O primeiro-ministro indigitado italiano, Mário Draghi, deu esta quinta-feira início às consultas políticas para a formação de um Governo, tendo recebido já “luz verde” de Sílvio Berlusconi (Força Itália), enquanto o antecessor, Giuseppe Conte, lhe pediu um executivo político.

O ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) foi encarregue pelo chefe de Estado italiano, Sérgio Mattarella, de formar um novo executivo, depois de Conte ter apresentado a demissão na sequência da saída da coligação governamental do partido de Matteo Renzi, também um ex-primeiro-ministro e líder do Itália Viva (IV).

Draghi, a quem Mattarella pediu um Governo de emergência para pôr fim à crise política em plena pandemia de Covid-19, já assegurou alguns apoios de algumas das principais forças políticas representadas no Parlamento, mas o Movimento 5 Estrelas (M5S, antissistema até à chegada ao poder no Governo de Conte e que conta com cerca de um terço dos senadores e dos deputados), está longe da adesão à causa.

O primeiro-ministro cessante, apoiado apenas pelo M5S, de quem é próximo, sem ser, contudo, militante, e o Partido Democrata (PD, centro-esquerda) não chegaram a um consenso para formar um novo governo e Conte já disse, após o pedido de Mattarella a Draghi, que “não será um obstáculo” para o futuro chefe do executivo italiano, desejando-lhe “boa sorte e coragem”.

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A tarefa do economista será difícil, tendo em conta que Itália está a ser assolada pela pandemia de Covid-19, que já provocou quase 90.000 mortes, e que o futuro Governo terá de apresentar, até ao fim de abril, o plano de relançamento da economia do país, em recessão, com a importante ajuda financeira da União Europeia (UE).

Segundo o diário La Stampa, Draghi está confrontado com um “puzzle”: o PD e a Itália Viva estão prontos a apoiá-lo, bem como os conservadores do Força Itália, de Berlusconi e de algumas forças adicionais à esquerda e no centro.

Mas o também antigo governador do Banco de Itália precisará igualmente da abstenção, se não mesmo do apoio, do principal partido da oposição, a Liga (extrema-direita), de Matteo Salvini, cujo posicionamento, bem como o do M5S, será crucial, face ao importante número de eleitos para as duas câmaras italianas.

Esta quinta-feira, Berlusconi, após uma reunião com Draghi, manifestou o apoio ao primeiro-ministro indigitado, considerando que “a tarefa vai ao encontro do caminho” defendido pela Força Itália, sublinhando tratar-se de uma personalidade com um alto perfil institucional” em torno de quem “se pode tentar congregar os melhores talentos do país”.

O já três vezes primeiro-ministro italiano foi mais longe e convidou todos os partidos a apoiarem a proposta de Mattarella, tendo em conta a crise pandémica.

Segundo os cenários apresentados esta quinta-feiar pelo La Stampa, e tendo por base o número de deputados de cada partido, não haverá Governo de Draghi se a Liga e o M5S se opuserem em conjunto. Em sentido inverso, o apoio de um dos dois partidos será suficiente para o nascimento de um novo executivo.

Mesmo depois de ter deixado de lado a sua vertente radical após a chegada ao Governo de Conte, o M5S nasceu como um partido de luta contra as elites, tornando-se “politicamente delicado” aprovar uma personalidade que foi um dos principais visados no combate político no passado.

A Itália espera receber a “parte de leão” — cerca de 200 mil milhões de euros — do fundo de relançamento económico da UE, mas terá de apresentar até ao fim de abril, em Bruxelas, um plano de despesas pormenorizado.

Se Draghi não conseguir encontrar uma maioria parlamentar, ou se não obtiver a confiança do Parlamento após assumir o cargo, o cenário de eleições antecipadas será tido em conta.

Porém, Mattarella, o único capaz de provocar eleições antes do final do mandato da legislatura, em 2023, já deixou claro na terça-feira que quer evitar uma votação antecipada a meio de uma crise económica e sanitária.