Estará na calha a criação de uma vacina “europeia”? Por enquanto, esta é uma pergunta sem resposta certa. Desenvolvimentos recentes têm dado pistas sobre aquilo que poderá estar reservado para um futuro próximo. Nesta quarta-feira foi anunciada, por exemplo, uma parceria entre o grupo farmacêutico britânico GlaxoSmithKline (GSK) e a empresa de biotecnologia alemã CureVac que tem como objetivo a criação de uma nova vacina contra o coronavírus com potencial para combater as múltiplas variantes da Covid-19 já identificadas. Uns dias antes, a Bayer e a mesma CureVac também já tinha anunciado um acordo de produção para a vacina ainda por aprovar da empresa alemã.

Covid-19. Bayer vai produzir vacina desenvolvida pela CureVac

Os atrasos no fornecimento da inoculação da anglo-sueca AstraZeneca estão a ser o principal potenciador desta ideia de uma vacina comum que se surgir, como diz o El País, muito provavelmente virá da Alemanha, o país da União Europeia com maior mercado farmacêutico e o quarto do mundo — soma, no total, mais de 500 empresas farmacêuticas, entre as quais a gigante Merck, que movimentou cerca de 46,5 milhões em 2019. O principal impedimento para a criação desta vacina, porém, é o facto de nenhuma dessas empresas, por exemplo, ter a patente das vacinas contra a Covid-19 já em circulação ou a licença oficial para as produzir. 

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Neste momento, a vacina da CureVac não deixa de ser a grande esperança europeia para uma inoculação mais rápida e eficiente — apesar de estar ainda em desenvolvimento, espera-se que até ao fim do ano receba o “ok” das autoridades reguladoras e forneça cerca de 300 milhões de doses. A Curevac, cuja vacina Donald Trump tentou sem sucesso comprar exclusivamente enquanto ainda estava em testes clínicos, planeia produzir 600 milhões de doses até 2022, número que pode chegar aos mil milhões caso a sua rede de produção se consiga expandir (algo que foi facilitado pelo tal acordo com a Bayer).

Por enquanto ainda não se sabe ao certo quando é que a vacina da CureVac estará disponível e também se desconhece a sua percentagem de eficácia. Sabe-se sim que mal tudo isso seja resolvido e esclarecido, os frascos da CureVac serão os primeiros a serem produzidos inteiramente por empresas sediadas na UE.

A igualmente alemã BioNTech tem a fórmula da sua vacina, mas a produção, o marketing e a distribuição estão nas mãos de seu parceiro nos Estados Unidos, a Pfizer. A segunda vacina a ser aprovada, a da Moderna, é norte-americana e a anglo-sueca AstraZeneca não é uma solução muito confiável porque o Brexit mudou muita coisa.

Especialistas em economia e finanças, contudo, relembram que esta corrida às vacinas é disputada entre entidades privadas, negócios que têm como objetivo o lucro e não são “organizações humanitárias sem fins lucraivos”, como explica ao El Mundo o presidente do Instituto de Pesquisa Económica e da Federação Financeira Mundial, Clemes Fuest.  Na opinião de Fuest, os atrasos na entrega de vacinas devem-se a contratos mal feitos pela UE (deviam incluir prémios de celeridade e penalizações por atrasos).

Em contraponto, a esquerda europeia vai mais longe ao afirmar que os governos ou entidades equiparáveis devem tornar o licenciamento público e obrigatório, alegando razões de saúde pública, iniciativa que se enche de barreiras legais e não só: uma patente é um ativo intangível da empresa que a possui e usá-la sem a sua aprovação seria uma espécie de expropriação.

É por isso que neste momento as atenções dos europeus estão viradas para a CureVac e aquilo que ela conseguirá fazer. Não sobram dúvidas, porém, de que a “guerra das vacinas” chegou para ficar.