uma onda de solidariedade, encabeçada por Manuel Luís Goucha, através do programa Você na TV!, que acabou por devolver Licínio França ao pequeno ecrã — foi-lhe oferecido um papel na novela Flor do Mar, da TVI, o último da sua vida.
Depois de ter estado de relações cortadas com a filha, a também atriz Joana França, o ator ter-se-á reconciliado com ela durante os últimos anos, escreveu em 2019 a mesma revista, dando conta da sua doença. Nessa altura, Licínio França estaria a viver num lar, em Odivelas, e seria já incapaz de tomar decisões por si mesmo — João André, o filho mais velho, de uma anterior relação, seria o seu tutor legal.
Ao longo de várias décadas de vida pública, a atriz Noémia Costa foi revelando, em entrevistas, detalhes sobre a sua relação com o ator, que terá envolvido traições e até episódios de violência doméstica. Em 2019, em entrevista ao programa da SIC Alta Definição, questionada sobre se teria sido vítima de agressões por parte do ex-marido, a atriz respondeu assim: “Sim, infelizmente. Mas eu, sem dúvida alguma, acho que fizemos uma obra-prima fantástica e eu continuo a gostar muito do Licínio. Tenho o maior respeito por ele, é o pai da minha filha”.
Ministra da Cultura lembra “figura marcante dos ecrãs portugueses”
Num comunicado emitido este domingo de manhã, a ministra da Cultura lamentou profundamente a morte do ator, cantor e compositor, “figura marcante dos ecrãs portugueses”. “Nas personagens a que deu vida, tal como nas músicas que compôs, Licínio França foi sempre um autor e intérprete comprometido com a criação artística”, salientou Graça Fonseca.
