Quando é que Portugal vai poder olhar para os números da pandemia e “respirar de alívio”? “Quando tivermos menos de 3 mil casos às quartas e quintas-feiras, duas ou três semanas de seguida, com o RT [índice de transmissibilidade] inferior a 0,7 e menos de 270 doentes internados em medicina intensiva“, responde João Gouveia, coordenador do Grupo de Resposta em Medicina Intensiva.
Assim que essas metas forem alcançadas, “isso quer dizer que conseguimos dar resposta a nível nacional à doença Covid e não-Covid em termos de medicina intensiva”, esclareceu o médico numa conferência de imprensa conjunta com responsáveis da equipa médica militar alemã — que começaram esta segunda-feira a trabalhar no Hospital da Luz.
Apesar de estar “otimista”, para já, no entanto, João Gouveia considera que os números ainda são “preocupantes”, porque Portugal atravessa uma “fase difícil, com muitos doentes hospitalizados”.
O boletim diário da Direção Geral da Saúde, divulgado esta segunda-feira, mostra que nas últimas 24 horas foram confirmados mais 2.505 novos casos e 196 óbitos em Portugal, mas que o número de internamentos voltou a subir, para 6.344 pessoas internadas, das quais 877 em unidades de cuidados intensivos.
“Tenho a certeza absoluta que a Alemanha não faz nada melhor do que Portugal”
Na mesma conferência de imprensa, Jens-Peter Evers, chefe da equipa médica que está a ajudar Portugal no combate à Covid-19, elogiou os colegas portugueses, dizendo que Portugal está a fazer o que pode face às novas estirpes do SARS-COV-2. “Tenho a certeza absoluta que Portugal não está a fazer nada de errado. E tenho a certeza absoluta que a Alemanha não faz nada melhor do que Portugal”, garantiu.
“Acho que é uma questão que tem que ver com o vírus — com a nova variante aqui”, porque “o tipo de tratamento dos pacientes é igual em Portugal do que na Alemanha”.
Jens-Peter Evers agradeceu a cooperação do Governo, dos militares e do Hospital da Luz, dizendo mesmo mostrar-se surpreendido com as condições que encontrou. “É absolutamente perfeito o que encontrámos aqui, as melhores condições. Não esperava ter tão boas condições. Não podia ser melhor, a sério”, elogiou durante a conferência de imprensa no Hospital da Luz.
O coronel responsável pela equipa médica militar alemã disse que o objetivo “é ficar três semanas” em Portugal, mas entende que “é absolutamente necessário ficar aqui o maior tempo possível”.
“O nosso objetivo é salvar vidas. É o melhor que podemos fazer. Espero que tenhamos obtido experiência depois disto, que aprendamos todos os dias e que salvemos tantas vidas quanto possível”, acrescentou.
Desafiado pela imprensa internacional, o chefe da equipa médica do exército alemão deixou ainda uma mensagem aos seus compatriotas: “A minha mensagem para os meus colegas alemães e para a sociedade alemã é que é bom estarmos aqui. A sociedade portuguesa está muito agradecida e cada vida conta. Todas as vidas contam”, referiu.
Os responsáveis da equipa alemã sublinharam ainda que a comunicação com os médicos portugueses, feita em inglês, está a funcionar bem, e adiantaram que estão a tentar aprender algumas frases em português para que funcione ainda melhor.
“Ainda existe mais que podemos expandir, mas a capacidade é diminuta”
Numa altura em que o Serviço Nacional de Saúde ainda está sob grande pressão, até que ponto é que Portugal conseguirá aumentar a capacidade para tratar os doentes mais graves?João Gouveia responde que a corda ainda pode esticar, mas não muito mais, porque o SNS está “muito perto da expansão total da Medicina Intensiva”.
“Ainda existe mais que podemos expandir, mas a capacidade é diminuta. Temos problemas de espaço, mas principalmente de recursos humanos”, diz o responsável. “Faltam intensivistas e, principalmente, enfermagem — e isso limita a nossa capacidade de expansão”.
Em todo o caso, João Gouveia lembra que foi feito um caminho, tendo em conta que antes da pandemia, em janeiro do ano passado, havia 649 camas nos cuidados intensivos e que, neste momento, Portugal mais do que duplicou esse número. A capacidade já foi, entretanto, aumentada em mais 200 camas.
Questionado se será necessário enviar doentes para o estrangeiro, aproveitando as diferentes ofertas de ajuda que Portugal recebeu, o coordenador do Grupo de Resposta em Medicina Intensiva esclareceu que as “várias propostas” de ajuda internacional estão a ser “estudadas”, mas que neste momento, não se justifica tomar essa decisão.
“Estou convencido de que com a resposta que conseguimos montar, não vamos precisar de enviar doentes para o estrangeiro. Acho que é um esforço gigantesco de todo o sistema de saúde português e, com isso, espero não ser necessário recorrer a essas ajudas”, afirmou, acrescentando, contudo, que, “até meados de abril, vamos precisar” de considerar esse apoio externo.
Apesar disso, realçou que a ajuda internacional “não é a solução”, mas sim um “último recurso”. “O foco é a expansão da Medicina Intensiva, o combate à pandemia, fazer descer a curva, diminuir os internamentos e a pressão na Medicina Intensiva”, explicou.